segunda-feira, janeiro 07, 2013

Em Observação: "Upside Down" (2012)

Filme sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho através do Facebook, "Upside Down" (2012) com Kirsten Dunst e Jim Sturguess facilmente foi classificado como "Em Observação": um homem procura em um universo alternativo um antigo amor da juventude. O filme parece promissor na nossa busca em mapear elementos gnósticos, místicos e esotéricos na cinematografia atual: universos distópicos, mundos alternativos, amnésia, corporações/demiurgos repressores etc. Parece seguir a linha de "Another Earth" (2011), uma tendência atual onde temas sci fi são mero pano de fundo para o romance, drama ou temas de autoconhecimento como a questão da "segunda chance", questionamentos sobre a noção de "realidade" e o despertar de si mesmo do sono da ignorância. Então, prezados leitores e seguidores desse humilde blog, façam como Joari Carvalho e enviem sugestões de filmes que mereçam ficar "Em Observação" para futuros artigos.

domingo, janeiro 06, 2013

Em Observação: "Safety Not Guaranteed" (2012) e "As Aventuras de Pi" (2012)

“Em observação” é a nova rubrica para classificar filmes que podem ser de interesse para o “Cinema Secreto: Cinegnose”. Filmes “suspeitos” de explorarem elementos gnósticos, místicos ou esotéricos. Temas ou narrativas que se enquadrem nos enfoques semióticos, sincromísticos, psicanalíticos ou cinegnósticos das análises desse blog. Serão assistidos e avaliados. Se aprovados se tornarão tema dos nossos artigos.
Para nossos leitores e seguidores será uma sessão para se atualizar sobre lançamentos e filmes clássicos ou simplesmente esquecidos na história do cinema e que merecem uma análise mais atenta.

sábado, janeiro 05, 2013

Tudo é humano, demasiado humano em "Cloud Atlas"

Como um produto hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.

“O que tentamos foi fazer uma história sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).

O filme “Cloud Atlas” (com o infeliz título em português “A Viagem”, que vamos ignorar nessa postagem) dirigido pelo trio Tom Tykwer (“Corra, Lola, Corra”) e Lana e Andy Wachowski (trilogia “Matrix”) é um exemplo magistral de como a indústria de entretenimento equilibra-se em uma corda bamba entre o impulso metafísico em lidar com antigas simbologias dos antigos mistérios sejam pagãos ou gnósticos (que no final procuram capturar o desejo por liberdade e transcendência dos espectadores) e a necessidade de fazer um produto que se adapte às convenções ideológicas do gênero blockbuster.

Nas quase três horas de duração, entramos em pânico na primeira meia hora ao não entendermos nada sobre o propósito de cada uma das seis estórias narradas de forma entrelaçada e aparentemente aleatória. Aos poucos vamos ligando os pontos e passamos a saborear a brilhante montagem das sequências. Como o próprio David Mitchell (autor do livro no qual se baseou o filme) afirmou, a chave é o tema da reencarnação. Um empreendimento difícil e arriscado ao entrelaçar eventos ao longo de cinco séculos, em diferentes gêneros (sci fi, drama, espionagem, policial etc.) com os mesmos atores vivendo papéis, personagens, sexo e raças diferentes, sugerindo as diversas existências numa espécie de jornada cósmica de almas imortais.

terça-feira, janeiro 01, 2013

A Gnose de Ano Novo no Filme "A Roda da Fortuna"

Vale a pena assistirmos ao filme “A Roda da Fortuna” (The Hudsucker Proxy, 1994) dos irmãos Coen. Ainda mais nas comemorações de chegada do ano novo, onde todos parecem querer capturar e reter um momento no tempo, que então já será passado. Por isso, “A Roda da Fortuna” é um grande filme para ser visto e refletido nesses últimos momentos de ano velho. Uma fábula sobre os nossos vícios temporais que estão sempre presentes em todo final de ano: ou caímos no tempo linear (as famosas promessas e desígnios para o ano novo) ou no tempo cármico - a ilusão de que tudo depende de nossa vontade para a roda da fortuna girar, sem entendermos que somos prisioneiros da cilada do “eterno retorno”.

O Tempo é o principal tema do filme. Tudo começa quando vemos o presidente das Indústrias Hudsucker (Norville Barnes), nos últimos minutos de 1958, abrindo a janela do seu escritório no 44o andar para cometer suicídio. Com grande inventividade narrativa, o tempo para e temos um flashback da sua carreira: como ele subiu tanto para cair tão rápido?

Incerteza, sincronicidades, carma, a responsabilidade ética e moral das ações. Todos esses temas que marcam a filmografia dos irmãos Coen estão presentes nesse filme (o próximo seria o premiado “Fargo” de 1996). Mas em a “Roda da Fortuna”os Coen aprofundam no arquétipo que estrutura todos esses temas: o Tempo.

Norville Barnes é um idealista recém-formado estudante de administração que chega à Nova York vindo do interior. Com uma invenção na cabeça que, acredita, fará sua fortuna (um círculo desenhado num papel – “para crianças, claro”, diz) quer começar de baixo para honestamente subir na carreira.

Paralelo a isso, após o bem sucedido presidente das Indústrias Hudsucker (Waring Hudsucker) estranhamente cometer suicídio, o conselho de administração, liderado por Sidney Massburger (Paul Newman) surge com um brilhante plano para enriquecer a todos: nomear um idiota notório para dirigir a companhia, trazendo pânico para os acionistas que se desfariam dos seus papéis. Imediatamente os membros do conselho comprariam de volta as ações desvalorizadas a centavos para, dessa forma, deter o controle e os dividendos da empresa que rapidamente voltaria à lucratividade de antes após a deposição do presidente fantoche.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

O conhecimento secreto do Cristo de Nag Hammadi

A descoberta e as posteriores traduções da chamada “biblioteca de Nag Hammadi” no Egito trouxeram uma nova luz sobre os ensinamentos de Cristo. O foco comum dado pelas religiões na morte-ressurreição de Cristo e no plano ético e devocional da sua passagem pela Terra esconderia a sua principal missão: a de trazer o conhecimento secreto que nos faça ter a consciência de que estamos perdidos e longe de casa, e o caminho de volta já está dentro de nós. Cabe a nós relembrarmos.

"O pensamento aguarda que, um dia, a lembrança do que foi perdido venha despertá-lo e o transforme em ensinamento" (Theodor Adorno)

O Gnosticismo em geral, e os evangelhos apócrifos descobertos em Nag Hammadi no Egito em 1945 (conjunto de antigos pergaminhos composto pelos evangelhos que revelariam a natureza do antigo cristianismo e as interpretações místicas de Cristo feitas pelos gnósticos) em particular, apresentam um espectro de crenças cujo núcleo central filosófico é bem discernível, aquilo que Kurt Rudolph chama de "mito central": o Gnosticismo nos ensina que algo está desesperadamente errado com o universo. Dessa forma os escritos gnósticos tentaram delinear os meios de explicar essa falha cósmica e corrigir a situação.

O universo, tal como atualmente constituído, não é bom, nem foi criado por um Deus todo poderoso. Em vez disso, um deus menor, ou “demiurgo” (como é chamado às vezes), moldou o mundo na ignorância. O Evangelho de Filipe de Nag Hammadi, diz que "o mundo surgiu através de um erro. Para aquele que o criou queria criá-lo imperecível e imortal. Ele ficou aquém de alcançar o seu desejo.” A origem do demiurgo é diversas vezes explicada como resultante de alguma perturbação pré-cósmica na cadeia de seres que emanam do incognoscível Deus-Pai. Isso originou a “queda” de uma divindade inferior, com credenciais bem menores. Tentando recriar nos planos inferiores a Plenitude da qual “decaiu”, acabou por criar um cosmos material encharcado de dor, ignorância, decadência e morte - um trabalho malfeito, com certeza.

sábado, dezembro 22, 2012

O fim do mundo não foi televisionado

Conclusão do post 
"A necrospectiva do fim do mundo"
Peter Cornelius, The Riders of Apocalypse (1845)
Abrigos nucleares são vendidos nos EUA para aqueles que acreditam que o fim do mundo se aproxima. No interior da França uma comunidade religiosa acredita que apenas a pequena localidade onde vivem será uma das poucas que sobreviverá ao cataclismo global. E se invertermos a linha de tempo? Em outras palavras, e se o apocalipse já tiver ocorrido? E se, sem sabermos, já estivermos em um mundo pós-apocalíptico vivendo as consequências de um cosmos que se legitima por meio da crença religiosa de que tudo, um dia, terá um fim? Essa é a heresia gnóstica, esquecida pela hegemonia de um mercado de profecias sobre o fim do mundo que desempenha um duplo papel: como manipulação ideológica e, também, como sintoma da condição humana alienada nesse mundo.

O Titanic já afundou. Os cavaleiros do Apocalipse já cavalgaram há muito tempo pela Terra. O Apocalipse não foi televisionado e nem foi roteirizado por uma produção hollywoodiana. Já ocorreu há muito tempo atrás com o “Big Bang” da Criação.

Esse é o princípio da filosofia gnóstica. O Mal já estava na própria Criação. Por isso o Gnosticismo  sempre foi associado a uma espécie de “escatologia realizada”.  Isto significa que qualquer realidade que vale a pena se desfez antes da Criação, com a queda mitológica de Sophia. O Big Bang foi o Apocalipse. Os seres humanos seriam apenas fragmentos da Divindade suprema agarrados a destroços mortos flutuando em um oceano de matéria escura.

quinta-feira, dezembro 20, 2012

A necrospectiva do fim do mundo

Talvez essa postagem jamais seja publicada: o mundo poderá acabar antes. Estamos em meio a uma contagem regressiva para o fim do mundo que, segundo a profecia maia, seria no dia 21 de dezembro de 2012. Tal como em 1999 (talvez lá fosse muito pior, pois estávamos às voltas com uma dupla catástrofe: a bomba informática do “bug do milênio” e as profecias de Nostradamus), agora temos uma nova contagem regressiva, dessa vez à base de uma interpretação arbitrária do calendário Maia, turbinada por filmes-catástrofes de Hollywood como “2012”. Por que essa necessidade das religiões e do imaginário contemporâneo criarem profecias, apocalipses e contagens regressivas? Por que essa obsessão “necrospectiva”?

Final de ano é um momento de retrospectivas que dominam quase totalidade dos conteúdos das mídias. Como todo tipo de olhar que use o prefixo “retro”, é um misto de nostalgia e compulsão de colecionador em querer catalogar e organizar o passado. Dessa forma, a necessidade retrospectiva é um subproduto do pensamento racionalista Ocidental de tentar encontrar nos eventos recorrências, padrões ou sentido. Lá tentamos achar lições ou conhecimentos que nos orientem em direção ao futuro.

Mas uma obsessão maior parece sobrepor esse olhar retro: a Necrospectiva, no sentido dado pelo pensador francês Jean Baudrillard – a liquidação de todo e qualquer futuro em uma contagem regressiva. O futuro transformado em bomba relógio. O tempo não mais contado aditivamente como nas retrospectivas, mas como subtração começando do fim nas proféticas necrospectivas (veja BAUDRILLARD, Jean, Paroxism: the end of the millennium or the countdown).

domingo, dezembro 16, 2012

No Terceiro Aniversário uma questão: o "Cinegnose" é um blog "sobre Gnosticismo" ou "Gnóstico"?

O blog “Cinema Secreto: Cinegnose” chega ao terceiro aniversário com a notícia de que chegamos ao Top 3 dos finalistas do prêmio Top Blog 2012 na categoria “Arte e Cultura”. Projeto iniciado com as análises dos filmes gnósticos na dissertação de mestrado, o “Cinegnose” começou com uma linha editorial “sobre Gnosticismo”: especializado na análise de filmes gnósticos como ponto de partida para aprofundar temas filosóficos do Gnosticismo. Chegamos ao terceiro ano expandindo a discussão, dessa vez optando pelo “olhar gnóstico”, resultando numa abordagem mais abrangente para o Cinema, Audiovisual e Cultura Pop.

Esse mês o “Cinema Secreto: Cinegnose” faz aniversário. Pela terceira vez! Esse foi o terceiro ano de um projeto iniciado com a dissertação de mestrado “Cinegnose: a recorrência de elementos gnósticos na produção cinematográfica norte-americana – 1995 a 2005”, defendida na Universidade Anhembi Morumbi. Como sempre, ao final da edição de qualquer produto cultural (seja um CD, filme, livro ou dissertação) muito material acaba ficando de fora por absoluta falta de tempo e espaço físico.

Ao final da análise sobre a recorrência de elementos gnósticos (narrativas, mitologias, símbolos, iconografia etc.) até 2005, percebi que, na verdade, o objeto da análise estava em constante desdobramento e evolução: filmes posteriores como “Ilha do Medo” (2010), “A Origem” (2010) e até o brasileiro “Os Famosos e os Duendes da Morte” (2009) demonstravam que o Gnosticismo era uma influência cada vez mais presente (explícita ou implícita) em temas e roteiros fílmicos.

Foi então que ao final de uma das aulas no doutorado da ECA-USP, a professora Gloria Kreinz sugeriu-me: por que não faz um blog? Seria uma forma de dar vazão a todo esse material que ficou de fora do inevitável corte metodológico que todo trabalho científico impõe.

quinta-feira, dezembro 13, 2012

Filme "Capricórnio Um": o pai de todas as conspirações

Um clássico dos filmes sobre conspirações. Talvez, o pai de todas as teorias conspiratórias sobre o programa espacial norte-americano. O filme “Capricórnio Um” (1977), escrito e dirigido por Peter Hyams, se insere em uma tendência de filmes dos anos 1970 estranhamente perturbadores. Muitos críticos reconhecem que essa década foi a era de ouro do Cinema com filmes cujas narrativas são dominadas por atmosferas paranoicas e esquizofrênicas. Um filme que inspirou todas as futuras teorias conspiratórias e que tornou crível a possibilidade de que o pouso na Lua jamais tivesse ocorrido. Além do diretor Peter Hyams oferecer uma ótima oportunidade para se discutir a importância fetichista que damos às imagens na cultura contemporânea.

Embora a indústria do entretenimento norte-americano alimente essas atmosferas desde o pânico em massa criado pela transmissão radiofônica de Guerra dos Mundos de 1938, o gênero fílmico noir nas décadas de 1930-40 e a paranoia anti-comunista simbolizada por filmes sci fi de marcianos invadindo a Terra e corpos humanos nos anos 1950, foi na década de 1970 que a paranoia alcançou sua maturidade crítica: não só apontou que havia algo de errado na sociedade mas começou a sugerir o que estava por trás dela.

“Capricórnio Um” parte de uma questão que estará por trás de todas as teorias das conspirações até hoje: e se o maior evento da história recente jamais tivesse acontecido? Essa era a pergunta nos anúncios promocionais do filme em 1978 onde víamos uma foto com astronautas do lado de fora de uma espaçonave em uma paisagem marciana fake, rodeados por câmeras e spots de um estúdio hollywoodiano.

O filme inicia com os últimos minutos que antecedem o lançamento do foguete “Capricórnio Um” que conduzirá três astronautas (performados por James Brolin, Sam Waterson e O. J. Simpson) para o primeiro pouso tripulado em solo marciano. Faltando poucos minutos para o final da contagem regressiva, os astronautas são secretamente retirados do interior da cápsula e levados para longe dali, para um hangar abandonado no meio de um deserto, enquanto o foguete é lançado em direção à Marte sem a tripulação.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Réquiem ao cinema e a identidade em "Holy Motors"

Surreal, enigmático e bizarro. Mais do que uma homenagem ao Cinema, “Holy Motors” (2012) do diretor francês Leos Carax expressa incertezas e temores diante da ruptura digital que se impõe a uma mídia cuja essência é mito e magia. O medo da obsolescência do “Motor Sagrado” (o dispositivo cinematográfico) substituído por mundos virtuais onde tanto os espectadores como diretores poderão ser qualquer coisa, até esquecerem o que já foram um dia.

Definitivamente o diretor, crítico e escritor francês Leos Carax (“Les Amants Du Pont-Neuf”, 1991;  “Pola X”, 1999; “Tokyo”, 2008) não mantém uma boa relação com a produção cinematográfica e o futuro digital do Cinema. Quando sua última produção, “Holy Motors”, foi exibida este ano no Festival de Cannes o ator Denis Lavant (que interpreta o protagonista Mr. Oscar) afirmou que o filme era “uma declaração poética do amor sobre a espécie humana”. Prontamente, Carax se opõe: “Não é nada disso, mas tudo bem!”. “Mas você não explica suas intenções narrativas aos atores antes de filmar?”, perguntou um jornalista em Cannes. “Eu nunca trabalho com pessoas que necessitem disso. Eu não trabalho com pessoas que me façam perguntas. Esse é o problema de eu estar falando com você”, responde Carax de forma corrosiva ao jornalista. (veja “Holy Motors: the weird world of Leos Carax in: The Guardian 27/09/2012).

Muitos críticos especulam que o enigmático “Holy Motors” é uma exuberante homenagem ao Cinema que ele tanto ama, desde os tempos quando escrevia crítica cinematográfica. De fato, é um filme sobre cinema, uma grande metalinguagem que faz lembrar “Império dos Sonhos” (Inland Empire, 2006) de David Lynch. Porém, “Holy Motors” está muito mais para um réquiem do que uma homenagem ao Cinema. Carax nos fala sobre os destinos do Cinema na era digital e da Internet, da ameaça da obsolescência do dispositivo cinematográfico, o “motor sagrado” do título.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Niemeyer e Brubeck: a morte da utopia da "arte total"

Em meio à influência do cartesianismo de Le Corbusier e Bauhaus no Palácio do Itamarati, Oscar Niemeyer inseriu a sensualidade e força ascendente de uma escadaria interior que reinventou a vanguarda. O riff de piano sincopado, quase sinistro, de “Take a Five” acompanhado por uma misteriosa linha de saxofone que flutuava sobre o ritmo 5/4 igualmente foi outra reinvenção, dessa vez de Dave Brubeck no Jazz. A morte desses dois artistas no mesmo dia tem um significado altamente simbólico, sincromístico: não foi apenas a morte de dois grandes expoentes nas suas respectivas áreas de atividade – arquitetura e música – mas o desfecho ao mesmo tempo de uma era e da utopia que sustentou todo o movimento modernista do século XX: a “obra de arte total”, a utopia romântica de que a arte abandonasse o estéril esteticismo e fosse capaz de fazer uma síntese entre o artístico e o social.

Leveza e elegância. Assim pode ser definida a arte tanto de Niemeyer quanto de Brubeck, menos por uma suposta “poesia do concreto” ou pelo “jazz branco” como alardeiam os obituários midiáticos e muito mais pelo excelente paradoxo que eles representaram: diferente das vanguardas artísticas tradicionalmente agressivas e arrogantes, eles conseguiram conciliar a invenção dentro da tradição. Niemeyer inseriu a curva, sensualidade e imaginação no cartesianismo das linhas retas e angulosas de Le Corbusier e Mies Van Der Rohe, enquanto Brubeck inseriu métricas inspiradas em músicos de rua da Turquia (quando da excrusão com o seu Quarteto naquele país na década de 1950) no jazz tradicional do tempo 3/4 ou 4/4, métricas características da valsa.

Como típicos artistas representantes do ideário modernista, viam nas suas artes muito mais do que um diletante esteticismo, mas buscavam a obra de arte total capaz de integrar arte e vida, estética e sociedade.

quarta-feira, dezembro 05, 2012

A dialética da família: de "Charlie e Lola" aos "Simpsons"

O irmão mais velho assume a imagem de mentor outrora ocupada pelos pais; duas meninas demonstram poder desenvolver valores sem a necessidade de qualquer tipo de influencia de adultos; e em outro caso um personagem no papel de pai cuja autoridade é rebaixada pela sua absoluta incapacidade de lidar com as tecnologias que o cercam. Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi desenvolvida por alunos da graduação da Escola de Comunicação encontra nas animações infantis, adolescentes e adultas a recorrência não só do desaparecimento simbólico ou mesmo literal da figura dos pais como, também, do anacronismo ou deficiência em desempenhar os papéis que deveriam ocupar na formação social dos filhos. Além disso, personagens e narrativas expressariam a chamada "dialética da família" contemporânea: a crítica à autoridade patriarcal como anacrônica e autoritária ao lado de um modelo familiar igualitário e liberal foram historicamente emancipadores, mas, por outro lado, expôs as novas gerações às insidiosas e sedutoras novas formas de manipulação.

Em postagem recente intitulada “Por que os pais desapareceram do imaginário infantil?” discutíamos como o anacronismo da família como agencia socializadora, suplantada pela indústria cultural das celebridades e entretenimento ao oferecer novos modelos de “super-pais”, estava sendo representado por animações infantis onde se verifica uma significativa recorrência de situações onde os pais desaparecem simbolicamente e até mesmo fisicamente.  

O grupo de estudantes formados por Ana Lucia Borsari, Eduardo Gomes, Laryssa Valverde, Leonardo Salles e Nicolas Gomes da graduação da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi (UAM/SP) decidiu então aprofundar a discussão do post em um trabalho de iniciação científica para a disciplina Estudos da Semiótica, procurando matizar as animações em três tipos de públicos: infantis, adolescentes e adultos. Respectivamente, o universo da pesquisa foram “Backyardgans”, Charlie e Lola, Pink, Dink Doo”e “Milly e Molly”; Os Flintstones e os Jetsons; e o último grupo “Os Simpsons” e “Uma Família da Pesada”.

sábado, dezembro 01, 2012

Um sci fi comunista: "Aelita - A Rainha de Marte"


“Sigam nosso exemplo camaradas! Unam-se numa família de trabalhadores, numa União Marciana de Repúblicas Socialistas Soviéticas”, brada o herói em um levante de operários nos subterrâneos de Marte contra uma espécie de totalitarismo czarista de outro mundo. Considerado o primeiro filme de ficção científica soviético, “Aelita - Rainha de Marte” (1924) é na verdade um anti-sci fi. Os revolucionários bolcheviques já se consideravam o futuro e a vanguarda, não precisavam de filmes sobre futuros utópicos. Como pretende demonstrar no filme, a utopia sobre viagens espaciais somente poderia ser uma excrescência do individualismo burguês. Mas ironicamente “Aelita” acabou influenciando clássicos do expressionismo alemão como “Metrópolis” e séries das futuras matinês dos cinemas norte-americanos como “Buck Rogers”. Também "Aelita" vai inaugurar o imaginário sobre Marte e a paranoia das invasões no secúlo XX.

domingo, novembro 25, 2012

O homem prisioneiro do tempo em "Matadouro 5"

O filme “Matadouro 5” (Slaughterhouse Five, 1972)  é um dos mais niilistas e desesperançados filmes gnósticos: sem saída, o homem é prisioneiro no tempo e condenado por alienígenas a repeti-lo por toda a eternidade. O que torna o filme “Matadouro 5” um clássico dos filmes com temática gnóstica é que ele inicia uma crítica metafísica de fatos que tradicionalmente são abordados pelo viés da crítica política ou social. No filme, a guerra não é mais enquadrada pela crítica ideológica ou política, mas, agora, como mais um fato dentro de um absurdo plano cósmico levado a cabo por demiurgos alienígenas.

"Matadouro 5" foi um dos filmes que mais impactaram a minha adolescência nos anos 70. O filme, baseado na obra consagrada de Kurt Vonnegut Jr. (escritor de ascendência germânica e falecido em 2007 nos EUA), é uma mistura de II Guerra Mundial, viagens no tempo e alienígenas de um planeta chamado Tralfamador. Uma mistura aparentemente bizarra que segue a linha do humor negro e das obras anti-guerra ou pacifistas dessa época (filmes como “Ardil 22” - Catch 22 de 1970, “Mash” de 1970 ou “Dr. Fantástico” - Dr. Strangelove, 1964 - de Kubrick são outros bons exemplos).

O filme narra a vida do protagonista Billy Pilgrim, soldado americano na II Guerra Mundial e sobrevivente ao infame bombardeio da cidade de Dresden, na Alemanha, no final da guerra (para quem não sabe, Dresden não era um alvo militar, mas acabou tornando-se vítima de pesado bombardeio aéreo aliado que resultou em 135 mil mortos, o dobro de mortos de Hiroshima).

sexta-feira, novembro 23, 2012

A máfia midiática elimina o Estado em "Generation P"

Che Guevara ensina lições sobre o novo capitalismo e o marketing moderno em meio a viagens lisérgicas e místicas de um protagonista que tenta se adaptar à Rússia pós-comunismo. “Generation P” (2011) do russo Victor Ginzburg consegue fazer uma adaptação de um livro considerado impossível de ser transposto ao cinema: “Babylon” do escritor Viktor Pelevin. Ginzburg faz uma espécie de revisionismo da recente história russa pós-comunismo sob o irônico título “Generation P” – o “P” de Pepsi-Cola referindo-se àqueles que abraçaram o produto como o gosto oficial da nova liberdade. Na verdade, Ginsburg mostra um verdadeiro circo onde misticismo e religião se misturam com imagens midiáticas geradas com recursos digitais por profissionais egressos do mundo da publicidade comandados por uma poderosa máfia que, secretamente, controla o Estado e define os destinos da Rússia.

Em 1997 o Barry Levinson dirigiu “Mera Coincidência” (Wag The Dog) onde um presidente norte-americano às vésperas da reeleição envolve-se em um escândalo sexual na Casa Branca. O staff do presidente contrata um produtor de Hollywood para criar uma fictícia guerra com a Albânia para, através de recursos de marketing e edição digitais de vídeos, fazer a mídia morder a isca e repercutir uma guerra fake que desvie a atenção da opinião pública do escândalo sexual.

“Generation P” do russo Victor Ginzburg é mais radical: e se o próprio Estado e todos os seus eventos políticos (corrupção, atentados e guerras) forem fake? Isto é, e se os eventos políticos ou o próprio Estado não passarem de imagens midiáticas geradas com recursos digitais por profissionais egressos do mundo da publicidade comandados por uma poderosa máfia que, secretamente, define os destinos da Rússia? Presidentes, políticos e ministros nada mais seriam do que os próprios componentes dessa máfia que foram escaneados e inseridos digitalmente nos noticiários, propaganda política e eventos reais produzidos cinematograficamente. E tal escaneamento ocorreria dentro de um ritual antigo babilônico a Ishtar, deusa do amor!

segunda-feira, novembro 19, 2012

A angústia da existência no filme "eXistenZ"

Se Basilides (um dos primeiros professores gnósticos em Alexandria, Egito, no século II da Era Cristã) fizesse um filme, certamente teria sido “eXinstenZ” (1999). Um filme onde o canadense David Cronenberg leva a relação entre o homem e a tecnologia ao limite do niilismo, do vazio e da angústia. Não tanto pelo fato das fronteiras entre real/virtual e verdade/ilusão desaparecerem em um sofisticado jogo virtual. Mas pela forma como um jogo transforma-se em fetiche erótico e religioso pelo marketing de uma poderosa corporação, impedindo a transcendência espiritual: de que a própria existência transforme-se em eXistenZ.

  Basilides nutria uma radical desconfiança em relação à linguagem porque a verdade sobre Deus estaria além do conhecimento humano: a linguagem não conseguiria apreender a plenitude e o eterno porque nela o homem torna-se obcecado em apreender as qualidades do devir nomeando-as através de conceitos e palavras estáticas uma realidade que é difusa, fluída, relativa. Preso nessa intransitividade entre os sistemas simbólicos e Deus, o homem se tornaria prisioneiro dos próprios conceitos e palavras, não conseguindo ouvir, dentro de si, a reminiscência do Uno, do Pleroma, da plenitude original que o uniria a Deus.

      Na modernidade essa angústia gnóstica é secularizada principalmente pela Filosofia existencialista, por exemplo, em Heidegger: o conceito de “Deus” é transformado em “Ser” e a angústia humana está na impossibilidade de apreendê-lo em seu sentido por meio de expressões ou enunciações. A impossibilidade da apreensão ôntica do Ser joga o ser humano na existência: o “ser-aí”, “o ser-no-mundo” ou o “ser-para-a-morte”.

     “eXistenZ” de Cronenberg transpõe essa angústia tanto gnóstica como existencialista para a discussão tecnológica: poderá o desenvolvimento tecnológico em sua interface final (a biotecnologia onde corpos e máquinas se integram por meio da informação) finalmente resolver essa angústia de séculos de religião e filosofia? A virtualização tecnológica por meio de jogos cada vez mais realistas baseados na interatividade e imersão dos jogadores poderá traduzir a verdadeira natureza do Ser como jogo onde as ações dos participantes é regida pelo princípio da aleatoriedade?

quinta-feira, novembro 15, 2012

O Mensalão e a agenda setting: a "Matrix" na prática

Muito discutida e ainda pouco compreendida, a essência do filme “Matrix” (a hipótese da virtualidade do real) talvez já esteja presente no nosso dia-a-dia mais do que imaginamos. A pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos Casos Mensalão e Cachoeira” feita por estudantes de jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi São Paulo como conclusão do curso “Estudos da Semiótica” apresenta a constatação de que a mídia corporativa não tem mais o poder de eleger presidentes ou forçar impeachments como no passado, mas ela é eficiente em estabelecer pautas e agendas como a do atual julgamento do chamado “Mensalão”.  Se a hipótese da agenda setting for correta, o que chamamos de “realidade” poderia ser uma construção a partir de percepções e cognições fornecidos por um ambiente midiático em que vivemos.

Virtuosismo tecnológico, capas pretas, bullet time e todo o visual ciberpunk marcaram as representações dos mundos virtuais em filmes como “Matrix”: humanos enredados nos véus da ilusão criada por computadores/demiurgos que nos escravizam. Mas descontando todo esse sensacionalismo hollywoodiano em torno da hipótese da virtualidade do real, podemos nos surpreender ao descobrir que a essência do tema de Matrix já está presente em nosso dia-a-dia, tão diluído nos temas das nossas conversas e na indústria de informação e entretenimento que nem nos damos conta: mais do que uma figura retórica, já há muito tempo experimentamos a Matrix na prática!
        
      Isso é o que demonstra a pesquisa “Agenda Setting e a Cobertura dos Casos Mensalão e Cachoeira”, trabalho de conclusão da disciplina Estudos da Semiótica da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi – UAM/São Paulo (veja video abaixo). O grupo formado pelos estudantes da graduação em Jornalismo Ana Carolina Cassiano, Cainã Ito, Camila Albino, Gustavo Carratte e Renata Corona analisou as capas e primeiras páginas dos principais veículos de imprensa de alcance nacional e chegou a uma constatação empírica: até o início do segundo semestre o foco dos veículos como jornais “O Globo”, “Folha de São Paulo”, “O Estado de São Paulo” e de revistas como “Veja”, “Isto É” e “Época” “estava concentrado nas repercussões das denúncias envolvendo o contraventor Carlinhos Cachoeira. O julgamento do chamado Mensalão ainda era pouco comentado”.

segunda-feira, novembro 12, 2012

Os idosos nada têm a dizer na mídia


Quando o envelhecimento e a morte deixam de ser simbolicamente incorporados na cultura por meio de religiões e filosofias, o discurso midiático parece insistentemente querer demonstrar que a velhice não existe, que é tudo uma questão de atitude psicológica. Gerontologia, geriatria, engenharia genética e todo um aparato tecno-científico é atualmente mobilizado para, associado à mídia, apresentar sensacionais “lições de vida” e “superações”: idosos em praticas e comportamentos análogos ao dos jovens criando não apenas uma aversão aos processos naturais de envelhecimento mas, principalmente, a crise da função dos idosos como “elo geracional”: a transmissão de sabedoria e conhecimento acumulados em uma existência.

sábado, novembro 10, 2012

Sintoma e verdade nos zumbis

Por que pessoas fingem-se de mortos que se arrastam pelos centros urbanos do mundo, famintas por cérebros e sangue dos vivos? Como interpretar um flash mob como o “Zombie Walk” onde centenas de pessoas se transformam em realísticos zumbis, há onze anos espalhando-se por diversas capitais do mundo? Desde as lendas afro-caribenhas de pessoas que retornam do mundo dos mortos como assustadoras sombras de si mesmas até a recorrência dos mortos vivos no cinema, o fascínio pelos zumbis já produziu uma razoável bibliografia de pesquisadores que chegam a vê-los como um objeto de estudo etnográfico. Mas é inegável que os mitos e lendas dos zumbis possuem uma dupla dimensão: de um lado são sintomas de crises sociais e, do outro, possuem um momento de verdade ao fazer nos lembrar da condição humana nesse mundo.

      O flash mob “Zombie Walk” vem nos últimos anos ganhado cada vez mais espaço na mídia e seus participantes aprimorando cada vez mais no realismo das maquiagens e máscaras, trôpegos arrastando suas fantasias lentamente através de centros urbanos pelo mundo. No evento surgido em 2001 na Califórnia e que rapidamente se espalhou pelo mundo, vemos centenas de humanos fingindo-se de mortos que apodrecem enquanto lançam olhares e gestos ameaçadores para os desavisados, como se quisessem comer uns aos outros. Por que queremos fazer tais coisas? Por que os zumbis ou mortos vivos acabaram se tornando uma fantasia cinemática tão recorrente a ponto de produzir uma razoável bibliografia de pesquisadores que chegam a tratá-los como objeto etnográfico?

      Se olharmos atentamente a história da lenda dos zumbis, suas origens e desenvolvimento até chegar no cinema e na mídia, perceberemos que ela claramente apresenta duas dimensões: como sintoma social (conflitos de raça e classes) e como arquétipo, isto é, como um simbolismo do inconsciente coletivo que se filia ao imaginário dos autômatos, fantoches e bonecos como representação da condição humana nesse planeta.

quinta-feira, novembro 08, 2012

O espelho global no safári africano do Tocantins

O projeto de um parque temático milionário em pleno Tocantins (Out of África Brasil) promete trazer leões, rinocerontes, antílopes, entre outros, das savanas africanas para um safári no cerrado brasileiro. Definitivamente o Brasil se insere no imaginário da Globalização onde eventos, geografias e culturas se desterritorializam para circular pelo mundo ao sabor dos fluxos financeiros e midiáticos. Nesse imaginário os simulacros do “real” e do “selvagem” parecem ter uma única função: tal qual uma transfusão de sangue, injetar hiper-realidade em um real cujo sentido se enfraquece - o “selvagem” se humaniza como um espelho da nossa própria desumanidade: o parque temático selvagem torna-se mais “real” quanto mais é centrado no “show” da luta dos predadores e presas como lição moral para a nossa “realidade”.

"Brasil e África se juntam depois de milhares de anos que uma fissura nas placas tectônicas transformou o que hoje são dois continentes com características tão semelhantes. Agora já podemos sentir o coração de África no Tocantins." Essa é uma frase retirada do vídeo promocional de um projeto de trazer para o meio do Tocantins um típico safári africano. No projeto orçado em 350 milhões de dólares, em uma reserva de 100 mil hectares seriam colocados mais de 400 indivíduos de espécies como leões, leopardos, elefantes e búfalos. Em pleno cerrado brasileiro teríamos animais vivendo como nas savanas africanas (clique aqui para ler a notícia).

É muito curiosa essa associação entre o deslocamento das placas tectônicas que separaram os continentes por forças magnéticas do interior da Terra e um investimento milionário que pretende reunir novamente África e América do Sul através de um parque temático. Se no passado a deriva dos continentes separou, agora a energia eletromagnética e espectral da indústria do entretenimento vai unir.

Mas será que vai unir mesmo? Ou há uma semelhança irônica desses dois fatos separados no tempo? Em outras palavras, e se no safári do Tocantins estivermos experimentando o mesmo fenômeno de descolamento e desconexão do passado? Continentes foram arrastados pelas forças internas do planeta; hoje culturas e geografias são transformadas em signos pelas forças midiáticas e do marketing para se deslocarem para pontos distantes das suas origens.

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