sábado, fevereiro 11, 2017

Em "Black Mirror" a tecnologia é espelho sombrio de nós mesmos


A narrativa corporativa e publicitária sobre as tecnologias da informação sempre foi a da “estrada para o futuro”, uma estrada que supostamente nos conduzirá ao paraíso da comodidade, no qual todo conhecimento  que necessitarmos estará ao alcance de um clique ou de um toque na tela. Mas a série britânica Black Mirror (2011- ) vai na contra mão: sem ser tecnofóbica, mostra futuros próximos, mas estranhamente atuais, onde paradoxalmente a tecnologia evoluiu tanto que atingiu um ponto de inutilidade e disfuncionalidade. Os seis episódios da terceira temporada de 2016 mostram o “vanish point” de gadgets como mídias sociais, realidade aumentada, dispositivos móveis e games: o ponto de viragem tecnológico no qual a racionalidade se converteu em mal estar psíquico, crime, ódio e anomia. A expansão das redes de informação foi muita mais rápida que a produção de conteúdo (conhecimento). E a lacuna foi preenchida por espelhos sombrios de nós mesmos.

quarta-feira, fevereiro 08, 2017

Os mortos da escravidão ainda assombram o Brasil em "O Diabo Mora Aqui"


“O Diabo Mora Aqui” (2015), de Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, filia-se a uma nova safra de filmes de terror brasileiros como “Quando Eu Era Vivo”, “Trabalhar Cansa” e “Mar Negro” – produções nacionais que procuram uma terceira via entre a paródia e o “filme de arte”: filmes com “cara de cinema” por seguirem as convenções do gênero, porém com uma abordagem brasileira com folclore, religiosidade e lendas urbanas nacionais. Filmes que revelam a essência do gênero do terror, principalmente o “exploitation”: um atalho para o inconsciente coletivo de um país e de uma cultura. No caso de “O Diabo Mora Aqui”, com a clássica narrativa de jovens em uma fazenda num lugar remoto no interior de São Paulo que sem querer libertam o Mal, revela como o Brasil supostamente moderno e globalizado ainda é assombrado pelos fantasmas do seu inconsciente coletivo: o passado escravocrata que não consegue ser redimido condenando-nos ao ciclo vicioso de ódio e autodestruição.

segunda-feira, fevereiro 06, 2017

"Medo e Delírio em Las Vegas" faz acerto de contas com a utopia psicodélica


"Medo e Delírio em Las Vegas” (Fear and Loathing in Las Vegas, 1998) foi o início do acerto de contas do diretor Terry Gilliam com a sua geração (a utopia psicodélica de que as drogas abririam as portas da percepção nos libertando de realidades opressivas), encerrado com o filme “Contraponto” (Tinderland) em 2006. O filme baseou-se no livro homônimo  de Hunter Thompson, o marco do chamado “Jornalismo Gonzo” no qual a ficção seria mais poderosa do qualquer tipo de reportagem objetiva. Mas parece que toda uma geração esqueceu do alerta do escritor maldito Charles Bukowski: atualmente a realidade supera qualquer imaginação literária. Como centro espiritual de uma cultura planetária, Las Vegas incorporou (através da tecnologia) todos os delírios lisérgicos, não mais para libertar, mas agora para fazer as pessoas consumirem e perder dinheiro em mesas de jogos. Mais tarde, toda a indústria do entretenimento colocaria em prática a distopia de Las Vegas. Os heróis lisérgicos dos anos 1960-70 acabaram se transformando em nostálgicos freaks, impotentes diante dos delírios de LSD emulados pelas casas noturnas e raves.

domingo, fevereiro 05, 2017

Curta da Semana: "Being Batman" - o homem que acredita ser o próprio Cavaleiro das Trevas


No começo esse humilde blogueiro achava que o curta “Being Batman” (2016), de Ryan Freeman, fosse mais uma sátira sobre o super-herói. Até perceber que o curta é um documentário com um personagem real que vive na cidade de Brampton, em Ontário, Canadá. Um homem que acredita ser o próprio Batman e que os acontecimentos trágicos da sua vida fizeram-no se conectar sincronicamente ao personagem fictício de Bruce Wayne. Todas as noites Stephen Lawrence sai da sua “batcaverna” a bordo de uma réplica do batmóvel do filme de 1989 de Tim Burton para vigiar as ruas da cidade. No curta “Being Batman” Lawrence dá depoimentos sobre a sua vida como Batman. Mostra sua casa transformada em batcaverna, suas armas e a rotina noturna. Isso não é cosplay: Lawrence diz ser o próprio Batman!

sábado, fevereiro 04, 2017

Para tautismo da Globo Marisa Letícia supostamente morreu


O tautismo (autismo + tautologia) crônico da TV Globo chegou a um nível bizarro e surreal com a “morte” de Dona Marisa Letícia. Enquanto a emissora mostrava imagens de pesar e condolências (minuto de silencio no Congresso e os pêsames de FHC a Lula), a Globo se apegava ao “protocolo de morte encefálica” para adiar em 18 horas o anúncio do falecimento e a palavra “morte”. Uma cobertura, no mínimo, anômala: em se tratando de políticos, celebridades e artistas o "modus operandi" da grande imprensa diante da morte sempre foi o sensacionalismo, ilações e especulações. Por que esse inesperado comedimento, como se repórteres e apresentadores usassem luvas de pelica enquanto pisavam em ovos? No dia 02 de fevereiro, Dona Marisa Letícia estava supostamente morta. Para no dia seguinte a palavra “morte” ser anunciada de forma protocolar. Para quê serviu esse pesar tautista da Globo? Algumas hipóteses: (a) AVC político, (b) Lula vai ser preso, (c) Sebastianismo e Eleições 2018, (d) Tática do diversionismo, (e) Corrente de Esperança.

quinta-feira, fevereiro 02, 2017

Realidade é esquecimento consensual no filme "Os Esquecidos"


Desculpe, caro leitor, o trocadilho involuntário mas o filme “Os Esquecidos” (The Forgotten, 2004) acabou sendo esquecido pela crítica e público. E com razão! Foi um filme que explorou elementos clássicos do gnosticismo pop hollywoodiano. Mas naquele momento, a safra de filmes gnósticos revelava filmes muito mais memoráveis como as sequências de “Matrix”, “A Passagem”, “Vanilla Sky” ou “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. O filme conta com um argumento poderoso (a mãe que lembra do filho morto em um acidente, mas todos ao redor insistem em dizer que a criança jamais existiu), mas o roteiro é inverossímil sem conseguir definir o tom narrativo – alguma coisa entre sci fi, mistério e thriller policial. Apesar disso, “Os Esquecidos” é uma filme didático: mostra como os temas do esquecimento, paranoia e conspirações são articulados dentro de uma narrativa gnóstica. Ecoando filmes clássicos como “Dark City” e “Amnésia” de Christopher Nolan, mostra que a chamada “realidade” pode ser o produto de um esquecimento consensual.

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Eike Batista: Efeito Heisenberg e lixo midiático reciclado


A política brasileira parece estar sendo dirigida pelos misteriosos desígnios das “coincidências”. Os exemplos mais recentes: a morte do ministro do STF Teori Zavascki no Triângulo das Bermudas da política em Paraty e a prisão do pobre homem rico “foragido” Eike Batista, repletos das sempre recorrentes “coincidências” e timings oportunos envolvendo a onipresente TV Globo. Qualquer tentativa de explicar essas “coincidências” (rapidamente definidas pela narrativa midiática como “fatalidades” das “trapaças da sorte”) é logo rotulada como “teoria conspiratória”. Mas o show midiático da “caça” ao “foragido” Eike Batista acrescenta alguns ingredientes a mais: o chamado Efeito Heisenberg, no qual a mídia cobre um evento criado por ela mesma; e o linchamento midiático: depois dos petistas agora são as celebridades, subprodutos da própria mídia. Linchamento que combina entretenimento e expiação da dor e introjeção da culpa pelo fracasso profissional e pessoal de milhões de brasileiros no naufrágio da crise econômica. Mesmo no seu fim, Eike Batista se tornou útil como um lixo midiático reciclável no bode expiatório da vez.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

I Ching, Cinema e mundos quânticos na série "The Man in The High Castle"


Qual a relação entre o milenar livro-oráculo "I Ching", o Cinema no século XX e a hipótese dos Múltiplos Mundos da Física Quântica? A busca dessas conexões é o desafio para o espectador que assiste à série da Amazon Studios “The Man In The High Castle” (2015 - ) livremente inspirado no livro do escritor sci-fi gnóstico Philip K. Dick de 1962. Um mundo invertido no qual os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália)  ganharam a Segunda Guerra Mundial e os EUA, destruídos pela Grande Depressão, foram conquistados pelo Reich e o Império do rei Hirohito. Porém, a posse de estranhos rolos de filmes de procedência misteriosa passa a ser politicamente importante tanto para Resistência como para Hitler: neles, outros mundos são revelados. Tal como no I Ching, devemos encontrar o imutável em mundos fugazes e em constante mutação. Mas pode tornar-se uma arma política: o controle do Tempo, passado e futuro de toda a humanidade.

quinta-feira, janeiro 26, 2017

O filósofo Kierkegaard vai a Hollywood no filme "Passageiros"


Por que diante do precipício ao mesmo tempo em que temos medo, também sentimos o impulso de saltar para o fundo do abismo? Em 1844 o filósofo S∅ren Kierkegaard disse que isso deriva da ansiedade da descoberta de sermos livres para saltar ou não saltar. E sempre temos medo daquilo que mais desejamos. “Passageiros” (Passengers, 2016) retoma essas ideias do filósofo dinamarquês, inclusive com a referencia do abismo: só, no espaço sideral, diante do vazio do Universo, o homem teme por descobrir que é livre, como se retornasse ao mito do Paraíso, antes de Adão e Eva terem descoberto a árvore do conhecimento. “Passageiros” é mais uma amostra da recente guinada metafísica de Hollywood sob camadas de entretenimento e efeitos digitais. Assim como a animação “WALL-E” (2008), também faz uma releitura gnóstica do Gênesis bíblico: como o homem, prisioneiro numa gigantesca espaçonave-resort que ruma para a destruição, pode conquistar a liberdade e autoconhecimento.

terça-feira, janeiro 24, 2017

Globo virou black bloc

A Globo ainda tinha a tênue esperança de que delegados dissidentes do Colégio Eleitoral não ratificassem a vitória de Trump. Mas a cerimônia da posse e o discurso “porrada” do presidente arrasaram qualquer sonho dos ainda incrédulos correspondentes da emissora nos EUA. Mais eis que os esquecidos black blocs voltam a ação nas manifestações anti-Trump em Washington, tirando os analistas da emissora da depressão. Entusiasmada, a Globo News até reprisou o documentário sobre os black blocs exibido na época das manifestações de rua em 2013 no Brasil. Agora a Globo assume uma espécie de anarcotautismo: entrar na onda de turbinar as manifestações contra Trump, assim como fez nas manifestações anti-Dilma. Mas o tautismo crônico da sua bolha virtual não consegue perceber os movimentos do “deserto do real” que Trump representa: a crise do “neoliberalismo progressista” que sustenta a ordem da Globalização: o alinhamento perverso entre correntes dos movimentos sociais (feminismo, LGBT, antirracismo, multiculturalismo, entre outros), o setor de negócios baseados em serviços simbólicos e tecnológicos (Vale do Silício e Hollywood) e o capitalismo cognitivo representado por Wall Street e a financeirização.

segunda-feira, janeiro 23, 2017

Curta da Semana: "Help Us" - medo e culpa no altruísmo moderno


Caro leitor, chegou o momento de abrir o seu coração e esvaziar sua carteira para ajudar a curar alguma coisa que está errada com as pessoas desse curta-metragem. “Help Us” (2016), de Joel Cares, lembra aqueles vídeos institucionais de ONGs como Médicos Sem Fronteiras, Save The Children etc. Mas ao invés de vermos flagelados de algum lugar remoto e sem esperança, vemos uma família de classe média pedindo ajuda e o nosso dinheiro. O que há de errado com eles? Um curta que aplica  dissonância cognitiva e o método de comutação para fazer o espectador refletir sobre o destino da velha caridade e humanitarismo que hoje se transformou em “voluntariado” e “ativismo”. Qual a recompensa psíquica que encontramos na velha filantropia profissionalizada pelas ONGs? Qual a relação entre essa recompensa e os rostos "psychos" dos personagens do curta que ao invés de inspirarem altruísmo dão medo. 

sábado, janeiro 21, 2017

Paraty é o Triângulo das Bermudas da política brasileira?


Nesses momentos de tragédias que abrem possibilidades de inesperadas mudanças no cenário político (Quem perderá? Quem ganhará?) é sempre interessante ver as reações reflexas da grande mídia pega de surpresa. Ela parece sempre ter uma “narrativa reflexa”, pronta, que se manifesta como um ato falho: descrever um mundo onde os eventos são sempre aleatórios, fora de contextos, desconectados e sempre sujeitos a “trapaças da sorte”. A morte do Ministro do STF Teori Zavascki no acidente aéreo em Paraty rapidamente foi enquadrada em uma narrativa protocolar como se a grande mídia já tivesse o resultado antes mesmo das investigações: foi tudo uma fatalidade! Não importa a existência de estranhas anomalias, depoimentos contraditórios, sincronismos e o oportuno timing dos acontecimentos. Será que a grande mídia quer impor à sociedade uma “narrativa reflexa” para criar um fato consumado? Criar uma atmosfera de pressão política nas investigações oficiais que ora se iniciam? Ou será que, desde o desaparecimento de Ulysses Guimarães em 1992, a região de Paraty se transformou numa espécie de Triângulo das Bermudas brasileiro onde impasses políticos são resolvidos de forma drástica?

sexta-feira, janeiro 20, 2017

Um fim do mundo gnóstico e budista em "O Livro do Apocalipse"


Os filmes-catástrofes hollywoodianos sempre tiveram um papel bem freudiano: criar o objeto fóbico de medo para oferecer um bode expiatório capaz de espiar o mal estar da sociedade. Para quê? Para manter as pessoas na linha esquecendo dos seus problemas de obediência e disciplina com as obrigações que a sociedade cobra. Como fazer uma releitura dos clichês hollywoodianos desse subgênero? O filme sul-coreano “O Livro do Apocalipse” (“In-yu-myeol-mang-bo-go-seo, 2012) nos oferece uma surpreendente abordagem alternativa de zumbis, ameaça de robôs e meteoros que caem na Terra, temas tradicionais dos filmes apocalípticos ocidentais. Humor negro, “non sense”, Budismo e Gnosticismo se combinam em três contos onde o objeto fóbico é invertido: zumbis, robôs e alienígenas transformam-se em oportunidades para as pessoas repensarem a si mesmas e a sociedade.

terça-feira, janeiro 17, 2017

Algo engraçado aconteceu a caminho da Lua


Se no passado falar que o homem jamais pousou na Lua era coisa de velhos e iletrados incapazes de acompanhar a marcha do Progresso, hoje acabou se transformando em um verdadeiro subgênero audiovisual com filmes, documentários e minisséries para TV e cinema. Dessas dezenas de produções, uma se destaca: A Funny Thing Happened on the Way to the Moon (Algo Engraçado Aconteceu a Caminho da Lua, 2001) do jornalista investigativo Bart Sibrel – ele até chegou a levar um soco de Buzz Aldrin ao tentar fazê-lo jurar sobre a Bíblia que havia caminhado na Lua. O documentário foge dos temas clichês - anomalias nas fotos da Nasa e o “hoax” do diretor Stanley Kubrick envolvido na conspiração. Sibrel destaca o contexto da corrida espacial nos anos 1960, a flagrante vantagem tecnológica da URSS sobre os EUA naquele momento e algumas questões: como, depois de uma década de fracassos envolvendo explosões, incêndios e astronautas carbonizados na plataforma de lançamento, de repente a NASA empreende uma ousada e bilionária missão que, de cara, consegue colocar homens caminhando na Lua? Por que acreditamos? Só porque vimos na TV? Mas, e se tudo foi encenado sem a TV saber? Siebrel supostamente comprova a farsa com imagens de um vídeo da Nasa não editado no qual vemos astronautas da Apollo 11 simulando, na órbita da Terra, estarem a meio caminho da Lua enquanto ouvem a transmissão da direção da filmagem.

segunda-feira, janeiro 16, 2017

Inteligência Artificial como novo espelho individualista em "HyperNormalisation"


Certo dia um cientista do MIT criou um “computador terapeuta” chamado Eliza. Na verdade uma brincadeira, uma parodia sobre as tentativas frustradas em fazer uma Inteligência Artificial. As pessoas digitavam o que estavam sentindo e Eliza repetia a última frase, reformulando como fosse uma pergunta. Os “pacientes” começaram a levar à sério, passando horas diante de Eliza digitando seus problemas, desejos e motivações mais íntimas. Uma brincadeira que, sem querer, criou o paradigma que reformularia toda o conceito de Inteligência Artificial e abriria o campo dos algoritmos que controlam as atuais redes sociais e mecanismos de busca na Internet. Essa é uma das histórias do documentário “HyperNormalisation” (2016) de Adam Curtis. Analisado pelo “Cinegnose” em postagem anterior, vamos agora destacar como a fuga das pessoas para o ciberespaço, para escapar das complexidadse do mundo real, criou um outro aspecto da “HiperNormalização”: a Inteligência Artificial como um espelho individualista feito para criar a falsa sensação de estabilidade e segurança. Mas, às vezes, aspectos do “deserto do real” invadem essa bolha virtual.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

O tautismo politicamente correto da Globeleza vestida



“Mudança de pensamento”. “Reflexo das pressões feministas e das discussões sobre diversidade”. Alguns mais eloquentes falam em “vitória da sociedade”. São as repercussões de primeira hora da nova vinheta do carnaval da TV Globo na qual vemos uma nova Globeleza vestida, decretando o fim da tradicional nudez maquiada por camadas de tintas coloridas e adereços metálicos imortalizados pela estética retro-futurista do designer digital Hans Donner. Esse suposto avanço deve ser colocado na perspectiva de uma emissora pós-impeachment que vive a tensão de ter que aparentar ser imparcial e progressista. Mas o tautismo (autismo + tautologia) crônico da emissora transforma qualquer demanda da sociedade em um signo vazio no interior de um sistema linguístico autônomo sem qualquer referencia no mundo real. A vinheta é binária e circular. Não consegue superar o simbolismo da Globeleza que sempre foi expressão de um projeto nacional secreto no qual a Globo teria um papel decisivo - criar uma embalagem supostamente moderna para o único produto que o Brasil teria a oferecer para o mundo: suas belezas naturais e hiperssexualizadas, desfrutáveis para todo o planeta a um preço módico pela diferença cambial.

quinta-feira, janeiro 12, 2017

A ficção contaminou a Política no documentário "HyperNormalisation"



Era uma vez o colapso econômico da antiga União Soviética. Diante da inevitável decadência do modelo comunista de Estado, seus dirigentes partiram para uma inédita tática de “gestão da percepção”: manter a aparência de normalidade através de narrativas ficcionais que minavam a percepção das pessoas, criando aversão à política fazendo-as tocarem a vida como se nada estivesse acontecendo. Isso chama-se “HiperNormalização”, tática copiada pelo Ocidente desde Ronald Reagan nos anos 1980 – levar conceitos do teatro de vanguarda e dos roteiros hollywoodianos para o centro da Política a tal ponto que a diferença entre realidade e mentira passa a ser desprezada pelas pessoas e pelo próprio jornalismo. Dessa maneira, Trump “surpreendentemente” chegou a poder nos EUA. Esse é o tema do documentário da BBC “HyperNormalisation” (2016), realizado pelo britânico Adam Curtis. A história de como a política foi derrotada pela ilusão enquanto as pessoas apolíticas desistiram de mudar o mundo, refugiando-se no ciberespaço. Enquanto isso, corporações e o sistema financeiro administram tranquilamente o deserto do real.

terça-feira, janeiro 10, 2017

David Bowie: a morte mais bem encenada do rock


David Bowie fez parte de uma elite para a qual o futuro não existe: na verdade ele é feito como “Psico-História” – o futuro é vendido como “previsão” ou antecipação de “cenários futuros” (por isso Bowie era chamado de “camaleão”, como um artista que estaria sempre “à frente do seu tempo”), mas já foi decidido e escrito no presente por uma elite de artistas e empresários como Tony DeFries, Brian Eno ou Robert Fripp . Certa vez John Lennon chamou essa elite de “artesãos” que, segundo ele em entrevistas, estiveram por trás dos Beatles. Lennon os confrontou e, dizem, pagou com a própria vida. Já o gnóstico pop David Bowie decidiu partir para uma estratégia irônica: combater a simulação com a própria simulação – decidiu encenar a própria morte como uma suposta profecia contida de forma cifrada na letras e vídeos do álbum “Blackstar”. Um timing tão irônico que dois dias antes do aniversário da sua morte, é lançado o vídeo póstumo “No Plan” no qual Bowie parece relatar suas experiências pós-morte. Encenação suficiente para criar o “hoax” de que David Bowie ainda está vivo...

segunda-feira, janeiro 09, 2017

Curta da Semana: "Reset" - nada é o que parece


No curta sueco “Reset” (2013) nada é o que parece. Uma amorosa mãe lê rotineiramente para a filha cartas de um pai ausente que promete retornar em breve ao lar. Uma fazenda remota e isolada do resto do mundo guarda um mistério que, para ser resolvido, dependerá que a menina compreenda o sentido de estranhos códigos numéricos. Um surpreendente drama alusivo às mitologias gnósticas sintetizado em 16 minutos – a mitologia do retorno de Sophia à Plenitude, a função consoladora e ilusória das religiões para nos manter esperançosos dentro de uma prisão e a diversidade de mundos simulados.

domingo, janeiro 08, 2017

Em "Don't Blink" podemos ser apagados como fotogramas em um filme


À primeira vista, “Don’t Blink” (2014) é mais um filme sobre um grupo de jovens que se hospeda em uma cabana em algum lugar remoto para serem punidos por seus vícios e pecados, por algum serial killer. Mas estamos no terreno do horror independente e nada é o que parece: sem explicações um a um começa a desaparecer assim que o grupo tem a atenção desviada ou simplesmente fecha os olhos. Mais um filme inspirado no misterioso desaparecimento, sem deixar qualquer rastro, de uma colônia inteira no início da colonização dos EUA em 1587. Filmes como “O Mistério da Rua 7” e adaptações de Stephen King como “A Tempestade do Século” e “A Fenda no Tempo” (“The Langoliers”) também exploraram esse misterioso acontecimento, cada um com sua própria interpretação. “Don’t Blink” discute as consequências morais (o que você faria, sabendo que desapareceria nas próximas horas?) e deixa uma série de pistas narrativas para o espectador montar sua própria explicação. De uma hora para outra poderíamos ser arbitrariamente apagados como se a realidade fosse um conjunto de fotogramas, assim como o cinema? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

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