quarta-feira, novembro 13, 2013

Em Observação: "Viva Enquanto Puder" (Bliss, 1985)


Um publicitário bem sucedido sofre um ataque cardíaco no dia do seu aniversário. É reanimado, mas não sabe se de fato está vivo ou passa por alguma experiência pós-morte. É o início de uma jornada surrealista que irá colocar em xeque os seus valores familiares e da própria sociedade. Essa é a sinopse do filme australiano cult “Viva Enquanto Puder (Bliss, 1985), temática muito comum na década de 1980 que acabou formando um subgênero de filmes que esse blog chama de “desconstruindo o yuppie”: no meio de um período de capitalismo vitorioso com a expansão da publicidade e do mundo das altas finanças, surgem filmes que criam um contraponto crítico ao mostrar protagonistas bem sucedidos que têm a vida virada pelo avesso.


Viva Enquanto Puder (Bliss, 1985)

Diretor: Ray Lawrence

Plot: Harry Joy (Barry Otto) vive em uma afluente vida nos subúrbios australianos, trabalhando como executivo de uma firma de publicidade, casado e com um casal de filhos adolescentes. Seu principal passatempo é contar histórias, assim como o seu pai contava para ele. No entanto, no dia do seu aniversário, em uma pequena festa em sua casa com sua família e um casal de amigos, sofre um ataque cardíaco caminhando pelos jardins. Após o coração parar por quatro minutos, os paramédicos conseguem reanimá-lo. Porém, nada será como antes: estranhamente ele não consegue ter certeza se voltou a sua vida ou vive alguma experiência pós-morte. Sua vida começa a embarcar em uma inesperada jornada surrealista que não se encaixa com a rotina de sua vida anterior.

Por que está “Em Observação”?: A década de 1980 foi marcada pela recorrência de filmes que tranquilamente poderiam ser encaixados em um subgênero que já nomeamos aqui nesse blog como “desconstruindo o yuppie”. Como Fazer Carreira em Publicidade (1989, já analisado pelo blog – clique aqui), Depois de Horas (1985, também analisado pelo blog – clique aqui), Totalmente Selvagem (Something Wild, 1986), Procura-se Susan Desesperadamente (1985) entre outros foram filmes onde o protagonista era sempre um homem certinho e bem sucedido que conhece uma garota ou enfrenta situações inusitadas ou surreais que acabam virando sua vida pelo avesso, alterando radicalmente a visão de mundo e valores. O filme australiano Bliss, dessa mesma década, parece se enquadrar nesse subgênero que ascendeu em uma década que foi o refluxo de todos os valores sejam hippies (espiritualistas) ou punks (anarquistas) da década anterior. Uma época marcada pela ascensão do neoliberalismo político e econômico e o mundo publicitário e das altas finanças que ofereciam um imaginário oposto marcado pelo consumismo, ambição e sucesso.

Esses filmes seriam um contraponto crítico do cinema em uma época de um capitalismo vitorioso. E por isso, esses filmes acabaram esquecidos pelos críticos, como o caso do filme Bliss.

A estreia do filme foi no Festival de Cannes e foi muito mal recebido pelo público do evento (200 pessoas se retiraram durante a exibição) pelas suas “metáforas grosseiras” e “críticas aos valores familiares”. Depois de ser classificado para audiências acima dos 18 anos (pela sequência de incesto entre irmãos) os produtores australianos se recusaram a trabalhar com o filme. Mas, graças à campanha boca-a-boca, o filme acabou se transformando em um sucesso Cult. Hoje é considerado um filme chave na história do cinema australiano, à frente do seu tempo pela ousadia das suas metáforas.

Por isso o filme encontra-se “Em Observação” por este blog: sua temática aproxima-se à do filme Como Fazer Carreira em Publicidade pela comédia surreal e de humor negro, apresentando a crítica a sociedade de consumo e os valores materialistas como uma espécie de epifania religiosa.

E o que torna o filme ainda mais curioso é que tanto o autor do livro no qual se baseia o filme, Peter Carey, como o diretor Ray Lawrence se conheceram trabalhando no meio publicitário australiano. Uma visão crítica de insiders do meio midiático. Portanto, eles parecem saber muito bem sobre o que criticam.

O que esperar?: A crítica parece ser unânime em dizer que, apesar do tom surrealista e inverossímel, os personagens profundamente neuróticos e as situações são críveis e a narrativa oferece profundas analogias. Uma cena parece sintetizar o tom do filme: Depois de ter um péssimo dia, os amigos de Harry oferecem para ele um cigarro de maconha. Então começa a chover. No meio da chuva, inexplicavelmente um elefante para e senta-se no carro de Harry para descansar, esmagando parte do veículo. Imperturbável e muito chapado, tenta dirigir o carro para casa, agora sem teto, e fica surpreso quando a polícia o prende... A loucura da sociedade em contraste com uma vida mais sã, porém difícil: a vida de uma pessoa que passa a ter ideais anarquistas e comunais... mesmo sem saber se ainda está vivo ou em alguma existência pós-morte.

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