Mostrando postagens com marcador Filme Religioso. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Filme Religioso. Mostrar todas as postagens

domingo, junho 09, 2019

O guia do mochileiro do após morte no filme "Bardo Blues"


Inspirado no "Livro Tibetano dos Mortos" (uma espécie de guia do mochileiro pós-morte na sua jornada de elevação da consciência espiritual), o filme “Bardo Blues” narra as desventuras de um protagonista no momento decisivo da quebra das ilusões dos padrões cármicos no qual o conteúdo da mente é projetado, tornando-se visível como um sonho. Um mochileiro vaga pelas ruas de uma cidade na Tailândia fugindo do passado e em busca da sua mãe que inexplicavelmente o abandonou na infância. “Bardo Blues” narra o despertar espiritual de alguém que busca consolo e entendimento na cultura Oriental. Porém, tudo que encontrará serão rupturas traumáticas que questionarão quem ele na verdade é, de onde veio e para onde está indo. Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken. 

quarta-feira, novembro 15, 2017

A fé em um mundo sem Deus no filme "Entre o Bem e o Mal"




“Entre o Bem e o Mal” (“Adams Æbler”, 2005), comprova a tese de que os melhores filmes religiosos no cinema foram feitos por ateus. Escrito e dirigido pelo dinamarquês Anders Thomas Jensen, é uma tragicomédia de humor negro sobre um neonazista condenado a prestar serviços comunitários em uma remota igreja no campo. Lá encontra um padre cuja fé é baseada em um patológico otimismo de negação da realidade, e dois ex-presidiários: um muçulmano que continua roubando postos de gasolina à noite e um ex-jogador dinamarquês de tênis profissional, alcoólatra e cleptomaníaco. Mas o sacerdote acredita na bondade humana, mesmo em um neonazista que esmurra sua cara. O filme baseia-se em um argumento paradoxal: pouco importa sabermos se Deus existe, se continuaremos sofrendo do mesmo modo. Portanto, só nos restaria a solução introspectiva pessoal: a fé em um mundo sem Deus. Filme sugerido pelo nosso leitor... você sabe quem: Felipe Resende.

segunda-feira, novembro 14, 2016

"Enter The Void", drogas e o Livro Tibetano dos Mortos


Um cineasta ateu que não crê em reencarnação faz um filme inspirado no “Livro Tibetano dos Mortos”. Essa é a principal virtude de “Viagem Alucinante” (“Enter The Void”, 2009) do diretor argentino Gaspar Noé. Dessa maneira, o diretor consegue demarcar a diferença entre filmes religiosos e doutrinários daqueles que nos desafiam a pensar. “Enter The Void” é tão extremo, sincero e desafiador como a produção anterior “Irreversível” (2002): as visões flutuantes sobre Tóquio a partir da alma do protagonista que foi mortalmente baleado sob efeito da droga DMT, acompanhando os três níveis de consciência pós-morte tais como descritas no livro tibetano. Neon e profusão de luzes de uma Tóquio que mais parece uma máquina de pinball vão acompanhar uma jornada espiritual de autoconhecimento em meio a sexo e violência.

sexta-feira, janeiro 16, 2015

A humanidade está no fogo cruzado entre deuses e reis no filme "Êxodo"

O homem está colocado em uma espécie de fogo cruzado entre deuses e reis, demiurgos vingativos e ciumentos perante os quais somos apenas aquilo que representa a mosca para uma criança. Ao homem nada mais resta do que desafiá-los para, no final, resgatar dentro de si o bem mais precioso – aqueles a quem ama. Esse é o tema que perpassa a obra do diretor Ridley Scott e que, mais uma vez, está presente na versão do Êxodo bíblico feita por um cineasta assumidamente ateu. “Êxodo: Deuses e Reis” (2014) retrata um Moisés convertido em anti-herói amargurado: “É tudo vingança!”, critica em um dos ríspidos diálogos com Deus. Scott repete a mesma desesperança dos tripulantes da nave Prometheus que, ao descobrirem a raça dos criadores do homem em um planeta distante, na verdade encontraram “Engenheiros” enlouquecidos.

O diretor Ridley Scott tem um inegável talento para lidar com narrativas em diferentes épocas históricas: da Roma antiga (Gladiador, 2000) para a época das Cruzadas ( Cruzada, 2005; Robin Hood, 2010); da era do Renascimento (1492 – A conquista do paraíso, 1992) para o século XIX (Os Duelistas, 1977); e no futuro com Alien (1979), Blade Runner (1982) e Prometheus (2012).

Confirmando uma velha crença de que um artista conta uma única história em toda a sua vida, em Scott percebe-se que ele volta sempre ao tema do estranho que desafia a tudo e a todos ao seu redor para, no final, resgatar algo que é exclusivamente precioso para si mesmo.

Foi assim com Deckard em Blade Runner (o simbolismo do unicórnio que o protagonista resgata para saber se ele é humano ou mais um replicante) e também com a Dra. Elizabeth Shaw em Prometheus (desafiando a tudo para manter a fé em um sentido para a criação humana perpetrada pelos “Engenheiros”).

segunda-feira, abril 28, 2014

A Serpente do Paraíso rouba a cena no filme "Noé"

No livro bíblico do Gênesis, a história da arca de Noé tem apenas três páginas. Conhecendo o senso hollywoodiano de espetáculo e a inclinação de Darren Aronofsky em explorar complexas simbologias místicas e esotéricas, era de se esperar que o filme “Noé” (Noah, 2014) não fosse um thriller bíblico nos moldes de “Os Dez Mandamentos”. Pelo contrário, Aronofsky subverte o famoso personagem bíblico através de uma releitura gnóstica e cabalística. O diretor não só abandonou a Bíblia como transformou a Serpente do Jardim do Éden no personagem principal, trazendo para as telas a antiga versão gnóstica do mito do Paraíso, sob uma embalagem atual política e ecologicamente correta.

Quem conhece a obra do cineasta Darren Aronofsky, sabe que se pode esperar de seus filmes profundos simbolismos místicos e esotéricos. Foi assim em filmes como Pi (um thriller cabalístico onde um gênio matemático procura uma constante numérica universal), Cisne Negro (fábula gnóstica sobre a exploração da luz interior humana por um demiurgo representado pelas exigências mercadológicas de uma companhia de balé) e Fonte da Vida (uma jornada de elevação espiritual através de complexos simbolismos gnósticos e alquímicos).

  Com o filme Noé (Noah, 2014) não poderia ser diferente. Porém, desta vez Aronofsky saiu do campo dos dramas seculares traduzidos por simbolismos para entrar em uma narrativa bíblica fazendo uma releitura paradoxalmente sem referência à Bíblia: Aronofsky fez uma subversão flagrantemente gnóstica e cabalística do famoso personagem bíblico.

domingo, fevereiro 03, 2013

Mitologia e religião no Oscar 2013 em uma sociedade cética


O nosso leitor Giordano Cimadon da Sociedade Gnóstica Internacional de Curitiba indicou o artigo de S. Brent Plate (professor de Estudos Religiosos da Hamilton College – EUA) “Religion at Academy Awards” sobre a intensa presença de temas, símbolos e alegorias religiosas nos filmes que estão disputando o Oscar desse ano. Para Plate, a indústria do entretenimento parece ultrapassar as instituições religiosas como a principal criadora de mitos e rituais em uma sociedade que, paradoxalmente, cresce o espírito de ceticismo e aversão às religiões organizadas. Filmes como “As Aventuras de Pi”, "Django Livre”, “Indomável Sonhadora” e “The Master” exploram antigas simbologias míticas como as da água, enchentes e caos, e bíblicas onde compaixão, vingança e justiça divina se entrelaçam de forma inextrincável.

domingo, janeiro 13, 2013

"Aventuras de Pi" mostra visão alternativa do Sagrado


Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “As Aventuras de Pi” (Life of Pi, 2012) surpreende ao nos oferecer uma visão alternativa sobre a experiência do Sagrado, bem diferente de filmes como “Cloud Atlas” e todos os clichês new age sobre sinfonias e harmonias cósmicas: uma experiência baseada no simultâneo fascínio e  terror ao descobrir que o universo nada mais é do que o resultado de sucessivas camadas interpretativas, relatos de diversas religiões que o protagonista busca por toda vida. Lá fora estão apenas os espelhos e o vazio – no filme representados pelo mar, o céu e um tigre, companheiros de jornada de Pi - que refletem de volta os signos que criamos na esperança de dar um sentido ou propósito a um cosmos hostil e violento.

quarta-feira, setembro 26, 2012

Espiritismo e iconolatria no filme "Chico Xavier"

Mais do que um filme que evita tratar o tema Espiritismo para um nicho de público especializado, "Chico Xavier" de Daniel Filho apresenta um sintoma do destino da religisiosidade e do sagrado na atualidade. Ao tratar o tema de forma comercial para um grande público (sejam ateus, católicos ou mesmo espíritas) acaba reduzindo o Espiritismo ao mínimo denominador comum de toda religiosidade na indústria do entretenimento: iconolatria e um, por assim dizer, ecumenismo pós-moderno que filtra a vida de Chico Xavier através do ideário pragmático da autoajuda.

Depois da comédia de costumes, os olhos do cinema de massa do chamado período de “retomada” do cinema brasileiro volta-se para o Espiritismo e religiosidade. Depois do sucesso de “Bezerra de Menezes – Diário de um Espírito” de Glauber Filho e José Pimentel, o diretor Daniel Filho (no esteio de sucessos de bilheterias à época como “Se Eu Fosse Você”) explorou esse novo filão temático do cinema brasileiro.

A primeira coisa que chama a atenção no filme “Chico Xavier” é o apuro técnico com muitos travellings e movimentos de grua com câmera, a decupagem “clipada” e inquieta, a narrativa marcada por sucessivos flash backs (o eixo da narrativa – o “tempo presente” – é a noite da histórica participação do protagonista no Programa “Pinga Fogo” da TV Tupi em 1971 que, programado para uma hora, acabou se estendendo para três). 

sábado, setembro 10, 2011

Filme "2012": Uma Odisséia New Age

A reccorrência atual de filmes-catástrofes aponta para uma necessidade ideológica que Hollywood tenta dar conta: com a perda da legitimidade espiritual das principais religiões monoteístas, surge a necessidade de uma nova teologia, dessa vez ecumênica: a New Age. Só falta criar uma nova Escatologia: o apocalipse, seja ele ecológico ou galático.


Perguntado sobre a sua relação recorrente com o tema do fim do mundo, o diretor Roland Emmerich respondeu: “é um caso de amor”.

Diretor do filme “2012” e de outros filmes catástrofes como “Independence Day” (1996) e “O Dia Depois de Amanhã” (2004), Emmerich afirmou que o projeto do filme “2012” começou com uma ideia do dilúvio global ao fazer uma releitura do drama bíblico da Arca de Noé. Conta que assim como em “Independence Day” onde o mito da Área 51 foi amarrado à trama para dar “mais credibilidade”, da mesma forma foi com a suposta profecia do final do mundo em 2012 previsto pelo calendário Maia, para dar mais verossimilhança ao apocalipse do filme.

“Quando você vai ao site da Amazon encontra uma centena de livros sobre as profecias de 2012. É incrível. Encomendei os primeiros seis ou sete livros. Todo mundo conta uma história diferente!”, falou Emmerich entre gargalhadas (“Roland Emmerich interview”, 2012 in Movies OnLine).

De fato, graças ao sucesso comercial e de público do filme “2012” (arrecadou 225 milhões de dólares nos primeiros cinco dias), finalmente a chamada New Age desse século (“Nova Era” - movimento espiritual buscando a fusão Oriente/Ocidente ao mesclar auto-ajuda, psicologia motivacional, parapsicologia, esoterismo e física quântica) obteve o seu cenário apocalíptico. Ou, em termos teológicos, a sua Escatologia. Agora a New Age pode se colocar orgulhosamente ao lado de cristãos, muçulmanos, judeus e até mesmo dos secularistas, pois, finalmente, possui a sua própria versão do Apocalipse.

Diversas seitas cristãs têm o seu apocalipse fundamentado nas profecias do apóstolo João em torno dos Quatro Cavaleiros (Conquista, Guerra, Fome e Morte); radicais islâmicos ainda estão à espera do décimo segundo Imam; secularistas fracassaram com a bomba do Y2K (o chamado “bug” do milênio) que não explodiu em 2000, mas, agora, têm a bomba das alterações climáticas de Al Gore (o “aquecimento global”).

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Cristo Salva? Não, Cristo Funciona! A Fé Pragmática no filme "O Paraíso é Logo Ali"

Quem assiste ao filme “O Paraíso é Logo Ali” (Henry Poole is Here, 2008) pensa estar diante de um filme com tema espiritual ou religioso. Nem uma coisa nem outra. Embora estejam presentes elementos como a imagem de Cristo, fé, milagres e um padre, o filme é uma abordagem tragicômica sobre o tema da esperança. Dessa forma, esse filme é um flagrante exemplo de como roteiristas de Hollywood trabalham com elementos religiosos e espirituais: os convertem em cenários ou signos que evocam a vida espiritual, quando na verdade o filme trata da vida interior – a fé convertida em pensamento positivo. É a influência da filosofia do Pragmatismo americano ao converter o espiritual e o religioso ao “inspirador” e “motivacional”. A fé em Cristo não salva. Ela apenas funciona.

Henry Poole (Luke Wilson) é o protagonista do filme. Ele é um homem desiludido que tenta se isolar em uma casa no subúrbio degradado na periferia de Los Angeles. Desenganado por um médico, Poole acredita que morrerá em breve. Tudo o que ele quer é se isolar, acumulando várias garrafas de vodka e muitos sacos de salgadinhos, melancolicamente à espera da morte. Mas, para o seu incômodo, os vizinhos se recusam a deixá-lo sozinho.

sábado, outubro 30, 2010

A Experiência Cinematográfica pode ser Transcendente? - 2: O Prazer do Espectador

Dando continuidade a nossa trilogia de postagens sobre a transcendência e experiência cinematográfica vamos nos deter no duplo vínculo que envolve o prazer cinematográfico: monotonia versus princípio do prazer, profano versus sagrado, tédio versus fascinação, arquétipo versus civilização. A articulação desses dois pólos dentro da narrativa fílmica é uma ritualística que mimetiza o drama da quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem. Por trás do prazer do espectador cinematográfico esconde-se o conflito potencial entre o espírito humano que aspira por transcendência e a ordem social e política que procura o oposto: o controle e a estabilidade.

Toda estrutura da obra de arte busca ultrapassar a si mesma. Vimos na postagem anteriora que o cinema, da mesma forma, contém elementos que buscam transcender o próprio meio. Por ser o cinema, desde o início, uma síntese criativa de diversas artes ou mídias (fotografia, pintura, literatura, música etc.), sua evolução estética e tecnológica força os limites das regras do ambiente perceptivo.

domingo, outubro 17, 2010

Uma "teologização" do Espiritismo no filme "Nosso Lar"

Se aspectos da divisão do trabalho na produção e o meio de distribuição e produção influenciam a estética e conteúdo do filme, então "Nosso Lar" é um bom exemplo. Para adequar o livro original às exigências internacionalizadas de produção e distribuição, "Nosso Lar" teologiza o Espiritismo e o enquadra dentro de um "ecumenismo pós-moderno" da ideologia da nova ordem mundial globalizada.

Muito se discute nos estudos acadêmicos sobre cinema como o meio produtor dos filmes (grupo de autores, técnicos, colaboradores da criação) ou os aspectos socioeconômicos (filme de produção independente ou não, aspectos de distribuição etc.) influenciam ou condicionam os conteúdos das produções.

O que mais vem chamando a atenção na área das pesquisas cinematográficas nas últimas décadas são as consequências da crescente internacionalização e globalização da divisão do trabalho da produção cinematográfica.

quinta-feira, julho 22, 2010

"Bezerra de Menezes" surpreende ao romper com o Ciclo Vicioso do Sagrado e do Religioso na Mídia


"Bezerra de Menezes - Diário de um Espírito" (2008), produção cearense de Glauber Filho e Joe Pimentel, surpreende por ter sido um sucesso de público, mesmo distoando do chamado "padrão Globo Filmes". Em consequência o filme conseguiu romper com o ciclo vicioso onde, em nome do chamado "grande público", traduz-se temas do espiritismo e da religiosidade dentro dos clichês do ecumenismo da Auto-ajuda.  

Depois de assistir ao filme “Bezerra de Menezes – Diário de um Espírito” é impossível não ser tentado a fazer uma comparação com o filme “Chico Xavier” (2010). Primeiro vejamos as semelhanças: ambos os filmes tratam o tema Espiritismo e acabaram de tornando sucesso de público. E as semelhanças param por aí.

São dois filmes com o tema Espiritismo, mas com estéticas, condições de produção e, acima de tudo, diferenças brutais no tratamento do tema da religiosidade, sagrado e transcendência.


Para começar, o filme “Bezerra de Menezes” foi muito mal recebido pela crítica. A produção cearense de Glauber Filho e José Pimentel foi criticada por ter um “roteiro tosco”, narrativa “verborrágica”, de possuir uma estética que lembrava “as novelas da TV Bandeirantes nos anos 80”, de não “cativar” ou produzir “identificação” com o espectador e de simplesmente ignorar as recentes técnicas cinematográficas de edição, decupagem e montagem dos últimos 40 anos etc.

Ao contrário, "Chico Xavier" se vale plenamente desse apuro técnico, com uma narrativa “esperta”, clipada, com movimentos de grua, travellings e narrativa de criar suspense e identificação. Como discutimos em postagem anterior, a opção estética por um “padrão Globo de qualidade” (produção, atores e estética) determinou uma abordagem do fenômeno espírita de forma genérica e abstrata para atingir um grande público (fossem espíritas, ateus ou católicos). O resultado foi a redução da religiosidade e do sagrado ao mínimo denominador comum da religiosidade midiática: o ecumenismo pós-moderno, ou seja, uma religiosidade traçada pelo ideário da auto-ajuda e do autoconhecimento, aplicável a qualquer credo ou público.

Muito diferente disso, “Bezerra de Menezes” mantém a dignidade da doutrina espírita. Aborda os temas da reforma íntima e do afinco de Bezerra de Menezes na luta interior pela conversão ao Espiritismo sem despencar nos clichês do otimismo empreendedor da auto-ajuda. Pelo contrário, aborda conceitos mais especializados à doutrina como Lei de Ação e Reação, Animismo, concepção teológica do Kardecismo etc., particularizando a religiosidade Espírita, evitando cair no ecumenismo pós-moderno e generalizante de “Chico Xavier”. E, apesar dessa particularização, marcando as diferenças teológicas e doutrinárias do Espiritismo diante de outras formas de religiosidade, mesmo assim o filme foi um sucesso de público (Sim, há salvação fora do “padrão Globo de qualidade”!).

segunda-feira, julho 19, 2010

Iconolatria e Ecumenismo Pós-Moderno em "Chico Xavier"


Mais do que um filme que evita tratar o tema Espiritismo para um nicho de público especializado, "Chico Xavier" de Daniel Filho apresenta um sintoma do destino da religisiosidade e do sagrado na atualidade. Ao tratar o tema de forma comercial, para o grande público (ateus, católicos ou espíritas), reduz o Espiritismo ao mínimo denominador comum de toda religiosidade na indústria do entretenimento: iconolatria e um, por assim dizer, ecumenismo pós-moderno.

Depois da comédia de costumes, os olhos do cinema de massa do chamado período de “retomada” do cinema brasileiro volta-se para o Espiritismo e religiosidade. Depois do sucesso de “Bezerra de Menezes – Diário de um Espírito” de Glauber Filho e José Pimentel, Daniel Filho (no esteio de sucessos de bilheterias como “Se Eu Fosse Você”) explora esse recente filão temático do cinema brasileiro.

A primeira coisa que chama a atenção no filme “Chico Xavier” é o apuro técnico com muitos travellings e movimentos de grua com câmera, a decupagem “clipada” e inquieta, a narrativa marcada por sucessivos flash backs (o eixo da narrativa – o “tempo presente” – é a noite da histórica participação do protagonista no Programa “Pinga Fogo” da TV Tupi em 1971 que, de uma hora programada, acabou se estendendo para três). O resultado visual é a da fluidez e suavidade, ainda evidenciado na escolha da trilha com músicas atonais de Egberto Gismonti. Somada ao cast de atores da TV Globo, temos um filme com o chamado “padrão Globo de qualidade” em que a linguagem cinematográfica é absorvida pela televisiva: profusão de planos médios e fechados, evitar contrastes fortes e a fotografia em tons pastéis e muito iluminado. E, principalmente, a personalização da narrativa, sublinhada pelo predomínio dos primeiros planos.

É aqui que reside no filme Chico Xavier o sintoma de como a religiosidade e o sagrado são abordados na indústria do entretenimento: na iconificação do sagrado, e na dispersão da religiosidade numa espécie de, por assim dizer, “ecumenismo pós-moderno” onde o sentimento religioso e a filosofia doutrinária são retiradas do contexto original para ser filtrado pelo ideário do auto-conhecimento e da auto-ajuda.

Além disso, dois fatores adicionais devem ser considerados para entendermos a visão do espiritismo e da religiosidade passada pelo filme: o ateísmo do diretor Daniel Filho e o agnosticismo do ator Nelson Xavier (que representou Chico Xavier na velhice). Somada a proposta de um filme para todos os públicos, temos como resultado o seguinte: em vez de colocar em primeiro plano o espiritismo, o filme posiciona Chico Xavier como uma grande personalidade brasileira, que sofreu abusos de uma madrinha malvada e lutou para sobreviver à descrença, deixando um legado de paz e conforto para famílias que perderam entes queridos.

Uma “lição de vida” que representa o pragmatismo que é a base de todo ideário da auto-ajuda: pouco importa se Deus existe ou não. Se acreditar Nele lhe trás felicidade, então Ele existe. O filme filtra a vida de Chico Xavier pelo ideário da auto-ajuda ao reduzir toda doutrina e filosofia a conservadoras lições de vida que, no final, justificam a crueza do cotidiano. Mais do que estratégia comercial para buscar grandes bilheterias, é um sintoma do destino do sagrado e da religiosidade na indústria do entretenimento.

“Disciplina, Disciplina, Disciplina!”

Nas relações do indivíduo com a experiência do sagrado (do indivíduo com o abstrato ou o Todo), a iconolatria (adoração de imagens, estátuas etc.) é o aspecto regressivo da religiosidade. Ao reduzir a expressão da religiosidade a um ícone, passamos a ter uma relação fetichista com a imagem, reduzindo toda a expressividade ou doutrina a um personagem ou entidade aparentemente física e tangível.


Por exemplo, ao invés de entendermos o evangelho idolatramos compulsivamente a figura de Cristo na Cruz.

Indo para outro extremo, da mesma forma, toda a filosofia do comunismo é reduzida à idolatria da imagem de Che Guevara. O resultado da idolatria é a massificação do ícone: pessoas colocam aplicam a imagem de Che Guevara em camisas, pára-brisas de carros e baús de motos sem jamais terem lido uma linha sobre suas idéias. Apenas sabem que Che foi “um cara que lutou pelo que acreditava, assim como eu!”.

Esse mesmo processo de iconificação encontramos no filme “Chico Xavier”. Duas frases, uma dita pelo personagem Chico Xavier e outra pelo seu guia espiritual Emannuel (frases retiradas de contextos doutrinários e filosóficos da literatura espírita) demonstram isso: “Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”, diz Chico Xavier; e “Disciplina, Disciplina, Disciplina!”, os três mandamentos proferidos por Emannuel para orientar a missão que Chico Xavier assumiria na sua vida.

Dessa forma o protagonista é transformado no campeão do ascetismo, da ética marcial da autodisciplina e da renúncia. A doutrina e filosofia espírita é reduzida, dessa maneira, ao mínimo denominador comum de toda a religiosidade. O sentido particular dessas frases é eliminado em nome de uma moral ecumênica de auto-ajuda: lute, pense positivo, acredite em você mesmo, seja forte e lute pelos seus ideais.

Teologia Secularizada em Chico Xavier

O filme coloca em confronto três personagens: os padres católicos, os ateus e os espíritas. Com isso, o filme contempla todos os públicos ao expor todos os pontos de vista em relação ao fenômeno mediúnico: Fraude? Simples manifestação do Demônio? Prova da existência da vida após a morte? Todos os pontos de vista são pragmaticamente sintetizados numa espécie de ecumenismo pós-moderno: não importa a crença, filosofia, doutrina ou ponto de vista. Todos devem se curvar aos fatos da vida onde, acima de tudo, rege a disciplina, o ascetismo e crer em si mesmo.

Como um ícone, Chico Xavier é transformado em “lição de vida” para todos: ateus, católicos e espíritas. Esse é o novo ecumenismo, aquele que reduz ou neutraliza a experiência do sagrado e da religiosidade à teologia secularizada da Auto-ajuda onde, tal como na Teologia Positiva, o indivíduo é liquidado em nome da Totalidade e da crueza da vida.

Ficha Técnica:
  • Diretor: Daniel Filho
  • Elenco: Nelson Xavier, Angelo Antonio, Tony Ramos, Letícia Sabatella
  • Gênero: Drama
  • Duração: 124 min
  • Ano: 2010
  • Distribuidora: Sony Pictures

domingo, julho 04, 2010

Trabalho de conclusão da pós da UAM estuda a recorrência de anjos na recente produção cinematográfica

Entender como a figura mitológica e arquetípica do Anjo é representada no cinema a partir de análises fílmicas, análise da imagem e Mitologias foi o objetivo de Ionara Lermen e Milton Siqueira Jr. com o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) "Cinema e Mitologia: a representação fílmica do personagem anjo", defendido em banca pública no dia 19/06 na pós-graduação em Cinema da Universidade Anhembi Morumbi (UAM).

A oportunidade que tive em orientar este TCC dentro do programa de pós em Cinema, Fotografia e Multimídia da Universidade Anhembi Morumbi foi de grande sincronicidade. O projeto de Ionara e Milton foi apresentado para mim num momento em que ministrava a disciplina Estrutura de Roteiro na Graduação em Comunicação e estava envolvido nas discussões em torno de Campbell, Vogler e a utilização de arquétipos e narrativas míticas nos roteiros cinematográficos e, ao mesmo tempo, vinha de recente defesa da dissertação de mestrado sobre a recorrência de elementos do Gnosticismo na produção cinematográfica.

A partir do filme de Win Wenders, Asas do Desejo (1987), a pesquisa da dupla detectou um crescimento no número de filmes que trabalham com o personagem arquetípico do anjo. O por quê dessa tendência, a pesquisa apontou para três hipóteses:

Primeiro: o crescimento na utilização da simbologia arquetípica em diversas narrativas midiáticas audiovisuais como publicidade, telenovela etc., com o objetivo de despertar desejos e associar temas, emoções e sentimentos a marcas, como na Publicidade.

Segundo: partindo das idéias de Nelson Brissac Peixoto, a recorrência do personagem Anjo no cinema seria um sintoma da saturação das imagens e estímulos sensoriais organizados como clichês dentro da Pós-Modernidade. A figura do Anjo representaria o anseio pela pureza, inocência perdida, um "olhar da primeira vez" de um anjo que vivia na eternidade e, de repente, cai no mundo material e experimenta as experiências banais pela primeira vez, buscando a transcendência no mundo material.

Terceiro: A própria evolução tecnológica do cinema que não mais precisa de luzes e película para as suas produções. Através de ferramentas oferecidas pela computação gráfica e seus efeitos especiais a criação de personagens etéreos e divinos torna-se mais fácil, tornando-se uma tendência considerável nos últimos anos. Soma-se a isso, personagens como gnomos, duendes, fadas, ETs etc.

A partir de análises de filmes como Asas do Desejo, Dogma, Anjos Rebeldes, Cidade dos Anjos, Constantine, a dupla de pesquisadores descobriu que as características mitológicas são conclusivamente judaico-cristãs.

O Curta-Metragem


Ao final a dupla apresentou sua produção audiovisual no formato curta-metragem "Se Essa Rua Fosse Minha" (o TCC da Pós em Cinema e Fotografia da UAM consiste na produção de artigo científico e de um produto audiovisual). O projeto teve o objetivo de inverter a fábula presente na cantiga infantil contando a história de um relacionamento entre um anjo e uma menina, o mundo da "miticidade" e o da realidade "mundana".
Mais do que isso, através de uma atmosfera dramatúrgica permeada de ludicidade e surrealismo, o curta re-interpreta a figura do anjo por um viés gnóstico: através de elementos simbólicos como o céu, a pena (que representa as asas), as brincadeiras infantis, a maçã, o caminho de brilhantes e o coração, o anjo abandona as representações tradicionais judaico-cristãs para ingressar no universo mítico do Gnosticismo. Nesse curta, o a anjo quase vira um Aeon!

Ficha Técnica:

  • Roteiro e Direção: Ionara Lermen e Milton Siqueira Jr.
  • Atores: Rafael Reigado (Anjo Azhazel), Ana Beatriz Cedro (Isabel criança), Fernanda Migotto (Isabel adulta).
  • Direção de Fotografia e Montagem: Milton Siqueira Jr.
  • Direção de Arte, Figurisno e arte gráfica: Ionara Lermen
  • Trilha Sonora: André Cortada
  • Agradecimentos: Ultrassônica Produções e ITD-Instituto Tecnológico Diocesano Santo Amaro
  • Orientação: Prof. Me. Wilson Roberto V. Ferreira

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Código Da Vinci é Gnóstico? Algumas confusões conceituais


Muito se fala sobre o Gnosticismo em O Código Da Vinci (The Da Vinci Code, 2006) por apresentar uma versão heterodoxa ou mística de Jesus Cristo, supostamente próxima dos evangelhos apócrifos do gnosticismo. Mas certamente o seu “gnosticismo” é menos pelo conteúdo religioso e muito mais pelos estereótipos pop em torno do tema (sociedades secretas, teorias conspiratórias etc.).

Rotular o filme como “gnóstico” ou “religioso” revela uma generalização conceitual existente entre o filme gnóstico, filme religioso ou sobre o sagrado e filme sobre religião.

Filmes sobre religião seriam aqueles cujo tema religiosidade, religião, organizações religiosas, igrejas etc. são meros pretextos ou pano de fundo para o exercício dos clichês ou convenções de um determinado gênero (policial, thriller, suspense, histórico etc.). O Código Da Vinci se enquadraria facilmente nessa categoria ao fazer um pastiche de elementos históricos e religiosos, reais e ficcionais, tudo mesclado numa narrativa clássica hollywoodiana (que possibilita a identificação com os protagonistas e a forte esquematização entre bem/mal, danação/salvação). Filmes sobre religião não têm a menor pretensão em representar experiência do sagrado, iluminação ou transcendência que envolva seja o protagonista ou seja o espectador. Por possuir uma narrativa sem ambigüidades e fortemente esquemática, não permite nenhuma tensão entre forma e conteúdo que permitiria vazios ou interstícios através dos quais poderia surgir uma experiência de transcendência ou transformação.

Já o filme religioso ou sobre o sagrado já trás o problema do conteúdo e da forma. Por procurar formas imagéticas que procurem se aproximar das experiências de transcendência, seja mística ou religiosa, já experimentam o princípio da tensão entre forma e conteúdo, como coloca Lemos Filho:


“O filme religioso traz problema de conteúdo e de forma. Lumiére desejou simplesmente a realidade sem nenhuma preocupação formal. Meliées, ao contrário, preocupou-se demais com as estruturas formais. De então para cá, o filme religioso tem se inclinado ora para um ora para outro . Determinados elementos formais podem modificar o sentido do conteúdo religioso. Às vezes, a qualidade da obra sob o ponto de vista religioso depende muito menos de seu conteúdo estrito do que de sua forma. A correlação entre valores estéticos e valores religiosos é de fundamental importância para se analisar um filme e encontrar nele a evocação do sagrado”. (LEMOS FILHO, Arnaldo Cinema e o sagrado. IN Comunicarte, v.7/8, n.13/14, p. 6-20. 1990).



É o exemplo de um filme como Diário de um Padre (Journal d’um Cure de Campagne, 1951) de Robert Bresson que nos fala sobre experiências religiosas por meio de um viés realista que imprime banalidade e sensualidade bruta aos objetos e rotinas para revelar, através deles, inesperadas experiências de transcendência (“não importa, tudo é graça”, afirma o protagonista no final). Podemos denominar essa teoria cinematográfica como “realismo espiritual”.

Outra corrente é aquela que podemos denominar como de “formalismo espiritual”, inspirada na possibilidade da exploração das potencialidades formais do cinema tais como a abstração e simbolismo da montagem, do surrealismo e do camp.
Um exemplo dessa vertente está no filme 8 e Meio (8 ½, 1963) de Fellini. Um filme auto-referente: há um filme a ser feito e Oito e meio constrói-se a partir dessa necessidade. Oito e Meio começa com um sonho. Depois, o filme volta a uma estrutura mais coerente, realista, condizente com uma descrição da realidade. Mas trata-se de uma coerência relativa. As situações muitas vezes são verossímeis, porém não são "razoáveis". Há uma confusão constante, um entrar e sair incessante, em meio a imagens quase oníricas. O filme é a exploração de uma estrutura complexa de auto-referencialidades: um filme autobiográfico de Fellini, com uma narrativa sobre a produção de outro filme onde o protagonista embaralha seus sonhos com a realidade. Através de recursos formais como a auto-referencialidade e narrativa ambígua, o filme drena a solidez da realidade para fazer o espectador transcender a realidade dada.

Por sua vez o filme gnóstico experimenta a tensão entre forma e conteúdo por meio da ironia, no sentido dado pelos teóricos do Romantismo literário: procura conferir à narrativa um caráter de ambigüidade através de paradoxos, contradições e negações, pois os recursos formais disponíveis através da linguagem (seja ela fílmica ou literária)são insuficientes para expressar o inominável.

O filme gnóstico detém uma substância esotérica contida em um pacote exotérico, isto é, trabalha com o tema da ilusão da realidade dentro de um produto comercial determinado por uma ilusão: as convenções comerciais do gênero e o próprio caráter ficcional da representação fílmica. Este tipo de filme parece estar consciente dessa condição ao propor, como saída para essa tensão, experiências formais que explodem a expectativa do espectador pelos clichês do gênero.

O filme gnóstico parece seguir o sentido contrário desse prazer cinematográfico. A utilização dos instrumentos da ironia como a fragmentação, auto-referência, narrativas com pontos de vista inconciliáveis, confusão entre o ponto de vista da câmera e o ponto de vista da visão do personagem etc., dificultam essa identificação primária.

A Especificidade do filme gnóstico



O primeiro elemento que define o filme gnóstico é o aspecto da gnose que poderia ser sintetizada na seguinte frase: tudo do que o protagonista necessita já está no interior da sua mente. A gnose é apresentada como uma reforma íntima através de uma superação de limites pessoais (medos, traumas, apego aos valores do mundo físico etc.). O processo de transformação é rigorosamente pessoal e interior. O protagonista não necessita de nenhum instrumento exógeno para conseguir a transformação (livros, manuais, técnicas, guias, mentores, Deus, magia etc.) Apenas encontramos personagens que acompanharão o protagonista para ajudá-lo a criar situações que despertem nele a necessidade da reforma íntima.


Em geral, a gnose é iniciada a partir de sensações ou sentimentos íntimos do protagonista (paranóia, melancolia, déjà vus, lapsos temporais, estranhamento etc.). Isto é, a gnose não é episteme. Ela não é iniciada a partir de um conhecimento racional ou sistematizado. A jornada gnóstica deve conduzir à revelação, ao inesperado e, às vezes, a um violento insight que conduz o protagonista à percepção do todo. Muitas vezes a gnose não é uma experiência que o sujeito alcance intencionalmente. Ele é tomado por ela. Isso é que difere os filmes gnósticos de filmes como O Último Portal (The Ninth Gate, 1999) em que o protagonista percorre o caminho em direção à revelação através de conhecimentos ocultistas sistematizados em livros.

O segundo aspecto é de que a jornada pela qual o protagonista percorre não é uma expiação, mas uma “cura”, Em outras palavras, toda a provação não é conseqüência de pecados ou deformações do caráter do protagonista, mas, antes, decorre de uma realidade corrompida que o aprisiona. Todas as dúvidas e sofrimentos não são castigos por alguma transgressão ética ou moral do protagonista. Pelo contrário, é o trajeto mítico gnóstico de Emanação-Queda-Ascensão onde o protagonista é resgatado do cosmos material ao despertar a Luz interior por meio de situações que o ajudam a revelar o véu da ilusão. Isso é o que distingue os filmes gnósticos de filmes como O Advogado do Diabo (The Devil’s Advocate, 1997), onde o protagonista é seduzido pelo diabo por meio do pecado da vaidade. Apesar do discurso final de Milton (o diabo que vem ao mundo sob a forma de um advogado performado por Al Pacino) tentando convencer o protagonista Kevin (Kaenu Reeves) a ser seu sucessor ter um sabor gnóstico, o drama do protagonista centrado em um recorrente pecado da vaidade configura um típico filme de temática religiosa conservadora. O protagonista é punido pelo seu pecado capital.

O terceiro aspecto é uma decorrência do segundo: nos filmes gnósticos o protagonista não é punido pela transgressão da ordem. Ao contrário das exigências decorrentes dos gêneros comerciais onde o clichê de quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem é dominante, no filme gnóstico a quebra da ordem não é punida, isto é, não há um restabelecimento da ordem (seja social, política, institucional, familiar, moral ou pessoal) com a punição das pretensões de ruptura das ilusões da realidade material. Isso distingue, por exemplo, o salto final em filmes como Telma e Louise (Thelma e Louise, 1991) com o do filme Vidas em Jogo. Se no primeiro filme todo o processo de questionamento da sociedade machista pelas protagonistas é punido pela morte com o salto final no abismo, em Vidas em Jogo o salto no vazio do protagonista é a quebra da ordem, o resultado da jornada do Viajante cujo processo de reforma íntima significa a quebra de toda uma ordem de papéis sociais. Ou ainda, a diferença de desfecho em um filme como Click (Click, 2006). Apesar do sabor temático gnóstico, apresenta um protagonista punido pela sua ambição materialista (workholic cujo objetivo é o de tornar-se sócio de uma empresa) e um final que restabelece a ordem familiar quebrada pelo pecado.

Tecnologia do Blogger.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Bluehost Review