quinta-feira, julho 28, 2011

A Perfeita Cantora de Sucesso: Espontaneidade na Indústria do Entretenimento

Para além do moralismo que predomina nesses momentos, passada a comoção da morte precoce da cantora Amy Winehouse é hora de fazer uma análise da própria estrutura do entretenimento na cultura contemporânea. Uma estrutura cuja dinâmica é a de transformar as perversões privadas em virtudes públicas como fórmula do perfeito cantor de sucesso: aquele que nos faz esquecer de que, afinal, o entretenimento é uma relação mercantil.

A indústria do entretenimento parece ter um memorial padrão guardado para todos os artistas pop de sucesso. A cada morte, repetem-se os mesmos discursos resultantes da combinação de dois “plots” básicos: (a) o artista foi vítima de um “mal”, (dependência química, vida de excessos, desequilíbrio psíquico, personalidade angustiada) um arco de problemas que vai das drogas aos distúrbios de personalidade ou (b) “vítima do sucesso”: não soube lidar com a fama rápida e com as pressões comerciais da indústria fonográfica e o assédio de fãs e repórteres de tabloides sensacionalistas. E, logo depois, a família da “vítima” anuncia que criará uma fundação (que logicamente levará o nome do artista falecido) para tratamento do “mal” ao qual foi acometido o artista falecido para que não ocorra o mesmo com seus fãs enlutados.

As combinações entre (a) e (b) formam o script moralista e moralizante que parece encobrir a própria natureza do negócio: o mais fascinante para o público no artista pop parece ser o momento que esquecemos de que ele é uma mercadoria através da sua “autenticidade”, isto é, quando ele vai além do roteiro, do set list, do que era previsível. Com a recém-falecida Amy Winehouse não foi diferente.

Por exemplo, no criticado show que Amy fez no Anhembi em São Paulo neste ano, a plateia vibrava a cada erro da cantora, quando insistentemente levava a mão ao nariz ou bebia algo de uma caneca. Celebrava-se a cantora junkie e não o talento (já conferido anteriormente através de mercadorias adquiridas ou pirateadas como DVDs e CDs).

Sadismo do público? Prazer mórbido em ver o artista se desfazendo no palco e expressando, através da sua arte, os seus dramas privados? Esse talvez seja um lado da questão, mais precisamente a resultante final de um longo processo de décadas de transformações da indústria do entretenimento.

terça-feira, julho 26, 2011

Uma Série de Cadáveres Cobre a Estrada das Invenções: o filme "O Homem do Terno Branco"

Entre a narrativa tragicômica do cientista ingênuo e idealista do filme ingles "O Homem do Terno Branco" ("The Man in the White Suit, 1951) e a tragédia real do inventor da Frequência Modulada, Edwin Armstrong, encontramos dois paralelos: a orientação alquímica de um inventor perdido em meio ao capitalismo cartelizado e a "commoditização" da Ciência.

O inventor do motor a explosão, Rudolph Diesel, desapareceu a bordo de um navio no mar do Norte em uma noite calma. O inventor da frequência modulada (FM), Edwin Armstrong, se jogou da janela do décimo terceiro andar de um edifício em Manhattan em 1954. O inventor do náilon, Wallace Hume Carothers, também se suicidou. Uma série de cadáveres cobre a estrada das invenções.

Quando esse assunto é debatido as pessoas logo pensam em invenções proibidas. Imagina-se que os grandes trustes possuem em seus cofres fortes a lâmina de barbear interminável, o fósforo perpétuo, a lâmpada elétrica eterna, o comprimido que dissolvido na água substitui a gasolina, os tecidos indestrutíveis.

Mas uma evidência histórica é certa: determinadas invenções são combatidas, suas patentes tornam-se objeto de batalhas judiciais e objeto de difamações na mídia com o objetivo de serem controladas e suas aplicações adiadas quando coloca em risco o equilíbrio de mercado em determinado momento ou, mais ainda, quando ameaça a própria natureza mercantil das invenções e da própria tecnociência. 

A comédia inglesa “O Homem do Terno Branco” é um ótimo filme que nos faz lembrar da clássica questão marxista da contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção, isto é, de como um modo de produção determinado pode ser uma camisa de força para o livre progresso tecno-científico. O plot central do filme é sobre uma invenção que, de tão revolucionária, pode colocar em risco o mercado e as relações capital-trabalho. Olhando a história das invenções, a tragicômica estória do idealista cientista dessa comédia tem muitas analogias com a tragédia real do inventor da frequência modulada, Edwin Armstrong.

O filme narra as desventuras de Sidney Stratton (Alec Guinness) um cientista ingênuo e idealista, recém-formado por Cambridge, que obsessivamente persegue um objetivo: o desenvolvimento de uma fibra sintética que produza um tecido que nunca desgaste e suje, produzindo roupas praticamente indestrutíveis e capazes de durar uma vida inteira.

Secretamente se infiltra nos laboratórios de pesquisa das maiores indústrias têxteis para conseguir os melhores equipamentos para alcançar seu intento. Descoberto na indústria Birnley’s, Sidney acaba convencendo o seu proprietário Alan Birnley (Cecil Parker) de que a descoberta lhe trará grande vantagem contra a concorrência.

No início, as pesquisas são catastróficas, com explosões que levam parte das instalações da Birnley’s pelos ares. Hidrogênio e tório radioativo tornam as experiências cada vez mais perigosas e explosivas. O que começa a criar boatos e chamar a atenção da imprensa. Tudo é sistematicamente desmentido por Alan Birnley até Sidney conseguir a grande descoberta: a fibra sintética indestrutível.

sábado, julho 23, 2011

Indústria do Entretenimento Não Consegue Assimilar M.C. Escher

Ao contrário das vanguardas artísticas que foram facilmente assimiladas pela estética videoclipe e publicitária, as imagens de Escher ainda causam estranheza. A indústria do entretenimento tenta enquadrá-las como curiosidades visuais expostas em instalações que mais lembram as "casas malucas" dos parques de diversões. O cinema talvez tenha sido o campo que melhor compreendeu a natureza recursiva das suas imagens.


Certa vez indagado se poderia dar uma definição para sua obra, Escher respondeu: “Eu busco mistérios. Sempre os jovens me perguntam se eu faço Op Art. Não sei o que é isso, Op Art. Esse é o trabalho que venho fazendo há 30 anos”.

Definitivamente, a obra do artista gráfico holandês Maurits Cornelius Escher (1898 – 1972) não é de fácil definição: arte matemática? Efeitos de ilusões de ótica? Surrealismo? Arquiteturas impossíveis? Geometrias absurdas?

O fato é que, ao contrário das vanguardas artísticas da primeira metade do século XX que foram rapidamente assimiladas pela estética publicitária e cultura pop audiovisual, o trabalho de Escher sofre uma assimilação lenta, indigesta. Dentro da indústria do entretenimento o destino de Escher é ter os seus trabalhos expostos em instalações que os traduzem como divertidas anomalias, ilusões de ótica curiosas, quebra-cabeças imaginários para o olhar ou mundos ou “arquiteturas impossíveis”. Ou, o que é pior, convertem as imagens de Escher em instalações que lembram as “casas malucas” ou “espelhos mágicos” dos parques de diversões.

Assim como as vanguardas artísticas, Escher desafiou a invenção renascentista do artifício do desenho em perspectiva que trazia, em germe, o Humanismo: o olhar que toma o homem como o centro que observa o Universo por um único ponto de vista espacial e temporal. A tela emoldurada como a analogia de uma janela de onde o homem soberano a tudo observa e onde todas as linhas convergem para um único ponto de fuga no horizonte.

Porém, as estratégias e os destinos foram diferentes.

Cubistas e dadaístas confrontaram o figurativismo da perspectiva com a linguagem da fragmentação: os pontos de vistas fragmentados da obra “Les Demoiselles d’Vignon” de Picasso ou os “ready mades” e “cut ups” dos dadaístas acabaram se materializando na estética videoclipe da MTV e na linguagem em hipertexto da Internet. Enquanto isso, surrealistas como Magritte e Dali criavam imagens oníricas para se contrapor ao humanismo cartesiano. Hoje, diariamente vemos a “imagerie” surrealista se materializando nos efeitos digitais dos vídeos publicitários.

Diferente deles, Escher buscou outro caminho. Ao invés das imagens oníricas e fragmentadas, ele explorou os paradoxos dos princípios geométricos e matemáticos da ilusão da perspectiva. Por isso, há algo que ainda incomoda na arte gráfica de Escher: dentro do cânone da representação figurativa Escher descobriu uma falha. Com ele aprendemos que se levarmos ao limite os princípios cartesianos da realidade (ponto de fuga, perspectiva tridimensional, perspectiva paralela etc.), encontramos a distorção, a anomalia, a anamorfose.  

Por isso, a indústria do entretenimento ainda não sabe o que fazer com Escher. No máximo, transformá-lo em curiosidade visual exposta em instalações, t-shirts ou referências intertextuais em filmes e games de computadores.

domingo, julho 17, 2011

O Conto "Neblina Sobre Xebico": Espiritualismo e Horror no Início da Era da informação

O conto "Neblina Sobre Xebico" (Night Wire), publicado pela primeira vez 1926 na revista "Weird Tales", tornou-se um clássico das "pulp fictions" sci fi e horror por expressar o imaginário subterrâneo da época do início da Era da Informação: o mix gótico entre espiritualismo e novas tecnologias da informação baseadas na eletricidade e eletromagnetismo. Do seu autor H. F. Arnold pouco se sabe a não ser de ter sido escritor e jornalista e de ter se tornado mais um dos autores perdidos ou esquecidos no campo da literatura fantástica.

Reproduzimos abaixo o conto “Night Wire” de H. F. Arnold. Originalmente foi publicado em 1926 pela revista “Weird Tales”. No Brasil, esse conto apareceu na edição 14 de outubro de 1973 da revista “Planeta” sob o título “Neblina Sobre Xebico”. Pouco se sabe sobre a biografia do seu autor, além de ter sido escritor, jornalista e  falecer em 1963.  Mesmo esses poucos detalhes podem não ser verdade. Sua obra se resume a esse conto e outros dois publicados pela mesma revista e serializados em várias edições entre 1926 e 1937: “The City of Iron Cubes” e “When Atlantis Was”.

H. F. Arnold foi mais um dos autores esquecidos ou perdidos no campo das “pulp fictions” de sci fi e terror no século XX. Surpreendente, pois esse conto “Neblina Sobre Xebico” foi um dos contos mais populares da revista “Weird Tales” que também editou e divulgou obras de Lovecreft, Bradbury e Jean Ray. Muitos especialistas em literatura sci fi e horror encontram semelhanças entre esse conto de H. F. Arnold e “The Mist” de Stephen King e “The Fog” de John Carpenter.

O conto é ambientado à época dos primeiros dias das empresas jornalísticas, antes da massificação dos telefones e teletipos. Nessa época, muitos jornais usavam os serviços telegráficos para buscar notícias nas regiões fora dos locais de cobertura dos repórteres. Os operadores desses serviços de telégrafos nas redações dos jornais eram pessoas com um talento especial: ouvir o código Morse e, simultaneamente, transcrever as notícias.

Esse serviço de coleta de notícias se estendia em longos plantões noturnos. É num desses plantões que gira o aterrorizante conto de H.F. Arnold, revelando o conhecimento do autor sobre a rotina das redações dos jornais da época (talvez Arnold, de fato, tenha sido mesmo jornalista).

sexta-feira, julho 15, 2011

O canal Discovery Kids quer formar "Jornalistas de Boas Notícias"

Qual a solução para os graves problemas do mundo noticiados pelas mídias? Jornalistas que deem apenas boas notícias. Por trás dessa pueril solução desenvolvida pela narrativa de um episódio da série “O Esconderijo Secreto”, estão não somente as más lembranças sobre o destino dos telejornais em períodos de ditaduras mas, também, da forma como a infância e o próprio jornalismo são apresentados pela atual  indústria do entretenimento.

Julho é mês de férias escolares e, com os filhos em casa, não tem como os pais não prestarem atenção aos canais infantis na TV. Em um dia desses, minha atenção foi despertada para um episódio da série “O Esconderijo Secreto”, programetes de dois minutos de duração exibidos nos intervalos publicitários do canal Discovery Kids. A coisa era mais ou menos assim: as crianças desse pequeno clube diziam-se cansadas de notícias ruins na TV. Resolutos, decidem fazer um telejornal só com boas notícias. Na ocasião estava distraído e peguei o bonde andando, mas ao final da pequena narrativa, uma das crianças exorta aos espectadores para que se tornem também “jornalistas de boas notícias” e as enviem para a emissora!

Como jornalista não deu para ficar indiferente. Como assim, “jornalista de boas notícias”? A primeira coisa que me veio à cabeça foram as lembranças do tipo de telejornalismo durante os tempos da ditadura militar brasileira onde o general de plantão da vez, o presidente Médici, dizia: “Todas as noites quando vejo o noticiário sinto-me feliz. Porque no noticiário da TV Globo o mundo está um caos e o Brasil está em paz. É como tomar um calmante depois de um dia de trabalho”.

Claro que são associações muito pesadas para um inocente programa infantil. Resolvi, então, ficar mais atento e aguardar a repetição desse insólito episódio de “O Esconderijo Secreto”.

Na segunda exibição prestei mais atenção à narrativa: Chico (Guilherme Seta) olha a TV e reclama das notícias ruins. “Fazem até perder a fome”, diz incomodado. Nanda (Manoela Ferreira) então tem uma ideia: usando a Internet, propõe fazer um telejornal somente com “boas notícias”. Eles, então, começam a recrutar “jornalistas de boas notícias”. Chico vai ser o repórter nas ruas, Nanda a “moça do tempo” (no mapa que ela mostra que só tem tempo bom com sol em todo o país) e um correspondente no México que envia notícias através de uma “web cam”. E quais as boas notícias? Lixo sendo é reciclado e pessoas que ajudam umas às outras em todo o mundo. Ações ecologicamente corretas e solidariedade.

Há um claro argumento moral nesse episódio: o mundo necessita de uma “agenda positiva”.  Somente noticiando boas intenções o mundo irá melhorar. É a polêmica ideologia do “politicamente correto”.

quarta-feira, julho 13, 2011

Os Cenários em Ruínas de Hans Donner e da TV Globo

O retrofuturismo da nova empreitada artístico-decorativa do designer Hans Donner aponta para duas evidências: primeiro, a arquitetura e decoração cada vez mais se transformam em cenografia e, segundo, a decadência da própria TV Globo que ficou velha e kitsch com os seus cenários ao estilo naves espaciais como a bancada do Jornal Nacional ou as aberturas das telenovelas.

O excelente texto da revista "Piauí" (58, julho) intitulado “Futuro do Pretérito – Os brasileiros, enfim, podem morar num cenário da Globo” apresenta uma faceta menos conhecida do designer gráfico Hans Donner, responsável pela identidade visual da TV Globo: designer de móveis. Essa empreitada artístico-decorativa teve como cenário o SPA do Vinho Caudalie, um hotel luxuoso na cidade gaúcha de Bento Gonçalves. Lá expôs suas mesas e cadeiras “retro-futuristas” (esferas, cones e pirâmides de fibra de vidro com cores metálicas) e, dessa vez, parece ter sido bem sucedido.

Após frustrantes experiências na década de 80, Donner afirmou que “agora fui plenamente compreendido”. A cobertura midiática das suas criações foi maior, o dono do hotel comprou quinze peças e Xuxa Meneghel e Fausto Silva teriam manifestado interesse pela sua criação mobiliária mais famosa: a “Poltrona Brasil” (em que até o ex-presidente FHC sentou e posou para fotos numa feira em Hanôver).

Para Donner, no passado era tudo muito futurístico, mas “a aceitação mostra como o Brasil mudou”. O texto da “Piaui” acerta na mosca: “os móveis de Donner seguem seu estilo inequívoco: o do futuro do pretérito. Eles concretizam aspirações defuntas, ruínas de um futuro que não existirá nunca. Não obstante, seus objetos são reais e existem no presente”.

Em outras palavras, temos nesse insólito desejo de Donner de ver os brasileiros viverem numa cenografia da TV Globo um sintoma daquilo que discutíamos em postagens anterioras como “hiper-realidade” ou “disneyficação da realidade” (veja links no final da postagem).

segunda-feira, julho 11, 2011

Filme "2033": Quando a Religião vai do Ópio à Libertação

A ficção científica mexicana "2033" (2009) é o sintoma do mal estar-estar de um país arrasado pela violência do narcotráfico e pelo desastre econômico após anos de políticas neoliberais.  E surpreende ao retratar a religião não como o ópio mas como instrumento de resistência e libertação.

Indicado pelo leitor desse humilde blog Nelson Jonas, a ficção científica mexicana “2033”, embora carregada de clichês das sci-fi norte-americanas, desempenha o importante papel de ser o contraponto crítico de uma época. Se no seminal neoliberalismo da década de 80 de Margareth Thatcher e Ronald Reagan tivemos filmes como “Robocop” (1987 – ambientado em uma Detroit onde o Departamento de Polícia era privatizado pela empresa OCP criando um sistema político corrupto envolvendo um cartel de drogas), no filme 2033 temos um México pós-experiência neoliberal onde o Estado foi reduzido a sua forma fascista (repressiva e policial) e as grandes corporações bancam um apartheid sócio-econômico.

Ao lado disso o filme aborda o tema da Religião. Se nas sci-fi distópicas como “O Livro de Eli” (The Book of Eli, 2010 – já analisado nesse blog, veja links abaixo) a religião é apresentada como o “ópio” do povo nas mãos dos poderosos, no filme mexicano ela desempenha o surpreendente papel de resistência e libertação. Isso porque no sistema fascista pós-neoliberal o ópio ideológico passam a ser as drogas produzidas por uma poderosa corporação farmacêutica.

O filme “2033” é a estreia do diretor Francisco Laresgoiti, fundador da produtora La Casa de Cine e conhecido como diretor de vídeos publicitários, curtas e vídeos experimentais.  A narrativa se passa na Cidade do México de 2003, agora conhecida como Villa Paraíso. Um Estado convertido em mero aparelho policial e repressivo controla a sociedade, bancado por corporações de telecomunicações, farmacêuticas, energia e Cryo-pausa (onde intelectuais, cientistas e políticos são guardados em armazéns congelados para que suas mentes sejam reprogramadas para posteriormente serem úteis aos sistema).

O enorme desenvolvimento tecnológico apenas fez aprofundar a divisão social: nos subúrbios vivem os pobres que são caçados por esporte pelos ricos como fossem animais. Ao mesmo tempo, os cidadãos são “pacificados” pela bebida viciante chamada “pactia” cujo principio ativo é uma droga chamada “Tecpanol” produzida pela corporação farmacêutica Phaarmax.  Dessa forma, temos um retrato distópico: enquanto os cidadãos são oprimidos quimicamente, os pobres o são pela miséria e violência (uma interpretação do México atual?).

sexta-feira, julho 08, 2011

A Busca Interior Através dos Números no Filme "Pi"

O filme "Pi" confronta dois paradigmas místico-filosóficos (cabala versus alquimia) ao mostrar a irônica jornada de um gênio matemático que, ao tentar encontrar números inscritos na natureza, encontra a si mesmo em um espelho fragmentado de paranoia e delírio.

Na postagem anterior discutíamos o “thriller matemático” argentino “Moebius”. Não poderia deixar de lembrar do ousado e experimental filme de Darren Aronofsky “Pi” (Pi, 1998). Filmado em película 16 mm e em preto e branco, temos uma narrativa cujo argumento inicia-se no princípio matemático PI.

O número PI é a mais antiga constante da matemática: é o valor da razão entre a circunferência de qualquer círculo e seu diâmetro.

O PI está em todos os lugares: no movimento das ondas numa praia, no trajeto aparente diário das estrelas no céu, no movimento das engrenagens e rolamentos, na propagação dos campos eletromagnéticos e em um sem número de fenômenos e objetos do mundo natural e da Matemática. Todos estão associados às idéias de simetria circular e esférica. De um modo quase que inexorável o estudo dos círculos e esferas acaba produzindo o PI. Daí a ubiquidade desse número.

Em consequência temos os seguintes postulados do protagonista, o matemático Max Cohen, que ele logo apresenta no início do filme:


“Primeiro: a matemática é a linguagem da natureza
Segundo: Tudo ao nosso redor pode ser representado através de números
Terceiro: se representarmos graficamente os números de qualquer sistema, os modelos surgem”
Portanto, há modelos por todas as partes na natureza, na sociedade e no comportamento humano: do mercado de ações, bolsa de valores ao livro sagrado da Torá dos judeus, tudo pode ser representado por modelos matemáticos.

A trama segue Max Cohen, um gênio matemático recluso em seu pequeno, sujo e caótico apartamento onde obsessivamente procura na tela de seu computador uma sequência numérica em torno de 200 números que seria o modelo universal para todos os fenômenos.

sexta-feira, julho 01, 2011

Platão e Gnosticismo para jovens no filme “Cidade das Sombras”

Depois do gnosticismo pop buscar o público adulto através de filmes como "Show de Truman", “Matrix” e “Vanilla Sky”, agora se volta para o público adolescente. É o exemplo do filme “Cidade das Sombras” (no Brasil veio direto como DVD e atualmente é exibido em canais por assinatura) que faz um notável mix entre o platonismo e o fervor místico do Gnosticismo: da alegoria da caverna de Platão à salvação pelo arrebatamento místico.

O filme “Cidade das Sombras” (City of Ember, 2008) do diretor Gil Kenan (da animação “A Casa Monstro”) e do roteirista Caroline Thompson (de animações como “A Noiva Cadáver” e “O Estranho Mundo de Jack” e o filme “Edward Mãos de Tesoura”, todos do diretor Tim Burton) é surpreendente: a princípio parece que estamos diante de mais uma aventura com heróis adolescentes que desafiam vilões adultos com muita ação e mistério. Mas a narrativa, baseada no livro homônimo de Jeanne Duprau, vai muito mais além. Primeiro pela estética (lembra muito as ficções distópicas do diretor Terry Gilliam como “Brazil, o Filme”). Segundo, e principalmente, pelos simbolismos que vão sendo desenvolvidos pela estória: aqui e ali alusões a filosofia platônica, neoplatonismo e gnosticismo.

Para começar, o próprio argumento do filme, explicitamente inspirado na alegoria da caverna de Platão, tal qual descrita na obra “A República”, um exemplo de como o homem pode se libertar da sua condição de escuridão e alcançar a luz da verdade.

Mas antes, uma breve sinopse: diante de um iminente apocalipse, cientistas e intelectuais constroem uma cidade subterrânea, iniciando-se uma nova geração de pessoas a residir sob a terra, longe das catástrofes. Depois de 200 anos, um dispositivo alertará os habitantes de como voltar à superfície. Mas as gerações se passam e a verdade (e o dispositivo) se perde. Todos esqueceram o propósito daquela cidade e porque vieram parar ali. Para eles, Ember é a única realidade e para além das suas fronteiras só existem trevas.

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