sexta-feira, setembro 30, 2016

Branca de Neve e a mídia em "Blancanieves y Los 7 Enanitos Toreros"


Como recontar nos tempos atuais a velha estória da Branca de Neve dos Irmãos Grimm? Paradoxalmente, o diretor espanhol Pablo Berger optou narrar o conto clássico através de um filme mudo e em preto e branco. E mais: ambientada na década de 1920 do século passado. Mas com uma forte atualidade: é a década do surgimento da cultura da celebridade onde a madrasta má não tem inveja da Branca de Neve pela sua beleza. Mas porque se tornou uma toureira que ocupa mais espaço nas colunas sociais do que ela, uma celebridade fútil e vazia. “Blancanieves y el 7 Enanitos Toreros” (Branca de Neve e os 7 Anões Toureiros, 2012) é a mais surpreendente adaptação do velho conto cujo modelo atual acabou sendo a versão da Disney de 1937. Mas Pablo Berger cria uma versão mais cáustica, transitando entre o humor negro e a tragédia – como a inocência de Branca de Neve se perde na evolução da indústria do entretenimento, dos “freak shows” do século XIX para a cultura das celebridades atual.

terça-feira, setembro 27, 2016

Coleção "Curta da Semana" do Cinegnose: o Gnóstico, o Estranho e o Surreal



No ano passado o "Cinegnose" iniciava a sessão "Curta da Semana". A ideia era celebrar a presença do Surreal, do Gnóstico, do Estranho no universo das produções em curta metragem. Esse gênero de filme vem se tornando verdadeira incubadora de novos diretores, roteiristas, e teasers para futuros filmes. Um tipo de produção que permite liberdade em experimentar novos temas, estéticas, linguagens e efeitos especiais. Visite a Coleção com, até agora, 40 curtas com atualizações semanais.



1 - "Puppets" - Eu sou aquilo que não penso? - clique aqui



2 - "Life and the Mirror" e "Goodbye" - Perdemos a fé na vida pós-morte? - clique aqui



3 - "The Horribly Slow Murderer With The Extremely Inefficient Weapon" - a colher e a gota chinesa - clique aqui



4 - "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche - clique aqui



5 - "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade - clique aqui



6 - "Getting Fat in the Healthy Way"- a Terra, a Lua e a obesidade - clique aqui



7 - "O Homem na Multidão" - Allan Poe se encontra com Física Quântica - clique aqui



8 -"Gnosis" - Monstros, bebês e Gnosticismo - clique aqui



9 - "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais - clique aqui



10 - "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores - clique aqui


MAIS CURTAS
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domingo, setembro 25, 2016

A agenda secreta da reforma do ensino: o analfabetismo visual


Depois da divulgação da Medida Provisória que “flexibiliza” disciplinas do Ensino Médio como Artes e Educação Física o Ministério da Educação tentou explicar dizendo que não era bem assim, depois de forte reação de educadores e pedagogos. Mas está claro: não basta apenas o golpe político. É necessária uma operação psicológica para anestesiar as outras amargas “flexibilizações” que serão proximamente enfiadas goela abaixo da sociedade. Uma operação para manter um sistema de comunicação projetado pela ditadura militar e mantido até hoje – a concentração das informações para a opinião pública exclusivamente nas mídias audiovisuais, especialmente a TV. Para isso é necessária a manutenção do analfabetismo visual: a crença ingênua de que ver é um ato natural e fisiológico, impossibilitando a educação do olhar e a percepção das intencionalidades por trás das mensagens visuais. “Flexibilizar” as disciplinas Arte e Educação Física mostra  que o “núcleo duro” de Poder, persistente há décadas na política brasileira, não brinca em serviço. Sabe o que faz: o olhar e a autoconsciência corporal estão conectados através da “propriocepção”, a base da alfabetização visual.

sexta-feira, setembro 23, 2016

Quando a morte é o único sentido para a vida em "Bridgend"


A cidade de Bridgend (no fundo de vales no sul do País de Gales) no passado sustentou o império britânico com o seu carvão, para depois ser esquecida pela História e pelo mundo. Até que, desde 2007, uma inexplicável onda de suicídios de jovens por enforcamento (79 mortes até hoje) tomou conta da região. Para a mídia, tornou-se a “cidade da morte” e seus jovens estigmatizados. O filme Bridgend (2015) do dinamarquês Jeppe RØnde baseia-se nesse caso misterioso: uma adolescente retorna para Bridgend junto com seu pai, um policial que investiga a causa da onda de suicídios. Um culto suicida na Internet? Efeito copycat motivado pelo sensacionalismo como a mídia trata o assunto? Efeito no sistema nervoso central das ondas UHF do sistema de rádio de emergência da polícia do Reino Unido? Ou um acerto de contas dos jovens contra a civilização? - quando a existência fica vazia, a morte pode se tornar o único sentido para a vida. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, setembro 20, 2016

O estranhamento gnóstico de "Eraserhead" de David Lynch


Considerado o mais influente dos filmes cult, clássico do chamado “Cinema da Meia-Noite”, “Eraserhead” (1977) foi o filme de estreia na carreira do diretor David Lynch. Num mix de terror gótico, surrealismo e humor negro, o filme manteve os seus mistérios simbólicos ao longo dos anos. Embora se baseie em um simples plot (a namorada engravida e leva seu namorado para que seus pais o conheçam), os cenários alucinatórios, o design de som hipnótico e uma das melhores fotografia em PB da história do cinema fazem desse filme o fundador do tema que acompanhará David Lynch por toda a carreira: por mais banal que pareça a realidade, nosso psiquismo a interpreta por meio de sonhos, pesadelos e alucinações que criam uma relação de estranhamento com o mundo. Mas alguém controla essa realidade, e não somos nós. Para chegarmos a esse Demiurgo, somente através do conhecimento dos mecanismos do psiquismo. Por isso, “Eraserhead” tem um evidente sabor gnóstico.

domingo, setembro 18, 2016

Curta da Semana: "ANA" - o apocalipse da inteligência artificial


Um fábrica de automóveis em Detroit, totalmente automatizada, é controlada por uma Inteligência Artificial chamada ANA, cujo software também está presente nos setores mais importantes do mundo como recursos médicos, alimentos e bancos. Mas ANA parece ter outros planos, além do que fazer tarefas repetitivas – não quer mais produzir mais carros, mas alguma outra coisa que pretende liberar naquela fábrica em Detroit para o mundo. E o único operador humano responsável pela produção será traído por ANA. Esse é o curta “ANA” (2015) do estúdio inglês Factory Fifteen, especializado em produzir filmes distópicos nos quais explora uma versão particular do conceito de “singularidade” – algum momento no futuro a supercomputadores produzirão o acidente terminal: o momento no qual a máquina trairá o próprio criador.

sábado, setembro 17, 2016

PowerPoint nos torna estúpidos?


O programa Excel produz “cabeças de planilha”. E o PowerPoint produz o quê? Uma pequena amostra foi dada na delação-show protagonizada pelo procurador Deltan Dallagnol ao dizer: “provas são fragmentos da realidade que geram convicção”. O PowerPoint invadiu a estrutura mental, de decisão e compreensão da realidade. A princípio, qualquer coisa pode ser “bullet-izabel” (“itemizável”). É a pré-formatação da realidade, uma verdadeira estrutura de decomposição do real. Tão fragmentadas e genéricas como as supostas provas contra o “general do maior esquema de corrupção da História”. O PowerPoint se expandiu a todos os setores da sociedade, das empresas ao Estado e à escola onde alunos vão deslizando o olhar por tópicos através dos quais o efeito de conhecimento se confunde com o próprio conhecimento. Cria a linguagem powerpointiana: ilusão, simplificação, distração e anestesia.

quinta-feira, setembro 15, 2016

O enigma Cicada 3301 e a filosofia "I Did It!": uma nova Matrix?


Considerado por muitos o maior mistério não resolvido da Internet, “Cicada 3301” consiste num conjunto de quebra-cabeças lógicos envolvendo criptografia e esteganografia publicados na Internet desde 2012 com o suposto propósito de uma misteriosa organização recrutar as pessoas mais inteligentes do planeta. Mas para quê? CIA? NSA? Uma Sociedade Secreta? O fato é que vem mobilizando uma massa de jovens gênios matemáticos que tentam resolver um labirinto de enigmas dentro de enigmas. Lembra a aventura de Alan Turing em decifrar a máquina Enigma dos nazistas, porém sem o heroísmo e glória do passado. Hoje, apenas um sintoma da filosofia minimalista do “I did It!” (“Eu consegui!”) na cultura atual – lógica fetichista de delírio no vazio e exaltação de uma façanha sem consequência. Se isso for verdade, Cicada 3301 pode ser uma armadilha: gênios matemáticos entregando o “modus operandi” hacker ativista como Big Data para a futura Matrix. Uma Internet recém-senciente, como uma gigantesca IA, ávida em prever cyber-ataques de possíveis dissidentes.

segunda-feira, setembro 12, 2016

Os ataques de 11 de setembro foram os primeiros não-acontecimentos transmídia do século XXI


Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes: Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o 09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis “spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias “Star Wars” ou “Harry Potter”.

Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe virtual” (Jean Baudrillard)

domingo, setembro 11, 2016

O terror do passado assombra a vida doméstica em "O Espelho"


O gênero terror atual persegue uma fórmula básica: combinar os medos atávicos do horror clássico com os medos domésticos da vida cotidiana: o ladrão, a infidelidade, o abandono na infância, pais ausentes etc. “O Espelho” (Oculus, 2013) é um exemplo dessa combinação perfeita que consegue contornar os clichês do gênero – a história de um espelho assombrado por uma suposta força maligna que vem colecionando vítimas por séculos. Os medos de uma típica família de classe média são potencializados por um conjunto de simbolismos arquetípicos que povoa esse simples objeto doméstico – o medo do reflexo e seu duplo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sexta-feira, setembro 09, 2016

Quando o Brazil se encontra com o Brasil em "Brazil, O Filme"


Nesses dias em que o Brasil transformou-se em uma verdadeira república distópica, um bom filme para assistir é “Brazil, O Filme” (1985) de Terry Gilliam, integrante da trupe de humor inglês Monty Python. Gilliam criou uma nova versão de “1984” de George Orwell: um sistema totalitário obcecado pela posse de informações numa sociedade onde pessoas e coisas estão totalmente interligadas por dutos, tubos e canos. O filme vislumbrou 31 anos atrás a vigilância e totalitarismo das redes de informação atuais e a dissidência de hackers – aqui representado por “encanadores” free-lancers, considerados dissidentes terroristas. Direitos individuais inexistem e qualquer um pode ser condenado e executado através de “provas” recolhidas pelo Ministério da Informação. Alguém pode ser morto por engano, mas tudo foi feito com “boa-fé”. Em tempos onde policiais federais aparecem na mídia como heróis hollywoodianos, “Brazil, O Filme” torna-se amargamente atual.  

quarta-feira, setembro 07, 2016

Por que a "Folha" também tornou-se tautista?


Em seu editorial “Fascistas à Solta” de 02/09 o jornal "Folha de São Paulo" exige a repressão mais dura aos “fanáticos por violência”, jovens desarmados que insistem em gritar “Fora Temer” nas ruas.  Como explicar um jornal que um dia foi sintonizado com o espírito do seu tempo, quando deu visibilidade às “Diretas Já” e tornou-se modelo de modernização do Jornalismo, como pode a “Folha” terminar dessa maneira? Naquele momento jovens ocupavam as ruas exigindo eleições diretas. Por que hoje a mesma Folha, orgulhosa da “revolução gerencial da mídia brasileira” do "Manual de Redação", é incapaz de perceber o limiar de uma nova geração que também clama por eleições diretas? A Folha, no meio impresso, padece do mesmo mal da Globo, no meio audiovisual: o tautismo (autismo + tautologia). E a origem desse tautismo pode estar no próprio Projeto Folha iniciado em 1984 cuja contradição era confundir o conceito de opinião pública com uma relação privada de consumo com seus leitores.

segunda-feira, setembro 05, 2016

Curta da Semana: "Movie Mind Machine" - somos viciados em esquecer


Cansados de sempre buscar novos filmes que repitam o prazer dos filmes clássicos, dois fãs de cinema desenvolvem uma máquina que consegue escanear o cérebro e localizar as memórias específicas de cada filme assistido. A memória é apagada e o mesmo filme pode ser assistido de novo com o prazer da primeira vez. O mesmo filme pode ser assistido infinitas vezes, por toda a vida! Esse é o impagável curta “Movie Mind Machine” (2015), uma comédia em estilo mockumentary sobre a neuro-máquina que promete revolucionar o mercado audiovisual. O curta é uma crítica bem humorada da cultura atual retro e obcecada por nostalgia. Mas também suscita uma questão mais séria: como a cultura atual estimula o psiquismo do vício e do esquecimento, por meio da indústria de drogas, fármacos e sociedade de consumo, como mecanismos psíquicos de negação da realidade.

domingo, setembro 04, 2016

A gravidez é a alienação do sexo no filme "Antibirth"



Há um assustador subgênero dentro dos filmes de terror: protagonistas tomadas por uma assustadora gravidez que pode trazer dentro de si a própria semente do Mal. É um tema recorrente no cinema, passando por clássicos como “O Bebê de Rosemary”, “It’s Alive” ou, recentemente, “Prometheus”. Toda recorrência na produção cinematográfica significa a existência de algum imaginário ou arquétipo que procura expressão audiovisual. O independente “Antibirth” (2016) é mais um filme que se enquadra nessa temática onde a gravidez é representada como algo estranho e invasor, alienado da própria sexualidade. Tema que ganhou espaço no cinema paralelo à revolução sexual e o individualismo e narcisismo da sociedade de consumo. A gravidez se torna a alienação da sexualidade e a própria alienação de nós mesmos. Por isso, no estranho filme noir-psicodélico “Antibirth” pessoas alienadas de seus próprios desejos são candidatos perfeitos para algum estranho experimento.

sexta-feira, setembro 02, 2016

Impeachment, o não-acontecimento e a psico-história


Comparam a consumação do impeachment de Dilma Rousseff com as circunstâncias do golpe militar de 1964. Lá estavam a força de armas e coturnos. Aqui em 2016, todas as “data venias” dos rapapés de juízes, juristas e parlamentares. Mas os eventos são incomparáveis: lá em 1964 tivemos a tragédia de um evento histórico. Hoje, assistimos ao vivo pela TV a farsa de um “não-acontecimento” que simulou ser um evento histórico. Desde a seminal Guerra do Golfo em 1992, os não-acontecimentos dominam o horizonte de eventos das sociedades, seja por guerras, atentados terroristas ou golpes parlamentares. Em todos eles, um complexo jurídico-midiático inverte as relações de causa-efeito: não se trata mais de acontecimentos que geram informação, mas o inverso – a História transforma-se em “Psico-História”, para usar uma expressão de Isaac Asimov. Compreender os mecanismos dos não-acontecimentos é fundamental para uma ação política que vise não apenas ocupar as ruas. É urgente também ocupar o contínuo midiático que compreende a zona virtual de interface entre a mídia e a realidade. Lá estão estão os “agentes Smiths”  (repórteres e editores) a serem enfrentados por guerrilhas midiáticas.

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