O italiano Umberto Eco no seu livro "Travels in Hyperreality" de 1983 (no Brasil, “Viagens na Irrealidade Cotidiana”) fez uma série de observações extremas que, três décadas depois foram confirmadas e, em alguns casos, até superadas: imitações e réplicas ficarão tecnologicamente superioras à própria realidade a tal ponto iriam contaminar o real e a História. Isso Umberto Eco verificou no mundo dos museus e do turismo, mas é na TV que essa tendência seria mais dramática: de janela aberta para o mundo e testemunha ocular da História, a TV se transformaria em uma entidade autista e em um aparato criador de realidades: os chamados "eventos-encenação".
Ao lado do norte-americano Daniel Boorstin (discutido na
postagem anterior), o escritor e semiólogo italiano Umberto Eco foi um dos
primeiros teóricos da simulação. Nos anos 70 Eco empreendeu uma excursão pelos
EUA para obter, em primeira mão, um olhar para as imitações e réplicas que
estavam expostas em museus e parques temáticos e turísticos no país. O
resultado foi uma série de ensaios que resultou no livro clássico “Travels in
Hiperreality”.
Lendo hoje, percebemos no trabalho uma estranha qualidade: a combinação de filosofia pós-moderna com o estilo das colunas de turismo dos
jornais de final de semana, porém, cheio de descrições sardônicas.
Desempenhando o
papel simultâneo de crítico cultural e guia turístico, leva o leitor através da paisagem
americana que, ele diz, estaria recriando uma falsa História, uma falsa arte,
natureza e cidades. Ao longo do caminho, ele
examina uma reprodução do Salão Oval do ex-presidente Lyndon Johnson, e passa
por uma reconstrução do laboratório de uma bruxa medieval, onde gritos gravados
do que parecem ser de bruxas na fogueira podem ser ouvidos ao fundo. Ele visita museus de cera onde
obras de arte são recriadas e, muitas vezes, reinventadas de forma inesperada,
resultando em mutações culturais como uma estátua de cera da Mona Lisa e uma cópia
da Vênus de Milo "restaurada", com braços.
O mais notável nesses ensaios é que, três décadas
depois de publicados, muito das suas observações extremas foram confirmadas e,
em alguns casos, superadas.
O melhor exemplo é o do ensaio “Televisão: a
Transparência Perdida” onde cria dois conceitos hoje clássicos na Teoria da
Comunicação – Paleotevê e Neotevê.