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domingo, novembro 19, 2017

Hollywood abriu as portas para ocultismo e maldições com o filme "Incubus"


Os críticos consideram o filme “mais amaldiçoado da história do cinema”. Um filme que abriu as portas para o ocultismo e hermetismo em Hollywood numa década de “despertar místico e religioso” através das viagens alucinógenas do psicodelismo e estados alterados de consciência. O Filme “Incubus” (1966) foi dirigido e escrito por Leslie Stevens (criador da série de TV “Quinta Dimensão”) e protagonizado por William Shatner, um ano antes de viver o capitão Kirk da série “Star Trek”. Desde sua estreia, “Incubus” foi marcado por suicídios, assassinatos, falências, divórcio e incêndio. Tão amaldiçoado que o diretor tirou o filme de circulação e os negativos foram destruídos. Para em 1996 uma cópia ser encontrada na França e recuperada para relançamentos em VHS e DVD. E logo em seguida reiniciaram as “coincidências” fatais. Muitos pesquisadores em Sincromisticismo consideram Hollywood um “centro de recrutamento de médiuns”, manipulando voláteis e perigosas formas-pensamento e arquétipos do inconsciente coletivo. “Incubus” seria um caso exemplar.

O gnóstico pop David Bowie cantava na música “Scary Monsters (and Super Creeps)”, de 1980, na qual fazia uma espécie de acerto de contas com a sua geração psicodélica: “Ela abriu estranhas portas que jamais fecharemos novamente”.

E essas portas foram abertas na cultura pop durante a década de 1960, uma geração que tentou encontrar a felicidade, espiritualidade, sagrado e transcendência em regiões ocultas (e muitas vezes sombrias) do psiquismo através do acid rock e psicodelismo.

O que resultou numa década de despertar místico e religioso, trazendo de volta utopias primitivas e tribais e uma peculiar leitura Zen-taoísta de um misticismo da natureza combinado com impulso transcendentalista das viagens alucinógenas e estados alterados de consciência – presentes em três álbuns emblemáticos na época: Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles; Their Satanic Majesties Request, dos Rolling Stones; e The Pippers At The Gates of Down, o trabalho de estreia da banda Pink Floyd.

O filme Incubus (1965) foi um típico filme desse momento em que os produtores da cultura pop tentaram aproveitar o zeitgeist da década. Mas nesse caso particular, foi muito mais além do que um mero terror de entretenimento. Como disse a crítica na época, foi um filme “de ocultista para ocultistas”.

Escrito e dirigido por Leslie Stevens (criador da famosa série de TV A Quinta Dimensão) e contando ao seu lado com o ator William Shatner (um ano antes de se transformar no eterno capitão James T. Kirk da série Star Trek), Incubus pode ser considerado um caso exemplar de como o despertar místico de uma geração que combinou psicodelismo e misticismo, abriu aquelas estranhas portas a que Bowie se referia. E não conseguiram mais fechar.


A maldição de Incubus


Desde a premiere no San Francisco Film Festival em 1966, o filme foi cercado de tragédias envolvendo atores e a produção, chegando ao ponto do diretor tirar o filme de circulação. Ao longo dos anos os negativos originais e todas as cópias existentes acabaram se perdendo. Somente em 1996 foi descoberta uma cópia na Cinemathéque Français em Paris, a partir da qual foi criada uma versão restaurada para VHS e mais tarde em DVD.

Já na estreia, os primeiros problemas: a cópia exibida não tinha som. Outra teve que ser providenciada às pressas enquanto os espectadores do festival aguardavam impacientes.

Em 1966 a atriz Ann Atmar suicidou-se. No mesmo ano o ator Milos Milos (que interpreta a entidade incubus no filme) assassinou sua namorada e em seguida se matou. Mais tarde, a filha da atriz Eloise Hardt foi raptada e assassinada.

Os cenários em que foram rodadas muitas cenas do filme, incendiaram-se meses depois do lançamento. E a empresa que produziu Incubus faliu poucos meses depois da estreia em San Francisco.

Mais: o diretor divorciou-se da esposa na época do lançamento do filme. No ano em que a versão em DVD foi lançada, a terceira esposa de William Shatner (Nerine Kidd-Shatner) afogou-se em uma piscina.


O diretor Roman Polanski e a atriz Sharon Tate (que mais tarde seria sua esposa) estiveram presentes no lançamento. Polanski depois fugiria dos EUA acusado de ter relações sexuais com uma menor de idade. E ela foi assassinada brutalmente por uma seita de seguidores de Charles Mason, grávida de oito meses.

Depois de tudo isso todos envolvidos na produção evitam falar sobre o filme, principalmente o protagonista William Shatner.

O Filme


E para acrescentar a fama de um filme estranho, os atores do filme falam em Esperanto – língua criada no século XIX por Ludwik Zamenholf para ser uma segunda língua falada por todos os países, facilitando os intercâmbios culturais e comerciais.

O que só ajudou a criar em Incubus uma atmosfera surreal e sombria, em cenários desérticos em meio a grandes campos com construções quase abandonadas rodeado de florestas escuras, com uma bela fotografia em preto e branco.

A narrativa gira em torno de um poço, cujas águas supostamente teria propriedades milagrosas de cura. O que atrai pessoas de todas as índoles, mas principalmente egoístas e com a personalidade maculada por “fibras escuras da maldade”.

Atraída por essas mazelas humanas, encontramos Kia (Allyson Ames), um súcubos devota ao “Deus da Escuridão” – “sucubus”, lenda medieval sobre demônios de aparência feminina que invadiam os sonhos eróticos masculinos para lhes roubar energia vital.

Kia encarrega-se de servir o Deus da Escuridão atraindo homens desvirtuados e corruptos que procuravam as águas do poço, para mata-los, encomendando suas almas perdidas para o Inferno.

Porém, Kia é ambiciosa: para impressionar o Deus dos infernos, ela pretende vencer um desafio – dessa vez corromper uma alma pura e bondosa, apesar dos alertas da sua irmã e mentora Amael (Eloise Hardt): a bondade por ter forças perigosas e mortais para os súcubos.

O alvo então passa a ser um corajoso soldado herói de guerra chamado Marc (William Shatner) que, junto com sua irmã Amdis (Ann Atmar), vem em busca das águas milagrosas para recuperar-se das lesões dos campos de batalha.


Como as coisas não saem como planejadas (as forças da bondade de Marc são quase fatais para Kia) invocam a presença de um Íncubo, espírito masculino especializado em seduzir mulheres para seduzir a irmã de Marc para dar início a uma batalha pelas almas dos mortais.

A partir daí, Incubus cada vez mais conduz o espectador a um universo surreal com icônicas súcubos (loiras geladas e elegantes caminhando pelas praias em busca de almas mortais), seres do além saindo de sepulturas, cenas violentas de estupros e sequências oníricas como as de um bode demoníaco em uma igreja.

Mas certamente a sequência mais perturbadora seja a da invocação do súcubos, com planos muito mais sugestivos do que explícitos ao estilo do horror gótico do expressionismo alemão – silhuetas de um corpo numa forca ao lado de sombras de uma criatura com asas.

Tudo isso embalado por uma trilha musical hipnótica, cuja pontuação das cenas lembra bastante do estilo das velhas séries Além da Imaginação e Quinta Dimensão.


Explosiva combinação sincromística


Para espectadores atuais, acostumados com filmes nos quais o medo e o horror genuínos foram substituído pelos sustos dos efeitos especiais gore, Incubus revela essa dimensão assustadora do horror criado pela sinergia entre trilha sonora, os sombrios contrastes da fotografia preto e branco e uma massiva simbologia ocultista e hermética apenas sugerida – o que aumenta ainda mais o sentimento do horror diante do bizarro, excêntrico e estranho.

Como um clássico conto fantástico, cada plano e sequência do filme é carregado de arquétipos e símbolos religiosos e ocultos. De alguma forma, o diretor Leslie Stevens conseguiu fazer uma explosiva combinação sincromística.

“Os pensamentos são coisas”, diz um antigo aforismo oriental. Se isso for verdade, passam a ser compreensíveis estranhas “coincidências” que cercam filmes que exploraram arquétipos e formas-pensamento psiquicamente “pesadas”: Batman: O Cavaleiro das Trevas, O Exorcista, Superman, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus etc. – sobre isso clique aqui.

Estranhas morte prematuras de atores e celebridades e as lendas sobre filmes “amaldiçoados” seriam a camada narrativa mais superficial desse lucrativo negócio que explora o magma do inconsciente coletivo (arquétipos e formas-pensamento) e que muitas vezes o resultado pode ser considerado imprevisível, com mortes acidentais ou eventos que se transformam em verdadeiros rituais públicos de sacrifícios.


Pesquisadores em Sincromisticismo mais enfáticos como Jason Horsley falam de forma direta que Hollywood é um “centro de recrutamento de médiuns” – indivíduos com personalidades fragmentadas, ideais para canalizarem e darem vida a formas-pensamento. O que confere performances “espontâneas” a filmes (que, por isso, tornam-se “cults”). Mas que nofinal criam pesadas egrégoras que, em contato com o nosso mundo ordinário, podem ter efeitos incontroláveis.

Produções culturais que no final se revelam como “símbolos esotéricos codificados dentro de espetáculos midiáticos ou rituais” - HOFFMAN, Michael, Secret Societies and Psychological Warfare, 2001.

Por isso, Incubus criou essa fama entre os cinéfilos de ser o “filme mais amaldiçoado da história do cinema”. Um filme que abriu as portas para o oculto e o hermético em Hollywood cuja exploração, ao longo das décadas, tornou-se mais sistemática, metódica e profissional, mantendo o quanto possível os efeitos sob controle.

Mas ocasionalmente, ocorrem acidentes fatais, como o que envolveu o ator Heath Ledger após dar vida às sombras arquetípicas do palhaço do crime, o Coringa em Batman, e o simbolismo do “Enforcado” do Tarot no filme O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus.


Ficha Técnica 

Título: Incubus
Diretor: Leslie Stevens
Roteiro: Leslie Stevens
Elenco:  William Shatner, Allyson Ames, Eloise Hardt, Milos Milos, Ann Atmar
Produção: Contempo III Productions
Distribuição: Turner Classic Movies
Ano: 1966
País: EUA

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