terça-feira, setembro 29, 2015

"Que Horas Ela Volta?" exibe luta de classes padrão exportação da Globo Filmes

No Brasil, a crítica especializada sobre o filme “Que Horas Ela Volta?” fala em “crítica social contundente” e “olhar crítico à sociedade”. No Exterior as análises  são mais matizadas: “contradição entre novela e crítica social” e “mix de drama como elementos para agradar um grande público”. Um filme como “Que Horas Ela Volta?” é impossível de ser pensado dentro de uma tradicional análise de conteúdo. Ao contrário, deve ser analisado pelos seus aspectos de produção: de como um conteúdo potencialmente transgressor ou crítico pode ser diluído por meio do chamado “padrão globo de qualidade”- a maneira como joga com elementos cênicos, interpretativos e recursos técnicos como enquadramentos de câmera, timing, cor etc. E principalmente a contradição entre a sutileza que a diretora Anna Muylaert quis dar à narrativa e o “novelismo” imposto pela Globo Filmes para criar uma espécie de filme sobre luta de classes padrão exportação.

“Não tenho empregada porque não quero levar a luta de classes para dentro da minha casa”, disse certa vez a filósofa da USP Marilena Chauí. A permanência das relações escravista entre a Casa Grande e a Senzala na sociedade urbana com seus quartinhos de empregada e elevadores de serviço sempre foi um tema das esquerdas – a sociedade brasileira que, sob a fachada da cordialidade e miscigenações raciais, esconderia a realidade da luta de classes.

 Poderíamos considerar a co-produção da Globo Filmes em Que Horas Ela Volta? (com a global Regina Casé encarnando uma empregada doméstica dominada por relações invisíveis de segregação) uma surpreendente adesão da Globo a uma pauta politicamente de esquerda ou, no mínimo, progressista?

domingo, setembro 27, 2015

Curta da Semana: "Toys" - a ameaça da mercantilização dos brinquedos

Um libelo contra a guerra e a violência. É o curta “Toys” (1966) do canadense Grant Munro: crianças veem através de uma vitrine soldados e armas de brinquedo ganharem vida e transformar a loja em um campo de batalha. Mais do que um protesto contra a guerra dos adultos, o curta cria um debate sobre as armas de brinquedo: elas podem estimular a violência pela naturalização da guerra? Assistindo ao curta vemos que talvez o problema não esteja na brincadeira de guerra em si, mas na utilização dos “brinquedos-réplica”: a imitação é o principal impulso do jogo infantil, que pode se deteriorar em mera réplica com a mercantilização dos brinquedos. Dessa forma, a brincadeira pode virar mero condicionamento para o mundo adulto que lhe aguarda.

sábado, setembro 26, 2015

Muito além da exploração da fé no documentário "O Capital da Fé"

Pastores retirando sacos de dinheiro dos templos ou maquininhas de cartão de crédito passando pelos fiéis nos cultos tornaram-se imagens habituais nas críticas às novas igrejas neopentecostais. Mas o documentário “O Capital da Fé” (Gabriel Santos e Renan Silbar, 2013) vai muito além disso, ao mostrar que, paradoxalmente, essas críticas alimentam um mito que apenas dá força a um gigantesco negócio que está sendo montado:  capital e fé unidos não apenas pela exploração da fé de pessoas simples, mas pela financeirização e liquidez que lava tão branco quanto paraísos fiscais e que constrói lentamente uma forte sustentação política parlamentar que quer chegar ao Poder. As novas igrejas há muito tempo abandonaram o clichê do Tio Patinhas. Hoje estão confortáveis no mundo pós-moderno da liquidez.

Ao som da ópera Carmina Burana, e com cortes ao ritmo da música, assistimos a um verdadeiro vídeo clipe de socos, chutes, sangue e fraturas dos combates do MMA de Jesus – um evento chamado Reborn Strike Fight 5 promovido pela Igreja Renascer. Lutadores clamam em nome de Cristo pela vitória.

Essas são as cenas iniciais de O Capital da Fé, documentário de curta metragem que aborda a nova Igreja Evangélica brasileira, suas contradições, a espetacularização da fé com inusitadas cristianizações de coisas como micaretas e esportes de luta, assim como as ambições políticas de seus dirigentes - assista ao documentário abaixo.

terça-feira, setembro 22, 2015

A ingenuidade semiótica das suásticas brasileiras

Era o que faltava! Em meio a atual atmosfera politicamente pesada de polarização e intolerância, eis que suásticas começam a se espalhar não só em cartazes de grupelhos neofascistas, mas agora também em instituições que deveriam trazer a esperança civilizatória em meio à barbárie: escolas públicas e universidades. Cheios de boas intenções (conscientizar, debater e denunciar), estudantes desfilam com suásticas e um estande de uma feira universitária transforma-se num bizarro parque temático nazista com prisioneiros judeus com camisas listradas com a estrela de Davi e alunas felizes e elegantes em seus uniformes da SS e braçadeiras com a indefectível suástica, posando para selfies. Nas suas ingenuidades semióticas, falam que as suásticas são apenas “expositivas”, com as melhores intenções pedagógicas,  como se as imagens pudessem ser neutras e apenas ilustrativas. Sem saberem, estão manipulando cepas de ícones-índices de alto poder viral com efeitos imprevisíveis em redes sociais e opinião pública.

Como se já não bastasse a pesada atmosfera atual de polarização que domina a opinião pública no País, de forma surpreendente o setor educacional (que deveria ser uma referência civilizatória em meio à barbárie) dá também sua contribuição à turbulência política, de forma ingênua e desajeitada.

segunda-feira, setembro 21, 2015

Em Observação: "Perdido em Marte" (2015) - filme gnóstico ou propaganda da NASA?

Para os críticos “Perdido em Marte”(The Martian, 2015) é um sci-fi de Ridley Scott bem diferente daqueles sombrios e influentes do passado: é um conto otimista de luta pela sobrevivência, um cruzamento de “Gravidade” com “O Náufrago”. Mas, como sempre, Scott lida com o protagonista estrangeiro em lugares hostis quem tem que lutar contra tudo para resgatar algo de bom em si mesmo. Tanto o livro no qual o filme se baseou quanto a produção de Scott tiveram forte apoio e consultoria da NASA que atualmente luta pela aprovação de orçamento no Congresso para missão à Marte. O que o “Cinegnose” procurará responder: o filme é mais uma obra de Scott que explora elementos gnósticos ou uma peça de propaganda NASA-Governo-Hollywood?

domingo, setembro 20, 2015

Curta da Semana: "He Took His Skin Off For Me" - Amar pode ser estranho

O amor pode ser grudento. Um curta sobre uma simples e doméstica história de amor conjugal onde um homem arranca sua pele como prova de amor. E também porque essa não poderia ter sido a melhor ideia. “He Took His Skin Off For Me” foi um dos melhores curtas de 2014. Uma espécie de poema de horror, ao mesmo tempo lírico e grotesco com um tom melancólico e sensacional uso de efeitos especiais em FX, onde foram reconstruídos as centenas de partes da musculatura humana. Sobre o que nos fala o curta? Amor? Compromisso e sacrifício? Assista ao curta e tire suas conclusões.

Ao mesmo tempo poético e bizarro. Baseado em um conto da escritora e roteirista Mary Hummer, o diretor Ben Aston levou dois anos para produzir esse curta considerado em muitos festivais (London Short Film Festival, Festival Toronto After Dark entre outros) como um dos melhores de 2014.

quinta-feira, setembro 17, 2015

Efeito colateral atinge telenovelas da TV Globo

Será que a culpa é da Internet? Ou as séries do Netflix seriam as culpadas? Será que o gênero é uma vítima do sucesso das tecnologias de convergência? São vários os diagnósticos do porquê da atual crise de audiência do principal produto da TV Globo – as telenovelas. Talvez sejam diagnósticos muito apressados por conterem o desejo político pelo fim do monopólio da Globo. Mas as pesquisas qualitativas com telespectadores feitas pela própria emissora têm uma pista: falam em “teledramaturgia pesada” e “desesperança” desde a novela “Em Família” . Em sua escalada oposicionista a Globo recruta as telenovelas como mais uma bomba semiótica, rompendo o sutil equilíbrio entre romantismo e realismo, projeção e identificação que sempre marcou o sucesso do gênero – a ficção deve agora reforçar subliminarmente o “quanto pior, melhor” do telejornalismo. A Globo estaria vivendo o efeito colateral da sua condição esquizofrênica: ser uma empresa e ao mesmo tempo um partido político.    

Mal recuperou-se da crise de audiência que obrigou a descaracterizar e encurtar às pressas a telenovela Babilônia, e o núcleo de teledramaturgia da Globo passa a viver novo sobressalto: reuniões foram convocadas às pressas para entender o problema da baixa audiência na estreia de A Regra do Jogo, nova produção do horários das 21 horas.

A Regra do Jogo teve a pior início na história das telenovelas globais (31 pontos, enquanto as antecessoras Babilônia (33), Império (32), Em Família (33), Amor à Vida (35), Salve Jorge (35), Avenida Brasil (37), Fina Estampa (41), Insensato Coração (36), Passione (37), Viver a Vida (43), Caminho das Índias (39) e A Favorita (35) se saíram melhor.

terça-feira, setembro 15, 2015

Assalto a banco, cinema e Comunismo no filme "Closer To The Moon"


Na mais cara produção do cinema romeno, o diretor Nae Caranfil tenta preencher as lacunas da história do maior assalto ocorrido na história do comunismo: em 1959, cinco jovens membros do Partido Comunista romeno assaltaram o Banco Nacional simulando uma filmagem. Diante dos aplausos daqueles que imaginavam ser testemunhas de um filme de ação, foram roubados 250 mil dólares. Fugir do país com o dinheiro era impossível, gastá-lo na Romênia menos ainda. Então, qual foi a motivação do crime? Esse é o filme “Closer To The Moon” (2014) baseado nesse caso real e que tenta responder à questão. Os assaltantes foram capturados e, ironicamente, foram obrigados a reconstituir o crime em um filme do Partido, dessa vez como atores reais."Closer To The Moon" abre uma curiosa discussão entre os limites da ficção e realidade no cinema e mostra que talvez os jovens romenos foram os precursores de um modelo de ação midiática que culminou nos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

sábado, setembro 12, 2015

Curta da Semana: "Fifty Percent Grey" - os tons de cinza da pós-morte

O curta dessa semana é de um autor já discutido por esse blogue: o irlandês Ruairi Robinson. Indicado ao Oscar de melhor curta metragem de animação em 2002, "Fifty Percent Grey" mostra uma curiosa representação da existência pós-morte bem diferente daquela que o cinema passou a fazer depois de “Amor Além da Vida” (1998). Ao invés de encontrarmos grandes revelações para os mistérios da existência, após a morte poderíamos encontrar ciladas tão cruéis como na vida. Ao contrário da simplicidade do preto e branco, podemos encontrar a complexidade dos tons de cinza. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Conhecido por seus curtas de ficção científica e animações 3D, em 2002 o irlandês Ruairi Robinson mereceu uma indicação ao Oscar de melhor Curta metragem de animação com o Fifty Percent Grey - assista ao vídeo abaixo.

sexta-feira, setembro 11, 2015

Toda mulher é uma diva, e todo homem é "diva-gar"

Se Freud estiver correto de que o chiste, o humor e o riso são formas de lidar com o mal estar, como interpretar as queixas contra o novo filme publicitário da Bombril por causa do trocadilho sobre “divas” e “vagarosidade” na criação da campanha”? Se toda peça audiovisual é sintoma de uma época, o que nos dizem as garotas-propaganda Ivete Sangalo, Dani Calabresa e Monica Iozzi? A piada sobre uma suposta “vagarosidade” masculina é mais uma tática para combater o irônico destino do feminismo: a descoberta do “impoder” masculino. O homem não só deixou de ser o vilão da interdição do gozo e da liberdade feminina como também transformou-se no próprio destino das mulheres livres: ser tão frágil e impotente como o homem sempre foi.

“Todo riso está muito próximo do horror que o prepara”, disse uma vez o filósofo alemão Theodor Adorno sobre as secretas conexões entre o humor e a tragédia. E se ainda vemos o humor combinado com uma peça audiovisual de criação publicitária, então estamos diante de um verdadeiro documento histórico sobre a sensibilidade de uma época.

No caso da nova propaganda da Bombril investigada pelo órgão de autorregulamentação publicitária (o Conar), o comercial veiculado pela TV transformou-se em um verdadeiro sintoma das relações atuais entre os gêneros feminino e masculino.

segunda-feira, setembro 07, 2015

Mitologia gnóstica no cinema para iniciantes


Apesar de em toda História o Gnosticismo ter cultivado o elitismo espiritual por meio de sociedades secretas e conhecimentos arcanos, desde a literatura do Romantismo até o cinema a mitologia gnóstica vem cada vez mais fazendo parte do atual cenário da cultura pop. O Cinema atual insere em suas narrativas de diversos gêneros quatro principais mitos gnósticos: o do “Demiurgo”, o da “Alma Decaída”, o do “Salvador” e do “Feminino Divino”. Portanto, vamos introduzir aos novos leitores do Cinegnose o tema do Cinema Gnóstico e fazer um pequena síntese das pesquisas desses oito anos aos mais antigos seguidores do blogue.

Para aqueles que estão chegando agora ao Cinegnose e, mesmo para aqueles que já são iniciados no tema e constatam a complexidade conceitual da área, vamos fazer uma introdução didática sobre a presença de elementos da mitologia gnóstica no cinema.

Desde as suas origens no início da Era Cristã até os dias atuais a tradição gnóstica tem rejeitado as convenções culturais como formas decadentes de um mundo ilusório. Por isso, o gnosticismo tem cultivado o elitismo espiritual – conhecimentos arcanos e sociedades secretas.

Tal estratégia histórica é compreensível se considerarmos que o Gnosticismo considera o mundo material – e os seus defensores – como ilusórios e falhos produtos de um Demiurgo, um deus inebriado na sua crença de ser único e poderoso mas que não passa de uma emanação decadente de um plano transcendente e harmônico.

Depois dos diversos renascimentos ao longo da História (como na literatura do Romantismo dos séculos XVIII-XIX), a mitologia gnóstica chega ao cinema no século XX.

E os temas gnósticos no cinema não são recentes. Desde antigos filmes como The Revenge of the Homunculus (Otto Rippert’s, 1916) sobre as trágicas consequências de um experimento alquímico mal sucedido; The Golem (de Paul Wegener’s, 1920) mostrando os trágicos resultados da magia cabalística; Frankenstein (de James Whales, 1931) onde o tema é o fracasso gnóstico em transcender a matéria mortal.

The Revenge of Homunculus, 1916

Os temas gnósticos retornam mais tarde, desta vez através de filmes não-comerciais ou rotulados como cults que endossam valores heterodoxos.

Blow Up (Antonioni, 1966) é uma exploração gnóstica de como a cultura consumida pelas aparências suplanta a realidade.

Confundindo forma e conteúdo através de uma narrativa altamente ambígua e alucinante que incomoda tanto os personagens do filme quanto o público, (Fellini, 1963) explora a cabalística crença de que um ideal humano pode ser alcançado através do artifício, a criação de um Adão cinemático;

Zardoz (John Boorman, 1974) uma verdadeira fábula gnóstica onde, em um futuro pós-apocalipse, o protagonista alcança a iluminação ao descobrir que o deus em que acreditava (Zardoz) era, na verdade, uma criação artificial de uma elite imperfeita e decadente.

The Man Who Fell to Earth (Nicholas Roeg, 1976) apresenta um extraterrestre que vem para a Terra em busca de água para o seu planeta que está morrendo. Incapaz de cumprir sua missão acaba prisioneiro de uma rede de corrupção em uma América corporativa. Diferentes dos antigos filmes, estes filmes gnósticos cults criticam o status quo, sugerindo que a cultura pós-moderna é um desolado mundo de ilusões que produz conformismo.

O que distingue os filmes de temática gnóstica dos últimos vinte e cinco anos é que, diferente do passado cult ou de vanguarda, agora estão presentes no cinema mainstream hollywoodiano. A temática gnóstica abandona o campo do cinema alternativo de público elitizado para atingir as massas através do cinema comercial. Ao contrário do passado, os temas gnósticos estão presentes em filmes com produções de bom orçamento, atores celebrizados pelas mídias de massa e enquadrados dentro de gêneros fixos tradicionais.

Basicamente são a partir de quatro mitos básicos que o cinema vem explorando o Gnosticismo:

1.   O Mito do Demiurgo

Dark City, 1998

A Criação, o Mundo ou a própria realidade é controlada por uma divindade inferior e os seus agentes. Esses anjos (ou arcontes) lançaram um véu de ilusão, ignorância ou desespero existencial sobre aqueles que procuram dominar (e às vezes se alimentam). No gnosticismo clássico, o caráter do Deus do Antigo Testamento era um modelo preferido para o vilão extramundano. Ele é muitas vezes referido como o Demiurgo.

No cinema, o Demiurgo não tem necessariamente de ser um antagonista do divino, mas pode assumir a forma de qualquer entidade opressora incluindo ETs , tecnologias opressoras e até mesmo as instituições humanas. Tudo se resume a questão do controle humano versus a liberdade humana. Esse mito inflama a questão sobre o que é real e o que é falso em intrincados níveis ontológicos (ou dimensões).

Alguns exemplos:



Êxodo: Deuses e Reis (2014) e Noé (2014) – Deus do Velho Testamento como um Demiurgo


Prometheus (2012) ou Dark City (1998) – Demiurgos como raças avançadas de seres alienígenas que transformaram os humanos em experimentos científicos.


Mais Estranho Que a Ficção (2006) – o Demiurgo é um escritor que manipula de diversas formas uma narrativa literária tentando matar o protagonista.


Show de Truman (1998), EDtv (1999) ou Mad City (1997) – o Demiurgo pode ser um produtor de um reality show, um repórter manipulador ou a própria grande mídia que explora a espontaneidade e simplicidade do protagonista.


Uma Aventura Lego (2014) – o Demiurgo é o pai de um menino que disputa o filho o controle do destino de uma cidade construída em blocos de Lego


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2. O mito da alma decaída.

Earthling, 2010

A ideia de que a semente divina, proveniente de um lugar chamado Pleroma (ou Plenitude) tenha caído em um mundo estranho. Este esperma-luz, a matéria prima da auto-realização, reside dentro de cada mortal, também conhecida como “centelha-divina”. É exatamente pela qual que as criaturas espirituais do Demiurgo anseiam ou querem corromper. Descansando no sono ou estupor, a jornada épica começa verdadeiramente quando um mortal descobre ou é escolhido para realizar o seu potencial transcendental. Uma guerra de libertação tende a entrar em erupção.

Normalmente envolve uma agitação do protagonista durante a vigília por algum poder latente ou um presente que o obrigue a cumprir um destino heróico. Este mito provoca a pergunta do que é ser consciente e os níveis de consciência que o ser humano pode chegar.

Abaixo, alguns exemplos:



Earthling (2010) ou ET (1982) – Aliens caem na Terra e vivem uma situaçãoo de ameaça e estranhamento. Filmes que são uma metáfora da gnóstica condição humana


Sense8 (2015) – Humanos com sensibilidade especial (os sensates) despertam de suas vidas ordinárias para o chamado de luta contra um Demiurgo – uma agência quase governamental especializada em manipulações genéticas.


O Destino de Júpiter (2015) – uma humilde empregada recebe o chamado da Plenitude. Os mitos gnósticos da Criação, Queda e Ascensão representados de forma explícita em uma space opera.


O Homem Que Caiu na Terra (1976) - Thomas Jerome Newton é um alien humanóide que vem para a Terra em busca de água para seu planeta que está morrendo. Sua inteligência e revolucionárias invenções atrai corporações que tentam corrompê-lo.


Upside Down (2012) – Mescla de ficção científica com drama romântico que dá uma nova roupagem ao mito da Queda humana.


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3.   O Mito do Salvador


Pode assumir duas formas. O primeiro é que após o despertar para a sua constituição sobrenatural, o protagonista não deve apenas salvar aqueles ao redor dele dos poderes que criaram o regime ilusório, ele deve também divulgar o conhecimento (gnose) para os outros, para que possam compartilhar as mesmas liberdades ou descubram habilidades semelhantes.

A segunda forma é que uma figura salvadora precisa de outra figura salvadora, pois a relação de um hierofante para um neófito é central no Gnosticismo (a ocidental caricatura do professor sábio oriental ajudando o herói). Este mito acende a questão do significado do ser humano, e todos os seres humanos são verdadeiramente iguais, mesmo que alguns possuam maiores habilidades do que outros (um tema predominante nas HQs, óperas de ficção científica e até mesmo em séries de televisão, tais como a série Heroes).

Abaixo, alguns exemplos:



Matrix (1999) – Neo e Morpheus criam a clássica relação do mestre e do iniciado que será o Salvador.


Clube da Luta (1999) – A iniciação de um neófito a um Clube que mudará sua visão de mundo. Mais do que isso, o protagonista se torna o líder de um grupo que buscará algo politicamente muito maior.


Branded (2012) – Outro neófito, dessa vez no mundo da Publicidade, será iniciado no mundo da luta entre as marcas, descobrindo as forças ocultas que controlam o mundo.



4. O Mito do Feminino Divino

Matrix, 1999

No gnosticismo clássico, Sophia ocupa o centro do palco, simultaneamente, como ser caído e uma redentora da humanidade. Sua encarnação já assumiu várias formas, incluindo a Shekinah de Deus na Cabala, Maria Madalena no Cristianismo esotérico, e Gaia no neo-paganismo. Sylvia em O Show de Truman e Trinity em Matrix são duas das mais famosas nos domínios da Ficção Científica e da Fantasia.

A encarnação pode ser o protagonista, o professor do protagonista, e toda uma gama de variações. Ela resgata ou é resgatada, ou ambos, nas batalhas contra os agentes da opressão e da quebra da realidade falsa. É difícil negar a obsessão das Anime com a confusão com o feminino e sexualidade em geral (que se afasta ou, talvez, complementa a atitude gnóstica da desconfiança em relação ao sexo). Isso agrava a questão dos diferentes níveis de amor, amizade e individualidade no que poderia parecer um universo frio e indiferente.

Veja alguns exemplos:



WALL-E (1999) – Sophia é encarnada em um robô chamado EVA com design high tech que vêm à Terra devastada buscar sinais de vida e encontra um nostálgico robozinho que empilha lixo e tenta resgatar fragmentos de uma civilização que desapareceu.


Dead Man (1995) – A personagem Theo, a prostituta, tem um papel decisivo no início da jornada espiritual do protagonista. Ela é Sophia, prisioneira do Demiurgo que domina a cidade.


L’Imortelle (1963) – Filme francês precursor do mito de Sophia no cinema que eleva a mulher a um patamar metafísico revelando as formas ilusórias do mundo ao protagonista.


Vanilla Sky (2001) – Aqui Sophia está explícita. Penélope Cruz faz a própria personagem exorta o protagonista David Aymes a despertar do interior de um “sonho lúcido”, na verdade uma simulação tecnológica da realidade.

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