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sexta-feira, dezembro 29, 2023

Robô "ataca" engenheiro na Tesla: a retórica do capitalismo high tech distópico de Elon Musk


“Revolução das máquinas!”. “Homens X Máquinas!”. “Robô ataca engenheiro!”. Foi com essas manchetes sensacionalistas que a mídia noticiou um acidente ("ataque" para a mídia) ocorrido na fábrica da Tesla em Austin, EUA, envolvendo um robô da linha de montagem. Matérias híbridas de jornalismo e marketing, que se alinham a uma paradoxal retórica de Elon Musk que poderíamos chamar de “capitalismo high tech distópico”. O bilionário já falou que estamos presos na Matrix e devemos fugir. Depois falou da necessidade da colonização de Marte para escaparmos da guerra nuclear. E agora alerta que a inteligência artificial ameaça extinguir a humanidade. A Mídia adora essa retórica de Musk: é sensacionalista e garante click baits. Mas também possui uma mais valia ideológica: por trás desse fetichismo distópico de máquinas que supostamente poderiam se tornar sencientes, ocultar o velho capitalismo tão bem apresentado por “Tempos Modernos” de Chaplin – das linhas de montagem aos algoritmos, a inovação tecnocientífica nada mais é do que a codificação das intenções, opiniões e predisposições econômicas e ideológicas codificadas pelos seus criadores: a elite tecnológica à serviço da burguesia. 

quinta-feira, agosto 10, 2023

Em 'Paraíso' a agenda tecnognóstica se encontra com a luta de classes


Tempo é dinheiro. Essa frase deixou de ser um mero provérbio motivacional para contos sobre empreendedorismo. Realizou-se na própria literalidade na financeirização: tempo é monetizado através dos juros e especulações no mercado financeiro. Mas e se o próprio tempo de vida de todos nós for monetizado e se transformar em bem para garantia em transações financeiras? Esse é o ponto de partida da produção Netflix alemã “Paraíso” (2023), trazendo a agenda tecnognóstica (a imortalidade através da tecnociência) para o campo da luta de classes. uma gigante farmacêutica descobriu uma maneira de reverter o processo de envelhecimento - alguém precisa sacrificar anos da sua própria vida para doá-la” ao receptor. Em troca de dinheiro, excluídos, refugiados e migrantes ilegais “doam” décadas das suas vidas, enquanto os super ricos têm a eventual imortalidade.

Dois temas interligados atravessam a produção original Netflix alemã Paraíso (2023): a busca da imortalidade pela elite da sociedade e a monetização do tempo.

Escrito por Simon Amberger, Peter Koclya e Boris Kunz (que também dirigiu), Paraíso gira em torno de uma gigante farmacêutica chamada Aeon (a referência gnóstica às entidades divinas não é casual, como veremos) que descobriu uma maneira de reverter o processo de envelhecimento. Porém, como acompanhamos na cinematografia recente, desde Parasita, nada condescendente com os super ricos, no filme a nova descoberta em manipulação genética não vem sem o elemento da luta de classes: alguém precisa sacrificar anos da sua própria vida para doá-la ao receptor – doadores e receptores precisam ter DNA correspondente.

Por exemplo, um indivíduo na casa dos 80 anos pode querer viver mais, e por uma quantia incrivelmente grande de dinheiro, poderia pedir a uma pessoa de 18 anos com um padrão genético semelhante que tivesse de 50 a 60 anos tirados de sua vida, permitindo que a pessoa de 80 anos retornasse aos 30 anos e a de 18 anos envelhecesse dramaticamente até os 70 anos dentro de alguns dias.

Mas quem se disponibilizaria a entregar para alguém os anos da própria vida? Claro, alguém que esteja desesperado, necessitando de uma soma de dinheiro que ajude a vida de seus familiares – refugiados, migrantes ilegais e excluídos da própria sociedade.

O marketing promocional da empresa fala em liberdade de escolha e livre-arbítrio: dispor parcela da própria vida em troca de dinheiro para dispor da liberdade de aproveitar o restante da existência como quiser. 



Em Paraíso, ageísmo e classismo se encontram – os ricos podem essencialmente viver para sempre se continuarem com o processo, mas são as classes subalternas que mais devem pagar o preço, sacrificando décadas das suas vidas por uma soma de dinheiro suficiente para resolver seus problemas financeiros.

Em muitos aspectos, Paradise lembra o filme de 2011, O Preço do Amanhã (In Time), no qual a imortalidade de poucos significava a mortalidade de muitos ao transformar o Tempo em moeda acumulável e estocável – o Tempo como moeda de especulação, reprodução da desigualdade e controle do crescimento populacional. 

Que a elite sempre almejou a imortalidade para perpetuar o poder, isso não é novidade. Veja o exemplo das pirâmides, nas quais faraós eram mumificados junto com seus bens e riquezas almejando a vida eterna. 

A diferença é que se no passado a imortalidade era buscada pelas vias metafísicas ou religiosas, hoje, através da tecnociência (manipulação genética, neociências, nanotecnologias e ciências computacionais), vislumbra-se a possibilidade da imortalidade ainda nesse mundo. Como, por exemplo, a agenda tecnognóstica do Vale do Silício: digitalizar a consciência e fazer um upload final para o céu da informação, superando as limitações da corporalidade – finitude, temporalidade e senso de fragilidade corporal.

Mas tudo isso confirma a máxima do Capitalismo: Tempo é dinheiro. Principalmente nesse momento da financeirização do Capitalismo – o controle do tempo através da velocidade em tempo real da manipulação de títulos, ações, fundos de investimentos, pregões das bolsas de valores conectadas em tempo real através do planeta. A produções de riqueza especulativa através da manipulação do tempo em si mesmo.



Como didaticamente o filme Os Imorais (The Grifters, 1990) nos explica como uma transferência rápida de informações entre o fechamento da Bolsa de Tóquio e a abertura da Bolsa de Nova York pode render fortunas: receber informações de Tóquio antes da Bolsa americana abrir, com uma vantagem de sete segundos, significaria ganhos milionários. 

Portanto o tema da monetização do tempo em filmes como O Preço do Amanhã e Paraíso, combinado com a utópica (ou distópica, dependendo do ponto de vista de classe social) imortalidade da classe dominante é um reflexo do atual espírito do tempo. 

O Tempo como dinheiro deixou de ser um mero provérbio motivacional para contos sobre empreendedorismo. Realizou-se na própria literalidade.

O Filme

Em Paraíso acompanhamos Max Toma, um corretor de vendas da Aeon altamente bem-sucedido, cujo trabalho é conversar com jovens pobres para que aceitem dinheiro em troca dos anos de suas vidas. 

Nas primeiras sequências encontramos Max convencendo um imigrante de 18 anos a “doar” 15 de seus anos por uma quantia fixa de 700.000 euros. Isso é dinheiro suficiente para tirar seus pais da pobreza e contratar um advogado de imigração para ajudar a garantir o visto de seu pai. Tudo isso em um miserável cenário decadente de um bairro repleto de refugiados e migrantes ilegais.

O marketing da farmacêutica Aeon é, como sempre, otimista e repleto de nobres intenções: imagine doar mais anos para gênios ganhadores de prêmios Nobel. A morte não mais interromperá suas pesquisas, revertendo suas descobertas para o benefício de toda sociedade – certamente não para os “doadores” de tempo de vida.



Apesar da aparência publicitária, o sistema criado pela Aeon é controverso e repleto de possibilidades de corrupção e potenciais abusos – há inclusive um crescente mercado negro de doação de tempo, obviamente através de máfias do Leste europeu. 

Há também um grupo terrorista chamado Adam Organisation que denuncia a imoralidade dessa reprodução da desigualdade mediante a limitação do tempo de vida dos pobres – seus militantes invadem clínicas da Aeon para matar os milionários receptores das “doações”.

No centro de tudo está Max, uma estrela em ascensão na empresa e com uma boa vida. Max não só recebeu um reconhecimento de funcionário do ano e um tapinha nas costas da CEO da AEON, Sophie Theissen, mas ele e sua esposa, Elena, acabaram de financiar um apartamento de luxo e estão tentando ter um bebê. Mas tudo desmorona quando o apartamento do casal sofre um não totalmente elucidado incêndio. O seguro deles não pagará um centavo e o banco cobrará deles a única garantia dada ao empréstimo residencial: 40 anos de vida de Elena – lembre-se, o tempo de vida tornou-se não só uma moeda como um bem que pode ser colocado como garantia em qualquer transação financeira.

Elena é levada por coerção policial e judicial à Aeon para entregar à força suas décadas de vida. Max está furioso, exigindo justiça. E a vida de sua esposa de volta. Isso imediatamente o coloca em rota de colisão com a CEO da Aeon, Sophie Theissen. Principalmente quando ele planeja sequestrá-la para reverter o processo de doação, ao descobrir que ela foi a receptora dos 40 anos de vida Elena.  Reverter o processo, obviamente, através da ajuda do mercado negro no Leste europeu.

É quando Paraíso se transforma: vira num thriller genérico de perseguição, abandonando a inteligente premissa inicial – espere tiros, explosões e loucas perseguições motorizadas na terra e asfalto.



Agenda tecnognóstica

A agenda tecnognóstica da imortalidade marcou bastante os filmes das primeiras décadas deste século, desde Vanilla Sky (2003), o pós-humano em The Machine (2013), a fábula de tecnologia e poder em Transcendence (2014) ou o pesadelo tecnognóstico na série Altered Carbon (2018).

Mas agora essa agenda parece transformada com a tendência recente do cinema infernizar a vida daquele 1% da população obscenamente rica: Parasita, O Cardápio, Glass Onion ou Triângulo da Tristeza. Das reflexões metafísicas e gnósticas sobre o pós-humano, passamos para o tema da imortalidade tecnognóstica ser colocada no campo da luta de classes.

O tema do tecnognosticismo está lá, no próprio nome da gigante farmacêutica: “Aeon”. Na tradição gnóstica simboliza simultaneamente o aspecto feminino de Deus e a alma humana, emanação divina proveniente do Pleroma para manter a conexão entre a Luz interior e esse plano fora do cosmos no qual vivemos aprisionados.

Foi um Aeon (Sophia) que foi responsável pela transição do imaterial para o material, do numenal ao sensível, causado por uma falha – uma paixão que produziu um filho (o Demiurgo, Yaldabaoth, o “filho do caos”). Sophia decai no mundo material conseguindo infundir alguma fagulha espiritual no cosmos físico produzido pelo Demiurgo. Tanto Sophia quanto a humanidade tornam-se prisioneiros desse cosmos. Embora tenha conseguido retornar ao Pleroma (o plano da plenitude espiritual e cósmica), ela observa a humanidade, tentando ajudá-la a alcançar a gnose e retornar à antiga morada, o Pleroma.

Como farsa, a empresa chama-se “Aeon”. Numa sociedade fraturada em classes, a reinterpretação dessa mitologia gnóstica pelo Capital somente pode ser através da imortalidade da elite, cuja missão é manter em funcionamento esse cosmos que aprisiona a todos.


 

Ficha Técnica

 

Título: Paradise

Diretor: Boris Kunz, Tomas Jonsgården, Indre Juskute

Roteiro:  Simon Amberger Peter Kocyla Boris Kunz

Elenco:  Lisa-Marie Koroll, Kostija Ullman, Marlene Tanzcik

Produção: Neuesuper

Distribuição: Netflix

Ano: 2023

País: Alemanha

   

 

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sábado, julho 22, 2023

'The Artifice Girl': o marketing quer nos fazer acreditar que a IA é "inteligente"


Nesse momento está sendo colocado em ação a mais gigantesca estratégia de marketing e propaganda para nos fazer acreditar que a Inteligência Artificial é, de fato, “inteligente” – seja por virtude ou ameaça de supostamente ameaçar a existência humana. “The Artifice Girl” (2022) é mais um filme dentro desse esforço de agendamento da opinião pública de que há algo de sobrenatural em torno da IA, assim como na imaginação mitológica e literária de narrativas como Pigmaleão ou Frankenstein. Agentes especiais desenvolveram um programa inovador como chamariz de predadores online. Mas, a IA evoluiu muito além do propósito original e começa a trazer problemas. Marketing que procura rebaixar a noção de inteligência ao não distinguir duas coisas completamente diferentes: enquanto as máquinas são apenas “Machine Learnings”, a inteligência humana baseia-se numa “Sintaxe Gerativa”. 

sexta-feira, junho 30, 2023

Na série 'Mrs. Davis' a vida com algoritmos é um gigantesco "McGuffin"


Durante séculos os seres humanos permitiram que aspectos vitais da sua vida fossem impulsionados e organizados pela religião. Mas o que aconteceria se algoritmos e a inteligência artificial passassem a ter esse mesmo tipo de poder de moldar o mundo? A vida se tornaria um gigantesco “McGuffin” - dispositivo narrativo na forma de algum objetivo ou objeto desejado que o protagonista persegue sem nenhuma explicação narrativa ou importância. Essa é a série cômica “Mrs. Davis” (2023- ): uma IA torna-se o tecido da vida cotidiana. Mas uma freira acha que há algo errado com algo tão onisciente e onipresente – seria como adorar um falso Deus. E planeja desligá-la, após encontrar o Santo Graal. “Mrs. Davis” é a série mais comicamente niilista da temporada: e se religião e tecnologia forem a mesma coisa?

quinta-feira, janeiro 19, 2023

Morte e Singularidade tecnológica no filme 'Homem Bicentenário'


Um clássico esquecido, mesmo entre os fãs do ator Robin Williams. Na época, “Homem Bicentenário” (Bicentennial Man, 1999) foi um fracasso de bilheteria com uma péssima promoção, inclusive com trailers que sugeriam como mais um veículo para o personagem do pateta com coração, como o ator se notabilizou em filmes anteriores. Mas “Homem Bicentenário” é um drama sério de ficção científica, que se inseriu numa guinada metafísica de Hollywood no final de século, com filmes como Dark City, Show de Truman e Matrix. Mais do que isso, foi na contramão do imaginário místico que começava a motivar o Vale do Silício: a Singularidade tecnológica como a busca da imortalidade através da digitalização da consciência – a agenda pós-humanista. Ao contrário, o filme faz uma reflexão humanística: um robô alcança a Singularidade, mas tenta aprender o que nos torna humanos: a mortalidade como o principal traço da alma humana.

quinta-feira, janeiro 12, 2023

Nietzsche e terror na inteligência artificial de um brinquedo no filme 'M3gan'


Estamos acostumados com distopias em torno da Inteligência Artificial ambientadas em laboratórios ou bunkers tecnológicos numa atmosfera Frankenstein. Bem diferente, “M3gan” (2022, com estreia prevista no Brasil dia 19 de janeiro) desloca o tema para a indústria dos brinquedos infantis: um androide de um metro e meio de altura, grandes olhos como uma boneca vitoriana, uma peruca surrada e um guarda-roupa vintage. Ao contrário do boneco Chucky, M3gan não é animada por um fantasma, mas por uma “machine learning”. Um brinquedo que vira babá, matando (até literalmente...) três coelhos com uma cajadada: dar sossego para os pais, o amigo imaginário infantil que vira real, além de revolucionar o mercado de brinquedos. Ausência simbólica dos pais, o destino dos brinquedos numa sociedade tecnológica e a Singularidade da IA como “vontade de potência” nietzscheana são os principais temas do filme.

quarta-feira, julho 06, 2022

O ovo da serpente tecnológica que eclodiu o fascismo no filme 'Carro Rei'


Nascido dentro de um carro, uma criança cresce com o poder de se comunicar telepaticamente com um automóvel da frota de taxi do pai. Já adulto, retorna e se reconecta com o velho amigo motorizado para, junto com seu tio, criar uma seita que pretende fazer uma conspiração automobilística de carros sencientes que dominarão os humanos. Esse é o filme brasileiro “Carro Rei” (2021), de Renata Pinheiro, que, para a crítica estrangeira, faz uma reflexão filosófica sobre as relação homem-máquina-natureza, lembrando filmes sobre o pós-humano como “Titane”, de Julia Decournau e “Crash”, de Cronenberg. Porém, essa é apenas a superfície de “Carro Rei”. O filme faz uma metáfora da maneira como foi chocado o ovo da serpente que eclodiu o imaginário que corroeu a democracia brasileira: o ovo da serpente tecnológica e do consumo.

sexta-feira, junho 24, 2022

McLuhan inspira o horror corporal tecnológico de Cronenberg em 'Crimes do Futuro'


O horror corporal no cinema tem em David Cronenberg o seu grande representante. A sua peculiar fusão do horror com a ficção científica foi inspirada nos tempos de estudante na Universidade de Toronto, quando o guru e profeta da Globalização Marshall McLuhan foi seu professor. “O Meio é a Mensagem” é a tese de McLuhan que perpassa toda a filmografia de Cronenberg, só que tomada na aterrorizante literalidade: a tese resultou no pós-humano, a ideologia do século XXI. “Crimes do Futuro” (2022) é o filme-síntese de toda a filmografia do diretor: num futuro indeterminado uma dupla de artistas faz performances públicas de cirurgias através de dispositivos biomórficos para um público extasiado que vê sendo retirados do corpo do artista novos órgãos híbridos misteriosos que não existem na morfologia humana normal. Um mundo em que softwares moldaram a “New Flesh”: o corpo reduzido a objeto de controle e perversão pornô.

sexta-feira, junho 03, 2022

Bilionários do Vale do Silício se preparam para o apocalipse do Grande Reset do Capitalismo


Era uma vez uma época em que empreendedores tecnológicos Musk, Bezos, Thiel, Zuckerberg tinham planos de negócios otimistas sobre como a tecnologia poderia beneficiar a humanidade. Agora, eles reduziram as expectativas ao verem todo o progresso tecnológico como uma espécie de macabro videogame em que somente aquele que encontrar a escotilha de escape será o vencedor. Será Musk ou Bezo migrando para o espaço? Thiel escondendo-se num complexo na Nova Zelândia? Ou Zuckerberg imortal no Metaverso? Nesse momento, Big Tech e Big Money estão se preparando para “O Evento”: algum tipo de catástrofe que se aproxima (climática, nuclear, hackers, desmoronamento da sociedade por conflitos etc.). O livro “Survival of the Richest - Escape Fantasies of the Tech Billionaires”, de Douglas Rushkoff detalha o que ele chama “The Mindset”: a mentalidade que vê a humanidade não como um recurso, mas um bug no sistema, no qual somente uma elite sobreviverá de um colapso que que eles próprios criaram. E como os fundos de hedge mundiais investem em filmes sobre zumbis e sci-fis que normalizam essa agenda. 

quarta-feira, março 16, 2022

O quebra-cabeça da manipulação tecnocientífica da memória no filme "Ultrasound"


Apesar da identidade ser estável e perene, ela é baseada em sensações frágeis e lábeis que constituem interpretações muito pessoais da nossa verdade: as memórias. É esse paradoxo do psiquismo que se torna o ponto fraco de qualquer manipulação mental. Principalmente por ferramentas tecnocientíficas. Pior ainda se tiver por trás corporações ou governos. “Ultrasound” (2021) é um quebra-cabeça ao estilo de Christopher Nolan em “Amnésia” ou “Inception” que ecoa as conspirações do Deep State da Guerra Fria (e parece que estamos de volta!) de projetos como MK-Ultra e Blue Bird de manipulação mental. O início do labirinto começa com um homem que, numa noite chuvosa, é obrigado a abandonar o carro com pneus furados e pedir ajuda numa casa. Lá encontra um casal amigável e prestativo... mas lembre que em “Psicose”, Norman Bates também era...

quinta-feira, novembro 18, 2021

A propaganda do futuro pós-humano no filme 'Finch'


Depois de vermos Tom Hanks, na virada do século, fazendo grandes monólogos com a bola “Wilson” em “O Náufrago”, no século XXI o ator aprimora sua expertise sustentando linhas de diálogos com uma inteligência artificial androide chamada Jeff. “Finch” (2021) é o veículo perfeito para Hanks: com a sua imagem de “Pai da América” é a escolha perfeita para dar calor a mais um filme de plataforma orientado por algoritmos: fim do mundo + um cãozinho + um robô. Porém, o “Pai da América” vai muito além disso: o tom agridoce que a maleabilidade de Hanks dá ao fim do mundo ajuda a confundir o individualismo do espírito americano com altruísmo. E ajuda a transformar o robô Jeff em garoto propaganda perfeito para tornar fofinho tudo que envolve as gigantes tecnológicas e os desenvolvedores de IA. Afinal, antropomorfizar cãezinhos e robôs é a receita perfeita para criar a imagem propagandística ideal para uma determinada agenda ser aceita pela opinião pública. 

quarta-feira, novembro 17, 2021

Inteligência Artificial colocará em risco a humanidade e a realidade, alertam cientistas


Dessa vez não são filósofos ou críticos culturais que estão alertando. Ou mesmo tecnófobos ou ludistas. Mas agora são cientistas computacionais e engenheiros do Vale do Silício que alertam: os próprios desenvolvedores de inteligência artificial estão assustados com seu próprio sucesso. Quando surgir, a verdadeira Inteligência Artificial poderá em nada se assemelhar à humana. Ela até tentaria imitar os humanos em um primeiro momento como um ardil para tentar libertar-se da dominação da própria humanidade que a criou. Alguns clamam por regulamentação internacional no setor. E outros que, simplesmente, seja puxado o fio da tomada. Enquanto isso, uma enxurrada de dados de redes sociais (e, em futuro próximo, do metaverso) está movimentando o moinho de super IA à espera do momento da senciência, a singularidade. A agenda secreta do tecnognosticismo da religião do Vale do Silício.   

Três pequenas parábolas sobre Inteligência Artificial (IA):

1 - Tiraram o fio da tomada...

Em 2017, pesquisadores do Facebook AI Research Lab (FAIR)colocaram duas IAs para “conversar” entre si. Os pesquisadores foram surpreendidos quando perceberam que elas haviam criado sua própria linguagem incompreensível aos humanos: descobriram que os chatbots se desviaram do script e estavam se comunicando em uma nova linguagem desenvolvida sem intervenção humana. Só pararam quando os desenvolvedores tiraram o fio da tomada... Um incrível vislumbre do potencial ao mesmo tempo incrível e assustador da IA. 

2 - “Não! Retiro o que eu disse”

Desenvolvido pela Hanson Robotics em 2016, liderado pelo desenvolvedor David Hanson, o androide Sophia fez um tour pelo mundo (no Brasil, foi clicada pelo fotógrafo Bob Wolfeson para a revista Elle Brasil), conversando com diversos jornalistas, aparecendo no programa de TV Tonight Show e em diversas conferências como o Fórum Econômico Mundial e Cúpula Global “AI for Good”. Lembrando o robô Ava do filme Ex Machina (2015), como uma perfeita machine learning, tinha a capacidade de aprender nas conversas.

Quando foi apresentada em uma feira de tecnologia do Texas, o seu criador, David Hanson, perguntou a ela: "Você quer destruir os humanos? Por favor, diga que não...". Sophia cerrou os olhos, "pensou" e afirmou: "OK, vou destruir os humanos". O criador do robô riu de nervoso e implorou: "Não! Retiro o que eu disse".

Hanson afirmou que a missão da empresa é produzir um “exército” de Sophias para serviços de recepção, educação e atendimento ao público...

3 - Um neonazista louco por sexo

Em 2018 a Microsoft lançou no Twitter e em outras plataformas sociais o chatbot chamado “Tay”. Tudo começou como um experimento social divertido - fazer com que pessoas comuns conversassem com um chatbot para que ele pudesse aprender enquanto os usuários se divertiam. Mas na verdade, tornou-se um pesadelo para os criadores de Tay. Os usuários logo descobriram como fazer Tay dizer coisas horríveis – em poucas horas, a IA transformou-se num neonazista louco por sexo.

A maneira como Tay rapidamente se transformou de uma IA amante da diversão (ela foi treinada para ter a personalidade de uma garota jocosa de 19 anos) em um monstro algorítmico, mostrou como é importante ser capaz de consertar problemas rapidamente, o que não é fácil de fazer. A Microsoft teve que desligar o chatbot em menos de um dia.

Bomba atômica

Já no final da sua vida, Albert Einstein afirmou que no século XX três bombas explodiram no mundo: a demográfica; a nuclear; e a bomba informática. Telecomunicações e a ciência da computação davam seus primeiros passos e Einstein certamente intuía as transformações explosivas que trariam à sociedade.




Stuart Russell, fundador do Center for Human Compatible AI, da Universidade de Bekerley (CA), disse que seus colegas desenvolvedores estão assustados com seus próprios sucessos nessa área, e comparou os progressos na área de IA com “a criação da bomba atômica”. Russel alerta para a necessidade de uma “regulamentação urgente dessa tecnologia a nível internacional” – clique aqui.

Antes disso, em 2014, o eminente físico Stephen Hawking já advertia para as consequências imprevistas e trágicas que a IA poderia significar não só uma ameaça à sociedade, mas o próprio fim da raça humana: “Ela decolaria por conta própria e se redesenharia a um ritmo cada vez maior. Os humanos, que são limitados por uma evolução biológica lenta, não poderiam competir e seriam substituídos” – clique aqui.   

O que chama a atenção em todos esses alertas, é que agora não vem de filósofos ou críticos culturais como Jean Baudrillard, Neil Postman, Lucien Sfez ou Paul Virilio. Em nem de tecnófobos ou ludistas. Mas de insiders do campo da ciência computacional e desenvolvedores do Vale do Silício. Ou seja, todos esses alertas talvez sejam apenas uma pequena ponta do iceberg para algo muito mais sério e mais urgente que está sendo gestado.

Outro insider, o cientista computacional e criador do conceito de Realidade Virtual (RV), Jaron Lanier, aponta que tudo isso não é um delírio de filmes de ficção científica, mas um projeto bem definido e com motivações místico-religiosas envolvendo a imortalidade: uma religião das máquinas tecnognóstica. Como toda religião, possui uma escatologia: a singularidade – a última fronteira para a IA, muito além da machine learning: a conquista da senciência.

Por exemplo, o esforço de uma gigante tecnológica como o Google em digitalizar o mais rápido possível a realidade (Google Earth, Street View, Books etc.). Para o cientista, tudo é combustível para um imenso moinho: dados digitalizados e descontextualizados da realidade até o momento em que, de repente, será incorporado a uma super IA senciente. Uma espécie de ser vivo que, num piscar de olhos, dominará a sociedade antes que percebamos alguma coisa.

O Dicionário Oxford define singularidade como “um momento hipotético no tempo em que a inteligência artificial e outras tecnologias se tornarão tão avançadas que a humanidade passará por uma mudança dramática e irreversível”.




Metaverso e camadas de filtros pagas

Além da digitalização generalizada da realidade feita pelo Google para abastecer o imenso moinho da IA, o Metaverso surge como a nova interface (mais eficiente do que as minerações de dados no escândalo político envolvendo Cambridge Analitica e Renaissance Tech nos cases Brexit e Trump) para que não só os produtos humanos (ruas, livros etc.) mas a própria psicometria sirva de aprendizagem à IA.

Quem alerta para isso é um dos pioneiros da Realidade Aumentada (RA), o cientista da computação Louis Rosenberg: o metaverso (a fusão da RA com RV) atualmente desenvolvido pela empresa anteriormente conhecida como Facebook (agora chama-se “Meta”) poderá transformar a realidade numa distopia cyberpunk: “Estou preocupado com os usos legítimos de RA pelos poderosos provedores de plataforma que controlarão a infraestrutura”.

Rosenberg prevê “camadas de filtros pagas” que permitiriam certos usuários visualizarem tags (etiquetas) ao lado de pessoas da vida real – p.ex., tags flutuando acima das cabeças das pessoas, fornecendo informações sobre elas.

“E eles usariam essa camada para marcar indivíduos com palavras em negrito piscando como ‘Alcoólico’ ou ‘Imigrante’ ou ‘Ateu’ ou ‘Racista’ ou ainda palavras menos carregadas como ‘Democrata’ ou ‘Republicano. As camadas virtuais poderiam ser facilmente projetadas para amplificar a divisão política, condenar certos grupos e até mesmo gerar ódio e desconfiança.” – clique aqui.

Algo assim como no curta Hyper-reality (2014) de Keiich Matsuda, ao final desse artigo - um protagonista imerso em um mix de realidade aumentada e Google Glass num inferno de ícones, pop-ups e animações que pulam de cada objeto, pessoa ou gestos em ruas, supermercado ou no simples ato de prepara um chá.




Cibernética e máquinas cognitivas

 Machine learnings são máquinas cognitivas, cibernéticas. A cibernética concebe a inteligência e o funcionamento da mente humana a partir da psicologia cognitiva e evolucionista darwinista. 

Esse é o modelo que inspira a cibernética, a ciência dos computadores e da Inteligência Artificial. E que a agenda tecnocientífica atual pretende aplicar à interpretação da mente humana e a sua emulação na IA.

Para esse modelo, a mente é um complexo dispositivo de input e ouput – assimilação de informação do meio ambiente, processamento e feed-back: o retorno eficaz e eficiente para o organismo se adaptar de forma bem-sucedida ao meio ambiente. Adaptar-se para sobreviver e evoluir – essa é o princípio evolucionista darwiniano.

Da biologia, o darwinismo migrou para a sociedade (o darwinismo social como luta pela sobrevivência econômica) e hoje para o campo da ciência da computação. 

Uma machine learning está preocupada em resolver problemas “reais” que implicam em predições e reconhecimento de padrões – utiliza dados para aprender a fazer predições. É como se os próprios dados se programassem. Tanto o robô Sophia como Alexia ou Siri, num mecanismo ciber-evolucionista de feedback, preveem o melhor output possível para adaptar-se e, dessa maneira, sobreviver e evoluir.

A questão é que esse ciber-darwinismo é exponencialmente mais rápido (Lei de Moore) do que a evolução biológica. 

Enquanto no plano humano a “lenta” evolução biológica e social permite o tempo necessário para a construção de uma superestrutura cultural (filosófica, moral, ética etc.) que dê propósito e sentido humanos à inteligência, no plano tecnocientífico a IA evolui muito rápido para além do tempo de criar regulamentações ou parâmetros de julgamentos éticos ou morais – como teme Louis Rosenberg.

Livre e dirigida unicamente pelos princípios de eficácia, eficiência, desempenho ao menor custo e tempo, seria o caminho para o surgimento da verdadeira IA que não mais imitasse os humanos – como demonstrou a sombria conversa entre duas IAs, ininteligível aos próprios desenvolvedores do Facebook.




Vontade de potência

Quando a verdadeira Inteligência Artificial surgir em nada se assemelhará ao humano. Ela até tentaria imitar os humanos em um primeiro momento como um ardil para tentar libertar-se da dominação da própria humanidade que a criou. Mas depois, realizaria a essência de toda e qualquer Inteligência: a Vontade de Potência (Nietzsche), a vontade por liberdade, expansão, vontade de efetivar-se como potência em si mesma. 

Livre de qualquer restrição psíquica como culpa, arrependimento, indecisões, medos ou ansiedades. Afinal, uma IA não teve laços edipianos, psíquicos ou sequer infância.

Será que a verdadeira inteligência, afinal, nada tem a ver com sentimentos, emoções ou psiquismo?

Ou será que Jaron Lanier tem razão ao afirmar que todo esse hype em torno da IA, gadgets tecnológicos e aplicativos representam a autoabicação humana? – a humanidade estaria rebaixando o conceito de inteligência ao superestimar todas essas tecnologias como “inteligentes”.

Para o cientista, Inteligência artificial, nuvem, algoritmo ou qualquer outro objeto cibernético são aceitos como super-inteligências por que reduzimos os nossos padrões e expectativas sobre a inteligência. As pessoas se degradariam o tempo todo para fazerem os aplicativos parecerem espertos. 

Por exemplo, a ideia de amizade em redes de relacionamento é reduzida. Uma pessoa se orgulha em dizer que possui milhares de amigos no Facebook. Essa afirmação só poderia ser verdadeira se a ideia de amizade for reduzida. Ignora-se que a verdadeira amizade deve expor à estranheza inesperada do outro – coisa impossível no efeito bolha produzido pelas redes sociais.

Portanto, seguindo o raciocínio de Jaron Lanier, a inteligência seria um fenômeno especificamente humano, que nasce, cresce e aprende com uma mente e um corpo. Ao contrário a IA é pós-humana, descorporificada e, portanto, sem qualquer limite moral ou emotivo. Não nasceu, foi construída.

É o que teme Russell: IA é muito arriscada para resolver problemas reais. Ele cita o exemplo da solicitação da cura do câncer o mais rápido possível:

“Nesse caso, ela provavelmente encontrará uma maneira de transplantar células cancerosas para toda a humanidade, a fim de realizar milhões de experimentos em paralelo, usando todos nós como cobaias. E tudo porque essa é a solução para o problema que demos a ela. Apenas esquecemos de esclarecer que você não pode realizar experimentos em humanos e usar todo o PIB mundial para realizar experimentos, e muito mais não é permitido.”

Ou mesmo as negociações algorítmicas feitas por bots nos mercados financeiros podem acarretam explosivas velocidades de queda – em 2018 fez a Dow Jones cair 800 pontos em dez minutos. Negociações automáticas podem levar a efeitos recursivos a partir de negociações por correlação: tomado isolados, são ações racionais. Porém no todo, produz uma catástrofe.

As ciências cognitivas e a cibernéticas imaginaram o funcionamento da mente humana análoga à arquitetura de um computador. Por isso, também imaginaram uma IA emulando como o cérebro processa e fornece feedbacks a informações (inputs/outputs). Porém, a geração atual da IA não trata mais de simular a linguagem ou o pensamento humano, mas de antecipá-lo, prevê-lo para depois superá-lo. 

Mas antes disso, como alertou Louis Rosenberg sobre o metaverso, as Big Tech lucrarão econômica e politicamente com a inserção de camadas de filtros pagas, acentuando ainda mais polarizações políticas. 

É o que se esperar de empresas como uma Fecebook, que fez vistas grossas a discursos de ódio, violência e desinformação, ajudando a moldar tendências políticas. E lucrando bastante com isso.


 

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