domingo, fevereiro 18, 2018

Em "The Man From Earth: Holocene" aquilo que o homem mais teme: o niilismo


“The Man From Earth: Holocene” (2017) é a continuação da saga iniciada com o primeiro filme em 2007 com um mix de ficção científica e especulação religiosa: John é um homem que diz ter vivido 14 mil anos, imortal. Um homem erudito que a cada dez anos se muda para ninguém perceber que nunca envelhece. Se no primeiro filme, John faz um embate filosófico e teológico com um grupo de cientistas, nesse segundo filme ele enfrentará duas ameaças: as novas tecnologias invasivas que ameaçam revelar sua identidade; e a busca desesperada do homem em busca de sentido para a existência que vê na imortalidade de John a resposta. O problema é que John Young na verdade é o espelho daquilo que o homem mais teme: o niilismo, a inexistência de qualquer propósito na vida terrestre.  

sábado, fevereiro 17, 2018

"Bomba Semiótica!": resposta à postagem de Fernando Horta no jornal GGN



O articulista Fernando Horta, do Jornal GGN, publicou a postagem “Bomba Semiótica?” na qual questiona o conceito como “um tremendo erro” ao colocar “a semiótica na frente do material”. Como “uma teoria maravilhosa” na qual se “esconde fracassos no sucesso de alguém”, ao fazer referência à repercussão política do desfile da Paraíso de Tuiuti. Como o termo “bomba semiótica” foi criado por este “Cinegnose” a partir do cenário da Guerra Híbrida no qual o Brasil foi alvo desde 2013, este humilde blogueiro faz algumas correções em uma interpretação errônea do conceito.

quinta-feira, fevereiro 15, 2018

Cinegnose participa de debate sobre guerra antimídia e carnaval na TV 247


        Respondendo ao convite do jornalista e editor-responsável pelo Brasil 247, Leonardo Attuch, esse humilde blogueiro participou de uma discussão no canal YouTube TV 247 sobre a repercussão do desfile da escola Paraíso do Tuiuti. O debate foi ontem à tarde (14/02), enquanto acontecia a apuração das notas do Grupo Especial do Carnaval do Rio.

        O que, junto com a participação dos comentários dos internautas, rendeu um bom debate sob o calor dos acontecimentos.

        Na verdade, o convite foi um desdobramento da última postagem deste Cinegnose sobre a guerrilha semiótica que representou esse último carnaval (" Guerra Antimídia no sambódromo, zumbis no carnaval e Grau Zero na Política... mas não conte prá esquerda" - clique aqui), desde " trolagens" e acontecimentos involuntários para jornalistas que faziam a cobertura da folia (repórteres pegos de surpresa com manifestações políticas etc.) até o ápice da bomba antimídia (contra-semiótica) das alas e carros alegóricos da Tuiuti.

        Um debate proveitoso, porque pude explicar de uma forma mais detalhada os conceitos de bomba semiótica, guerra híbrida, a evolução da cultura midiática em três fases (propaganda-repetição; publicidade-sedução; e a atual cultura de disseminação viral) e as lições para uma ação política antimídia.

        Confira o vídeo abaixo:


terça-feira, fevereiro 13, 2018

Guerra antimídia no sambódromo, zumbis no Carnaval e Grau Zero na política... mas não conte prá esquerda!


Enquanto a escola Paraíso do Tuiuti no Rio de Janeiro deixava Fátima Bernardes e Alex Escobar constrangidos ao vivo, quebrando o silêncio com cacos de falas desconexas enquanto alas de passistas mostravam Temer como “o vampiro neoliberatista”, “manifestoches” com patos amarelos da Fiesp e operários bradando carteiras de trabalho, em Curitiba o Carnaval era assombrado por uma Zombie Walk em plena cidade-sede da Lava Jato. Ao mesmo tempo a esquerda pensa em “frentes suprapartidárias” para ganhar tempo na eminente prisão de Lula e simplesmente se exime em ocupar o campo semiótico da sociedade. E a grande mídia ganha a guerrilha semiótica por W.O.. Com raras exceções como mostrou a Paraíso do Tuiuti... mas não conte para a esquerda, sempre muito ocupada com o jogo parlamentar no qual cada um tenta salvar a própria biografia com narrativas de “luta” e “resistência”. Será que alcançamos o “grau zero da política” como anteviu o pensador Jean Baudrillard, a Matrix política que simula escândalos e golpes para colocar em movimento signos vazios? Teoria da Conspiração? E se descobrirmos que essa expressão foi criada pela CIA em 1967 para tentar desacreditar todas as narrativas não-oficiais?

domingo, fevereiro 11, 2018

O homem é um hamster andando em uma roda no "VirtuSphere"


Um perfeito conto sobre tecnologia atual. Dois engenheiros, Jim Damascio e Ray Latypov, criaram uma empresa chamada VirtuSphere. E o seu produto também se chama VirtuSphere: uma bola de metal gigante, na forma de uma roda de hamster. Aquela dentro da qual os alegres roedores prisioneiros correm. As pessoas podem colocar seus óculos de realidade virtual, entrar na VirtuSphere e simular qualquer coisa que elas quiserem, andando, correndo e pulando como um hamster real. Um conto no qual a metáfora passou para a literalidade – para muitos pesquisadores as metáforas da bolha (o “filtro-bolha” de Eli Pariser) e da inércia (a “inércia polar” de Paul Virilio) são aquelas que melhor descreveriam a relação atual do homem com as máquinas. E um hamster correndo sem sair do lugar no interior de uma esfera é um exemplo de como a atual imaginação tecnológica não esconde mais suas pretensões tecnognósticas: de viajantes, nos transformar em passageiros, como apêndices de uma máquina.

quinta-feira, fevereiro 08, 2018

Curtas da Semana: " Restart" e "Einstein-Rosen" - uma sensibilidade gnóstica do Tempo-Espaço


Uma jovem é sequestrada e levada para um bunker subterrâneo para ser uma cobaia humana em experiência de loop temporal pelo obscuros interesses corporativos de uma empresa. E em 1982, junto com seu irmão, um menino procura um " buraco de minhoca" no tempo-espaço de uma área do prédio em que mora. Para jogar através da passagem a bola que recuperará 35 anos depois no mesmo local. Esses são os curtas espanhóis "Restart" e " Einstein-Rosen" de Olga Osorio. Duas produções que mostram como a mitologia gnóstica hoje tornou-se o "espírito do tempo": uma nova sensibilidade ou olhar para a realidade tanto política quanto existencial.

domingo, fevereiro 04, 2018

O monstro é o espelho da matrix humana em "A Forma da Água"


Uma fábula romântica ao estilo a Bela e a Fera? Um libelo contra o racismo, a intolerância e a demonização do outro em plena Era Trump? “A Forma da Água” (“The Shape of Water”, 2017) de Guillermo Del Toro, com 13 indicações ao Oscar, é tudo isso, mas vai muito além da estória de amor e de uma metáfora do contexto político atual. O “monstro”, um homem anfíbio capturado na Amazônia para servir de cobaia em um complexo científico-militar no auge da Guerra Fria, é o espelho da incomunicabilidade humana. Cada personagem vê na criatura o reflexo do seu drama interior – solidão, racismo, obsolescência etc. Preso nessa matrix de signos, o homem não consegue ver aquilo que está lá fora – outros seres que vivem em toda a sua especificidade e dignidade.

quinta-feira, fevereiro 01, 2018

Quando a mídia transforma vícios privados em virtudes públicas


Para impor seu DNA, leões matam os filhotes da cria anterior ao desposar a leoa. Da mesma maneira entre os humanos, em toda História, os vencedores submetem os vencidos a castigos e crueldades como forma de demonstração simbólica do poder. E no Brasil atual, os vencedores ostentam a conquista de terras arrasadas em shows midiáticos de demonstração de poder, confirmando o sombrio presságio dos escritores libertinos do século XVIII: um dia as perversões privadas se transformarão em virtudes públicas. O bizarro vídeo da deputada quase ministra Cristiane Brasil falando em “justiça” e “direitos” enquanto fortões seminus ao redor dela encaram a câmera de forma intimidadora; o trocadilho erótico de Rosângela Moro no Instagram; e a piada pronta de Temer no quadro “Topa Tudo Por Dinheiro” de Silvio Santos que se deliciava com uma pistola que disparava dinheiro são, além de exemplares da histórica violência simbólica dos vencedores, lições de propaganda política para a esquerda. Nem Cristine Brasil está preocupada com justiça e muito menos Temer quer convencer os telespectadores. São meras provocações, bombas semióticas para ocupar espaço midiático e criar espiral de polêmica diante de uma esquerda que apenas esperneia escandalizada.

terça-feira, janeiro 30, 2018

Em "Um Ponto Zero" a paranoia é a falha na matrix da realidade


Cisão esquizofrênica? Falha da racionalidade? Em geral o cinema figura a paranoia dentro dessas representações. Mas é no filme “Um Ponto Zero” (“One Point 0” aka “Paranoia 1.0”, 2004) que a paranoia evolui de simples transtorno mental para uma percepção especial: se em “Matrix” o déjà-vu era uma falha na realidade codificada, em “Um Ponto Zero” essa falha chama-se “paranoia” -  aproximando-se do insight do pensador gnóstico Valentim, lá no distante século II DC. A paranoia não só como uma “falha na racionalidade”, mas como a percepção da falha na própria sintaxe que estrutura a realidade. Um solitário programador de computador começa a receber misteriosas caixas vazias que o farão mergulhar em um universo cercado de câmeras de vigilância em um edifício residencial em ruínas, nano tecnologia, redes de computadores, e-mails infectados, um estranho vírus bio-cibernético, obscuros interesses corporativos e um estranho experimento em Neuromarketing.

sábado, janeiro 27, 2018

O destino de Lula e a "Síndrome de Brian" da esquerda


No momento que o destino de Lula era selado pelo TRF-4, sincronismos e coincidências cercavam o evento: o “Dia D” da vacinação contra a febre amarela, o “beijo incestuoso” do BBB da Globo e o estranho jornalismo paranormal da grande mídia, capaz de antecipar resultados de votação (assim como a Globo “previu” o sorteio do mando de campo da final da Copa do Brasil em 2016) e detalhes da prisão de Lula. Enquanto isso, embargos declaratórios, infringentes e recursos povoam as estratégias da executiva do PT, que vive uma crônica “Síndrome de Brian” – relativo ao filme “A Vida de Brian” (1979) da trupe inglesa de humor Monty Python: a estratégia paralisante da “Frente Popular da Judéia” contra o imperialismo romano, mais preocupada em fazer propaganda auto-indulgente do que enfrentar o oponente em seu próprio território: a psicologia de massas. Por incrível que pareça, Kim Kataguiri e a cena em que o porta-voz da indústria de tabaco, Nick Naylor, convence seu filho de que o sorvete de baunilha é melhor que o de chocolate no filme “Obrigado Por Fumar”(2005) têm mais lições a ensinar do que o discurso sobre “resistência”, “indignação” e “esperança” da esquerda. E parece que a filósofa Marcia Tiburi foi a primeira a perceber a armadilha na qual a esquerda está metida. Pauta sugerida pelo nosso leitor José Carlos Lima.

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Morre Mark E. Smith, a Dialética Negativa do rock


Para muitos foi um compositor e vocalista que mudou tudo o que se pensava sobre palavras e linguagens. Capaz de produzir um efeito sísmico sobre o poder da música e as possibilidades do som, demonstrando que o rock poderia vir de algum lugar mais profundo e escuro. Muito além do entretenimento. Morreu aos 60 anos Mark E. Smith, líder do “The Fall”, banda que por 40 anos resistiu a todos os tipos de rótulos da indústria do entretenimento. Embora solidamente enraizado no punk das cidades industriais inglesas dos anos 1970, o prolífico compositor de 32 álbuns Mark E. Smith conseguiu produzir uma música atemporal, cujas composições referenciam nomes como Camus, Philip K. Dick, HP Lovercraft e Edgard Alan Poe, criando uma atmosfera de pesadelo sci-fi. Assim como B.B. King esteve para o blues, Mark Smith também esteve para o rock: criar na música aquilo que Theodor Adorno chamava de “dialética negativa” – a recusa de conciliação com esse mundo. Ao invés de síntese, criar o antagonismo radical: manter para sempre na música a memória da rudeza da vida nas notas atonais, nas composições obscuras e cheias de hipérboles ao estilo da escrita de Charles Bukowski.

terça-feira, janeiro 23, 2018

Em ano eleitoral Globo aciona a "Máquina de Narciso"


Uma doutora e professora da Pós-graduação em Ciência Política da UFMG no BBB 2018. Enquanto isso, pacientemente repórteres da Globo ensinam telespectadores a gravarem vídeos com celulares para enviar depoimentos que respondam a pergunta: “Que Brasil você quer para o futuro?” em exíguos 15 segundos. São dois lados de um mesmo processo brasileiro detectado nos anos 1980, quando um jovem engraxate da favela da Rocinha respondeu à pergunta “O que você quer ver na TV?”. “EU!”, respondeu o jovem diante de um pesquisador perplexo. Nesse momento, a Globo coloca em funcionamento a chamada “máquina de Narciso”: no momento em que o ano eleitoral aponta para o acirramento da crise social e econômica, anomia e caos, a mínima forma de uma coesão social é através das imagens. O final do projeto midiático de substituir todas as formas políticas de mediação (a representação, o voto, o partido, o sindicato etc.) pelos próprios meios de comunicação – Berlusconi, Trump, Doria Jr. e o aspirante Luciano Huck seriam o aspecto mais visível disso. Sem esperanças na Política e na Economia, restaria a última boia salva-vidas oferecida pela mídia no mar da crise: a do ego mínimo promovido a Narciso. 

quinta-feira, janeiro 18, 2018

Em "La Casa de Papel" ladrões roubam o bem mais importante: o Tempo


Diante de toda uma geração que vive sob o impacto do desemprego e da perda de direitos sociais desde o crash financeiro internacional de 2008,  a Espanha vem produzindo uma série de filmes que pensa essa condição. O mais recente é a série para TV “La Casa de Papel” (2017-), disponível no Netflix, que reflete a perplexidade de todos diante da natureza dessa crise: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro enquanto o restante da sociedade sofre as consequências? Um grupo de ladrões trajando macacões vermelhos e com máscaras do Salvador Dalí invade a Casa da Moeda da Espanha, liderado por alguém cujo codinome é “Professor”. Eles não vieram roubar, mas fabricar seu próprio dinheiro com a ajuda dos próprios reféns. Mas o “Professor” terá que roubar um bem menos tangível e muito mais importante: roubar o tempo do Governo, da Polícia e da grande mídia. Quais as conexões entre um sistema monetário-financeiro sem lastro e o controle do Tempo?

domingo, janeiro 14, 2018

Após 200 anos, "Frankenstein" continua o Prometeu acorrentado


Nesse mês comemoram-se os 200 anos da primeira edição impressa em janeiro de 1818 do romance de Mary Shelley “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, cujo impacto na cultura moderna começou com as primeiras adaptações ao teatro. Mas o filme “Frankenstein” de 1931, com as correntes galvânicas, trovões, um cientista louco gritando “Está vivo!” e a icônica maquiagem de Boris Karloff, definitivamente consolidaram o personagem e suas variações (zumbis, autômatos, replicantes etc.) na cultura popular.  Porém, nesses dois séculos as adaptações do livro clássico invariavelmente giraram em torno da crítica à arrogância humana e científica do homem querer se equiparar a Deus. E a punição e sofrimento, assim como no mito de Prometeu acorrentado e punido pelos deuses. Por isso, ainda o cinema deve uma adaptação fiel ao imaginário romântico de “Frankenstein”: a criatura como um Prometeu desacorrentado que sintetizou o espírito revolucionário do Romantismo: a rejeição tanto do cristianismo quanto do materialismo iluminista através do sincretismo da ciência com o terreno espiritual - Alquimia, Cabala e Gnosticismo. Pauta sugerida pelo nosso leitor Eduardo G.

quarta-feira, janeiro 10, 2018

Luciano Huck: da vulgaridade regada a funk e pagode à "grande esperança branca"


O ex-cineasta e jornalista Arnaldo Jabor chamava-o de “fazendeiro de bundas” no final dos anos 1990. Naquele momento, a elite bem-pensante de um país cujo presidente era um sociólogo e doutor pela Sorbonne via-o como um personagem do nível de apresentadores como Gugu ou Ratinho. Produto da “revolução da vulgaridade regada a funk e pagode”. Mas os tempos mudaram. Agora Luciano Huck é a “grande esperança branca” depois de muitas idas e vindas – subliminarmente lançou sua candidatura no “Domingão do Faustão” ao negar ser “o salvador da pátria” e acrescentar: “não sei o que vai ser a minha vida”, ao lado da candidata a primeira-dama Angélica. Como sempre, o “wishful thinking” das esquerdas considera tudo uma “manobra desesperada dos golpistas”. Mas o golpe não chegou até aqui, com um tic-tac milimetricamente calculado e eficiente com o apoio logístico da Guerra Híbrida e do Lawfare do Departamento de Estado dos EUA, para ver todas as “reformas” perdidas numa eleição democrática. A ocupação midiática do Estado já superou a antiga visão da “Sociedade do Espetáculo” de Guy Debord. Agora a grande mídia quer dispensar intermediários para alinhar de uma vez o Estado ao tempo real midiático-financeiro.  

segunda-feira, janeiro 08, 2018

"Paul Virilio - Pensar a Velocidade": o Acidente Integral é o nosso futuro?


Por décadas o urbanista e pensador francês Paul Virilio, através de inúmeros ensaios sobre estratégia, tecnologia e estética, nos alerta para o risco do “Acidente Integral”: o momento em que a velocidade dos sistemas computacionais automáticos, cujas decisões estão à cargo dos algoritmos, se precipitará catastroficamente sobre o Tempo, a Sociedade e a História. A ameaça do Bug de 2000 foi o preâmbulo; e o risco probabilístico de que o acelerador de partículas do CERN produza um buraco negro que trague todo o planeta o seu principal simbolismo. O documentário “Paul Virilio: Pensar a Velocidade” (2009), no momento exibido no Brasil pelo canal fechado “Curta!”, narra o pensamento original do pesquisador francês cuja especialização que criou (a “Dromologia”) parte de dois pressupostos: primeiro, toda tecnologia surgiu da guerra e, por isso, irradia o princípio da velocidade como modo de vida. E segundo, toda tecnologia produz o seu acidente: o trem, o descarrilamento; o avião, o acidente aéreo; o navio, o naufrágio. Paul Virilio questiona: portanto, qual será o acidente produzido pela “bomba informática”?

sábado, janeiro 06, 2018

"After Life": após a morte, cinema, memória e esquecimento nos esperam


O filme japonês “After Life” (Wandafuru Raifu, 1998), de Hirokazu Koreeda, é um ponto fora da curva das representações do pós-vida no cinema. O filme combina duas representações que sempre se opuseram: de um lado, a representação do céu como uma organização hierárquica com porteiros, anjos e tribunais; e do outro o céu solipsista, como projeção dos nossos sonhos, memórias e desejos. Um grupo de recém-falecidos chega a um velho prédio, no qual são recebidos por funcionários que explicam que morreram. Os funcionários são roteiristas e produtores de cinema. A missão: escolher uma memória a partir da vida de cada um. Para ser roteirizada e transformada em um filme que reconstitua a cena mais feliz que cada um levará para toda a Eternidade. Enquanto todo o restante da vida será esquecido. Uma fábula sobre o tempo, morte e memória. Mas também suscita uma reflexão sobre um tipo de memória criada a partir dos simulacros da imagem.

sexta-feira, janeiro 05, 2018

Guia para rastrear Fake News cria nova mitologia no Jornalismo


A Abraji (aquela associação de jornalistas que confunde “jornalismo investigativo” com “checagem de informação”) divulgou o “Guia para Consumidores de Notícias” do jornalista norte-americano Bob Garfield com “11 dicas simples para separar o joio do trigo”. E, claro, o joio são aqueles sites e blogs suspeitos de Fake News com “muita publicidade, banners e pop-ups”. Bem vindo ao mundo das “plataformas de fact-checking” que, assim como fazem as próprias notícias falsas, requentam o prato frio das Fake News, tão velhas quanto a história do jornalismo. Mas para os "checadores", as notícias falsas surgiram só depois de cinco séculos de jornalismo, com a Internet, para profanar a inocência das vestais da grande imprensa. Fake News é a nova mitologia publicitária para valorizar o produto notícia mediante a produção da “escassez” informativa e também um novo selo de controle de qualidade para "separar o joio do trigo” e manter o monopólio informativo da grande imprensa. Além de ser mais uma arma da guerra híbrida: uma “plataforma de fact-checking” para cada país com “eleições, corrupção e crise política”.

quarta-feira, janeiro 03, 2018

Curta da Semana: "5 Films About Technology" - cinco acidentes em nossas bolhas virtuais


Cinco contos sobre a nossa obsessão pelos smartphones. Cinco pequenas vinhetas sobre acidentes (físicos, mal entendidos, incontroláveis efeitos virais etc.). Pequenos momentos que retratam a vida de pessoas normais através de gags sobre efeitos inesperados das nossas relações com os celulares nos quais cada efeito é rapidamente interligado com o personagem da próxima vinheta. É o curta de Peter Huang chamado “5 Films About Technology” (2016) que nos permite fazer uma reflexão sobre dois fundamentos da nossa experiência na modernidade: a tecnologia e o acidente. Mas principalmente o irônico destino dos dispositivos móveis: ao invés da comunicação, a incomunicabilidade – bolhas solipsistas que tornam a realidade um conjunto de impressões sem existência própria. Mas o acidente está sempre à nossa espera: sempre as bolhas estouram.  

sábado, dezembro 30, 2017

Mídia esvazia significado oculto do Ano Novo


Nesse momento de contagem regressiva para o Ano Novo, cada telejornal e programa de entretenimento recorre à pauta de sempre: as resoluções para o novo ano e as simpatias e crendices para o reveillon. Principalmente agora, época em que desempregados e trabalhadores temporários foram reciclados como “empreendedores” para tentar elevar o astral da patuleia. Mas tudo isso esconde um significado oculto e milenar das festividades de final de ano que envolve “Janus” -  a divindade indo-europeia ambivalente com duas caras, uma olhando para o futuro e a outra para o passado. De onde veio “Janeiro”, cujo primeiro dia do mês na Roma antiga era dedicado a rituais e sacrifícios ao deus criador das mudanças e transições, como progressão do passado para o futuro, de uma visão para a outra, de um universo para o outro. Janus olhava para o futuro, mas também para o passado para lembrar e aprender. Mas para grande mídia é apenas a comemoração do fim de uma ano velho e a celebração otimista de um ano supostamente novo. Não olhar para o passado e repetir os mesmos erros no futuro. Celebrar o esquecimento.  

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