terça-feira, julho 28, 2015

Em Observação: "Cosmodrama" - A metafísica no espaço

Sete astronautas despertam do sono criogênico em uma estranha espaçonave que parece ter saído de alguma série sci fi dos anos 1960. Eles não sabem qual o propósito de estarem ali, de onde vieram e para onde vão, e a nave parece funcionar automaticamente Essa é a premissa do filme francês “Cosmodrama” (2015), uma tragicomédia com uma evidente alusão sobre a condição humana nesse planeta. Estreou esse ano no Festival Internacional de Rotterdam e a crítica especializada vem definindo o filme como “a metafísica no espaço”. A cada cena, a tripulação tenta formular teorias físicas, religiosas, filosóficas ou semióticas sobre a natureza da espaçonave onde estão prisioneiros. Por isso, “Cosmodrama” tem um evidente sabor gnóstico.


Título: Cosmodrama

Diretor: Philippe Fernandez

Plot: Sete astronautas despertam do sono criogênico em uma nave espacial e percebem que também estão acompanhados por cães e macacos congelados. Ao despertar também percebem que perderam suas memórias sobre de onde vieram, qual o propósito daquela nave espacial e para onde estão indo. E a nave parece ser programada a funcionar automaticamente, impedindo qualquer intervenção dos tripulantes.

Por que está “Em Observação”? – Premiado em Cannes em 2008 com seu filme de estreia A Faint Trembling of the Landscape, Philippe Fernandez lançou seu segundo filme, Cosmodrama, esse ano no 44o Festival Internacional de Cinema de Rotterdam.

Assistindo ao trailer dessa tragicomédia, percebemos que o filme tem uma evidente estética retro: parece que estamos na espaçonave Enterprise do capitão Kirk da série de TV Jornadas nas Estrelas na década de 1960. Ou estamos no futuro? Além disso, Cosmodrama não apresenta ao espectador nenhum dos elementos icônicos que atualmente dominam o gênero ficção-científica: efeitos especiais, conflitos com aliens ou personagens que lutam pela sobrevivência até o final.


Ao contrário, o que temos a cada cena são diálogos sobre teorias metafísicas, filosóficas, semióticas etc., sobre as relações do homem com o universo, mas, ao mesmo tempo,  desconstrói a tradicional solenidade da forma como o gênero cinematográfico trata esses temas. E para tanto, a tripulação é formado por um curioso conjunto de especialistas: o astrônomo, o repórter, a psicóloga, a bióloga, o semiólogo, o físico.

Além de diretor de cinema, Philippe Fernandez é professor de Arte Contemporânea na Universidade de Bordeaux, França. Realidade que certamente está por trás das alusões com evidente apelo gnóstico: a jornadas dos sete astronautas faz uma alusão ao homem abandonado por Deus, largado em um cosmos aparentemente vazio onde tentam preenche-lo com as mais diversas filosofias e teorias, da Ciência até a Religião – de diálogos sobre a natureza dos buracos negros a discussões sobre o Cristianismo e a Crucificação de Cristo.

Mas a própria condição em que os astronautas despertam, é uma alusão à visão pessimista que o Gnosticismo faz da reencarnação: sucessivas reencarnações onde a cada despertar esquecemos da vivencia anterior, sendo condenados a recomeçar sempre do zero e passando a vida inteira tentando recuperar a lembrança do que se perdeu por meio da Ciência e da Religião. A reencarnação como um ciclo vicioso que nos manteria prisioneiros a esse cosmos – filmes como Quero Ser John Malkovich já exploraram essas analogias – sobre isso clique aqui.

O Cinegnose coloca esse filme “Em Observação” (e por isso, ansiosamente à espera por um release em torrent) pela expectativa de Cosmodrama ser uma produção CosmoGnóstica, isto é, de fazer parte de conjunto de filmes gnósticos atuais como Show de Truman ou Matrix onde os protagonistas aparecem como prisioneiros em um mundo artificialmente criado por um Demiurgo – e aqui em Cosmodrama parece ser a espaçonave que funciona automaticamente para um destino ignorado pela tripulação que, impotente, limita-se apenas a fazer conjecturas. Seria essa a condição humana no planeta Terra?



O que esperar? -  A crítica especializada vem definindo Cosmodrama como “a metafísica no espaço”. Mas não em um sentido aparentemente solene – o termo “metafísica” sempre parece dar um ar de seriedade a qualquer produção. Bem diferente disso, os intermináveis diálogos das cenas são irônicos, sempre procurando desconstruir não apenas a Ciência e a Religião como a própria estética do gênero ficção científica, com uma linguagem propositalmente retro e pastiche.


Para o Cinegnose, uma proposta cinematográfica como Cosmodrama é bem vinda, principalmente no cenário europeu dominado por filmes sobre o “humano demasiado humano” – filmes sérios e profundos sobre as imperfeições e pecados humanos. Ao contrário, filmes com inspiração gnóstica como esse invertem a discussão: o pecado e a imperfeição não estão no homem, mas em um cosmos feito por alguém que não nos ama.

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