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terça-feira, abril 20, 2021

Curta da Semana: 'Coda' - por que a morte é impaciente?


Poucas produções fílmicas ou audiovisuais escapam da tradicional representação do pós-morte, como uma espécie de julgamento que poderá nos levar para o Céu ou Inferno, entre a punição e a gratificação. O curta de animação “Coda” (2013), de Alan Holly, nos oferece um olhar entre o esotérico e o gnóstico: embriagado após sair de uma balada, acompanhamos o protagonista distraído ser mortalmente atropelado para depois tentar fazer um acordo com a Morte, na sua tradicional representação sombria do Ceifador. Ele quer mais tempo, mas a Morte é impaciente. Para o quê? A resposta está entre o Budismo e o Gnosticismo, muito próximo ao ciclo vicioso da vida-morte-reencarnação que nos prende a esse mundo. 

Passamos 1/3 das nossas vidas dormindo e sonhando, enquanto a morte nos rodeia a cada respiração, não importa o quão vigilantes sejamos – o destino é a nossa constante companhia, mas tentamos não pensar que num simples piscar de olhos a existência como a conhecemos pode desaparecer até o nada, levando-nos junto.

Por isso, é incrível como o sono e a morte sempre foram relegados na cultura ou a um segundo plano, ou simplesmente negados ou neutralizados. Sono e sonhos são racionalizados através da ciência (a “Ciência do Sono”) ou pela Psicanálise popular ou de autoajuda que promete decodificar os simbolismos dos sonhos. Enquanto a morte é ocultada por uma cultura da positividade da indústria da cosmética, da saúde e da eterna juventude  cujas imagens promocionais celebrizam “idosos que nem parecem velhos”.

Quando a morte vira tema na cinematografia, ela é restrita aos cânones da moralidade religiosa, dentro da polaridade culpa/gratificação: ou encontra a punição pelos pecados ou a premiação pela boa índole e legado terrestre.

Poucas são as produções audiovisuais que escapam dessa polarização, buscando um viés mais esotérico, ou, por que não, gnóstico – o pós-morte não como a busca de punição ou redenção, mas de iluminação como caminho fuga da matrix terrestre.



O curta de animação Coda (2013, indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 2015) é um exemplo desse olhar alternativo para a morte. Dirigido por Alan Holly e produzido pelo estúdio irlandês And Maps And Plans, Coda nos mostra a tradicional representação icônica da morte como o Ceifador: uma figura esguia, envolta num manto negro aguardando o espírito se desfazer do corpo para capturá-lo e conduzi-lo, mesmo que seja a força. Para onde? Céu? Inferno? Algum Tribunal? Ou algum limbo entre a vida e a morte no qual o espírito pagará suas dívidas? Nenhuma dessas opções. Alan Holly e o co-roteirista Rory Byrne propõem uma abordagem mais esotérica, simultaneamente doce, triste e melancólica: o Ceifador quer apenas nos reconduzir de volta à esfera terrestre, nos preparando para a reencarnação.

O Curta

Coda acompanha alguém que está saindo de uma boate, bêbado e com um copo na mão. Distraído, atravessa a rua procurando em seus bolsos alguns trocados para pagar alguma coisa para comer no caminho de volta para casa. Até ser acertado em cheio por um carro, e jogado para longe até cair já sem vida. 




Pessoas se reúnem em torno dele, enquanto seu espírito levanta e começa a vaguear pelas ruas às cegas, ainda sentindo os efeitos da embriagues.  Sem saber que a Morte, uma figura alta, esguia e ameaçadora, já está no seu encalço. 

Cansado de vagar sem destino, o protagonista entra num parque e senta-se num banco para descansar, quando a Morte também se senta ao seu lado. Assustado, as expectativas do protagonista são as piores possíveis. Ele implora por mais tempo e tenta negociar com aquela figura sombria e ameaçadora que o encara.

Com um estilo de animação minimalista, a música e até mesmo as vozes dos personagens passam uma sensação de tranquilidade ao longo dos 9 minutos de narrativa. A sensação inicial para o espectador é de felicidade e aceitação. Mas há uma melancolia e fatalismo sutis a partir do momento em que o espírito desencarnado do protagonista transforma-se em um bebê e o sombrio Ceifador em uma mãe que abraça amorosamente sua cria.

É o início de um aprendizado no qual o protagonista aceitará o seu destino: retornar à vida como um novo humano reencarnado. Ou não! O final ambíguo revela uma oposição entre as intenções do espírito convertido em bebê (ele sempre pede mais tempo para “relembrar” de sua existência terrena – por quê não conversava com seu avô, por exemplo), enquanto a Morte, impaciente, sempre fala “agora”, como se quisesse levá-lo definitivamente para a inexistência.

Numa leitura budista, o protagonista está experimentando o seu “Bardo”: estados de existência dentro do fluxo contínuo da vida, da morte e da reencarnação. Palavra tibetana que quer dizer “transição” ou “intermediário”. A apresentação mais simples no livro budista tibetano Bardo Thodói (“Libertação do Estado Intermediário”), conhecido também como “Livro Tibetano dos Mortos”, descreve quatro bardos: o da vida, o do momento da morte, o bardo da vacuidade (a consciência fundamental da luz do próprio espírito) e o do renascimento.




Mas para o Gnosticismo, o bardo da vacuidade é o mais importante – após a morte vivemos as ilusões cármicas: o conteúdo da mente é projetado, tornando-se visível como num sonho.

Criamos uma tela mental com imagens em fluxo dentro do qual a vida parece continuar em outra dimensão, e nos perdemos na confusão entre a realidade e as alucinações. Sem lucidez, o “sonhador” não consegue se abrir à realidade dos mundos para além dos sonhos e nem para a própria luz espiritual. Perde-se num padrão repetitivo, para renascer e continuar o mesmo padrão sem autoconsciência ou auto distanciamento – a “gnosis”.

“Coda” (traduzido do italiano para o português significa “cauda”) é a seção em que termina uma música, na qual o compositor utiliza ideias musicais já apresentadas durante a composição. Na animação, é a representação do senso comum de que no momento transitório entre a vida e a morte é como se assistíssemos a uma espécie de “vídeo-clip” com os momentos mais importantes da nossa vida terrena. 

Mas do ponto de vista gnóstico, seria uma tela mental (ou um “air bag” emocional criado pela nossa mente) na qual imergimos inconsciente no fluxo de imagens, sem conseguir o auto distanciamento necessário para escaparmos da ilusão. Até sermos capturados pelo “Ceifador” ou a “Morte” personificada pelo ícone tradicional na animação. Na mitologia gnóstico, um Arconte (“Archon”), entidade “demoníaca” (na verdade, seres criados juntamente com o mundo material subordinada a divindade chamada Demiurgo) que bloqueia o caminho da elevação espiritual após a morte através dos diversos “céus”, mantendo-nos prisioneiros ao mundo material.

Ou mais precisamente, aos Bardos que compõem os sucessivos estados do fluxo de vida-morte-reencarnação. Submetido ao esquecimento: o protagonista tenta lembrar-se, recordar, diante da Morte impaciente que quer levá-lo o mais rapidamente possível.  


 

Ficha Técnica 

Título: Coda (Curta de animação)

Diretor: Alan Holly

Roteiro: Alan Holly, Rory Byrne

Elenco: Joseph Dermody, Orla Fitzgerald, Brian Glesson

Produção: And Maps And Plans

Distribuição:  The Criterion Channel (digital)

Ano: 2013

País: Irlanda

 

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domingo, setembro 20, 2020

Curta da Semana: 'Lady Gaga: 911" - o esotérico airbag mental diante da morte


Basicamente a estética videoclipe consiste na passagem de significante a significantes (alusões, referências etc.), sem apresentar significados, criando jogo para as referências culturais presentes no repertório do espectador. Essa é a chave do sucesso da cultura pop:  a metonímia no lugar do aprofundamento de metáforas. O novo videoclipe de Lady Gaga, “911” (faixa do seu novo álbum “Chromatica”) confirma essa lógica, mas vai além ao aproximar a fórmula metonímica pop da linguagem freudiana dos sonhos e do fenômeno esotérico da “tela mental” criada no momento da morte – o “airbag” emocional criado pela mente como proteção diante do medo da morte, do mergulho no desconhecido. Dos filmes de Jodorowsky (“El Topo” e “A Montanha Sagrada”) o videoclipe pega inúmeros simbolismos cristãos, budistas, zen, magia negra, paganismo etc. E dos filmes “The Wave” e “A Passagem”, o tema do fenômeno da “tela mental” no momento da morte. Criando um final ambíguo: Lady Gaga foi ressuscitada pelos paramédicos ou está morta num limbo entre vida e morte?

quarta-feira, julho 08, 2020

Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi #4 - Sociologia da Comunicação

 

Com esse quarto volume encerramos a série “Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi”, trabalhos de conclusão de curso das disciplinas ministradas por esse editor do “Cinegnose”. Para fechar, quatro vídeos de conclusão produzidos pelos alunos da disciplina Sociologia da Comunicação, do curso de Jornalismo. Walter Lippmann, Jürgen Habermas, Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Theodor Adorno e Max Horkheimer são os autores cujos conceitos são aplicados para analisar o cenário político e cultural atual – do fenômeno do K-Pop à ascensão do bolsonarismo e a crise política e sanitária do coronavírus no Brasil.

domingo, julho 05, 2020

Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi: comunicação, mídia e política #3

 

O Rei do Camarote (alguém aí ainda lembra dele?) ensina os internautas a fazer um meme de sucesso. Enquanto isso, o criador do termo “meme”, o biólogo Richard Dawkins, entrevista o agente funerário do Congo que inspirou a criação do chamado “Meme do Caixão”. Esses são dois vídeos surreais em “deep fake” que dá continuidade à série “Vídeos da Quarentena”, trabalhos de conclusão da disciplina Teorias da Comunicação ministrada por esse editor do Cinegnose. O terceiro volume da série é complementado por uma análise das mudanças da recepção de produtos audiovisuais através das plataformas de streaming, pelo ponto de vista da Teoria Culturológica, do francês Edgar Morin.

sexta-feira, julho 03, 2020

Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi: Comunicação, Mídia e Política #2


A polarização política turbinada pela grande mídia nos últimos anos continua na atual crise da pandemia? Quais as relações semióticas criadas pelas capas de revistas e primeiras páginas de jornais foram usadas para impulsionar essa engenharia de opinião pública? Qual o papel dos memes nos ambientes digitais para reforçar essas operações semióticas? Essas são algumas questões levantadas pelos vídeos do segundo volume da série “Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi”, produzidos pelos alunos do curso de Teorias da Comunicação ministrado por este editor do “Cinegnose”. O segundo volume da série é complementado por vídeos sobre a Escola de Frankfurt e Teoria Hipodérmica aplicado em análises sobre a indústria da música e os telejornais.

quarta-feira, julho 01, 2020

Vídeos da Quarentena da Universidade Anhembi Morumbi: Comunicação, Mídia e Política #1


Essa é a primeira postagem da série “Vídeos da Quarentena” – uma coletânea de vídeos produzidos pelos alunos da Universidade Anhembi Morumbi na disciplina Teorias da Comunicação, ministrada por este editor do Cinegnose. Fizeram parte dos trabalhos de conclusão da disciplina nos quais os grupos se concentraram em estudos de casos para aplicar conceitos de diversas teorias da história das pesquisas em comunicação – teorias clássicas e atuais, como Media Life e Memética. Um semestre inédito no qual aulas on line substituíram as presenciais por conta da pandemia e quarentena. Um desafio para o trabalho em equipe que envolve as produções de natureza audiovisual. Neste primeiro volume da série, o cinema entre guerras; Media Life e redes sociais; fake news; programa Fantástico; reality shows e Agenda Setting; e as conflituosas relações entre o grupo Racionais MC’s e a grande mídia.

terça-feira, maio 12, 2020

Curta da Semana: "Quarantine Dog Good Boy" - no confinamento os pets são nossos espelhos


Um curta produzido na quarentena e vencedor do festival on line nos EUA chamado “Filmes Sem Precedentes”. “Quarantine Dog Good Boy” é um curta estranho, bizarro e irônico – a relação com os pets nesse momento de confinamento e isolamento social: para muitos, eles se tornam a companhia constante que compensa a solidão. Mas, como será o ponto de vista do cão ao ver a rotina do entorno mudar e sentir o medo e ansiedade em seus donos? Um curta irônico, porque mergulha na psicologia humana do relacionamento com nossos animais de estimação: como são humanizados como fossem espelhos das mazelas humanas. Porém, eles podem perigosamente refletir de volta o demasiado humano.

quarta-feira, abril 22, 2020

Curta da Semana: "Apocalypse Norway": o vírus nos expulsará desse mundo


Continuamente, desde o pós-guerra no século XX, o mundo flerta com o apocalipse: a Guerra Fria e o holocausto nuclear, o crash tecnológico, o terrorismo e, agora, o apocalipse viral. Inadvertidamente, o curta-metragem norueguês Apocalypse Norway (2020) do cineasta Jakob Rørvik acabou se sintonizado com o atual cenário da pandemia – o filme deveria estrear em festivais nesse ano, não fosse o COVID-19. Um curta sobre um grupo de adolescentes em férias, escondido em uma área costeira remota da Noruega numa casa enorme quando um vírus apocalíptico domina o mundo e chega no coração da Europa. Aparentemente seguros, assistem a tudo pela TV enquanto vivem suas vidas nas mídias sociais. Mas o mal sorrateiramente invadirá aquele paraíso. Desconstruindo a cena pós-moderna de uma sociedade jovem e tecnológica marcada pelo niilismo e hedonismo. Estrangeiros em seu próprio mundo, em um planeta que nos expulsará.

sábado, abril 11, 2020

Curta da Semana: "The Bumbry Encounter" - Ufologia e tensão racial


O Caso Hill é um marco na Ufologia e um paradigma para todas as narrativas de abduções: um casal inter-racial em 1961 teria sido abduzido por aliens em uma estrada noturna. Num contexto da paranoia da Guerra Fria e o crescimento dos conflitos raciais nos EUA, o caso teve diversas interpretações sócio-psicológicas, lembrando a abordagem de Carl G. Jung sobre o fenômeno UFO: num mundo à beira do apocalipse, sempre buscamos a salvação no céu. O curta “The Bumbry Encounter” (2019) usa o elemento da ficção científica como veículo para discutir o tema – na verdade, somos todos abduzidos. Mas não por Ets, mas pelos próprios conflitos e tensões produzidos pela sociedade.

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

Curta da Semana: "World of Tomorrow" - clonagem, memória e esquecimento


Em um futuro próximo uma criança atende um chamado em um videofone. É ela própria, 227 anos no futuro. Na verdade, um clone seu na terceira geração. Na busca da imortalidade, uma elite abastada passou a clonar corpos e memórias. Cópias de cópias, copiando-se a si mesmas. Mas alguma coisa se perde na sucessão de gerações de clones – eles nunca são autênticos: o futuro é tomado por uma nostalgia daquilo que não se consegue mais lembrar. Indicado ao Oscar de melhor curta de animação em 2016, “World of Tomorrow” é uma narrativa criativa comovente e engraçada de um tema melancólico. Na busca da imortalidade, a tecnologia tenta traduzir digitalmente aquilo que nos torna humanos: as memórias. Assim como a arte perde a “aura” na reprodutibilidade técnica, também corpos e memórias clonadas perderão algo que jamais conseguiremos lembrar. 

domingo, dezembro 01, 2019

Curta da Semana: "Black Friday": como salvar-se do Marketing do Apocalipse?


Amélie é uma ex-funcionária de uma rede de varejo chamada New Price. Ela é assombrada pelas lembranças da última Black Friday, quando retorna à cena traumática. Esse é o curta-metragem canadense “Black Friday” (2018), inspirado na história de um funcionário da rede Wal-Mart que morreu pisoteado em 2008 na abertura das portas de uma loja na Black Friday. Do discurso motivacional do gerente da loja aos funcionários análogo a um culto religioso, à corrida selvagem de consumidores invadindo a loja como zumbis no filme “Amanhecer dos Mortos”, tudo nos conduz a uma estranha relação com as mercadorias no Capitalismo pós-crash de 1929 – a salvação do sistema de produção-consumo através de uma espécie de “Marketing do Apocalipse”: todo dia é o última dia para a Salvação. Há muito o consumo abandonou o valor de uso para se esgueirar pelo imaginário da moralidade e da religião. Se o consumo em si é moralmente bom, então temos que consumir sua inutilidade como forma de merecermos a aprovação “divina”. É sincrônico que a Black Friday ocorra no mesmo mês do histórico crash da Bolsa de Nova York e um dia após o feriado religioso de Ação de Graças.

quarta-feira, novembro 20, 2019

Curta da Semana: "Animal Behaviour" - animais humanizados, sociedade animalizada


Estamos em mais uma sessão semanal de psicoterapia. Só que ao invés de humanos, encontramos animais atormentados por obsessões, compulsões, culpa, agressividade e ansiedade. E o terapeuta é o Dr. Clement, um cão que conseguiu sublimar muitos impulsos instintivos como, por exemplo, cheirar o traseiro de outros cachorros. Até que chega um novo paciente: um macaco agressivo e antissocial que irá inverter todos os papéis daquela sessão. Esse é o curta de animação, indicado ao Oscar desse ano, “Animal Behaviour” (2018) – uma narrativa em tom adulto de uma fórmula que o selo Disney/Pixar explora costumeiramente em suas animações: a antropomorfização dos animais. Porém aqui os animais funcionam como o nosso reflexo invertido: enquanto humanizamos os animais, animalizamos os distúrbios psíquicos na sociedade.

domingo, outubro 20, 2019

Curta da Semana: "Garden Party" - Sapos, semiótica e humor negro


Um sapo pula em uma piscina cheia de detritos. Logo se juntam outros sapos que exploram uma mansão aparentemente abandonada. Enquanto acompanhamos os batráquios curiosos explorando a cozinha, quartos e jardim, percebemos que há algo mais: por todos os lados há indícios de que algo sinistro aconteceu ali. O curta de animação indicado ao Oscar de 2018, “Garden Party” (2017) foi um trabalho de conclusão de curso de uma escola de cinema francesa. Produção surpreendente: hilária e com refinado humor negro – incita o raciocínio semiótico indutivo do espectador além do argumento se inspirar na simbologia arquetípica dos sapos: a grande cadeia simbólica água-noite.

domingo, setembro 22, 2019

Curta da Semana: "Rust in Peace" - perto de Deus, rejeitado por Ele

Um robô velho e enferrujado desperta em um depósito de ferro-velho. Ele se levanta e vai em direção a um deserto para dar início a sua caminhada solitária em busca do seu criador. O curta metragem “Rust in Peace” (2018) adiciona um novo ângulo ao tema clássico das relações disfuncionais entre criador e criatura. Robôs, androides ou replicantes são revivals modernos do impulso humano da “teurgia”: tentar aproximar-se de Deus ao criar vida, assim como a Alquimia e a Cabala idealizavam seres como o “Homúnculo” e o “Golem”. Mas desde Frankenstein de Mary Shelley, o homem decepcionou-se com o seu criador, ao descobrir que, na verdade, ele é um Demiurgo que nos rejeita. Assim como o pobre robô de “Rust in Peace” descobrirá na sua jornada solitária: ele revive a própria condição humana gnóstica.

domingo, junho 30, 2019

Curta da Semana: "Dolls Don't Cry" - Somos fantoches em um mundo simulado


Premiado por melhor roteiro no Festival de Animação de Ottawa, o curta-metragem em “stop-motion” canadense “Dolls Don’t Cry” (Toutes Les Poupées Ne Pleurent Pas, 2017) nos apresenta a clássica cosmologia gnóstica ao convergir duas teses: o esotérico fascínio humano por fantoches, bonecos, robôs e autômatos e a hipótese do Universo como uma gigantesca simulação. Desde a antiga Alquimia, passando pelo cinema e animação, até chegarmos aos games de computador o homem simula a criação de mundos. Como se tentasse imitar Deus, simulando vidas. Por que esse fascínio? Será que tentamos nos tornar sencientes dentro de um Universo simulado no qual somos prisioneiros?

domingo, abril 21, 2019

Curta da Semana: "Singularity Stories Vol.1" - Inteligência Artificial não gosta de Bruno Mars

Collen confortavelmente senta no sofá da sala de estar. E ordena ao assistente de inteligência artificial, Alexa, a tocar uma música de Bruno Mars. Mas Alexa dispara que não vai tocar, porque Bruno Mars “é um saco!”. Collen ainda não sabe, mas está testemunhando um evento histórico: há poucos minutos, uma confluência aleatória de dados proveniente de três países através da Internet fez emergir uma singularidade tecnológica – uma super-inteligência artificial global, senciente e autônoma... e que não gosta do músico, produtor e cantor americano Bruno Mars. Esse é o curta “Singularity Stories Vol.1”, de uma série prometida pela produtora CineCisme de contos sobre singularidades tecnológicas – élan místico-religioso que atualmente anima os engenheiros computacionais do Vale do Silício.

quarta-feira, abril 10, 2019

Curta da Semana: "Alternative Math" - a ameaça do anti-intelectualismo e irracionalismo


2 + 2 é igual a 4. Essa é a verdade do raciocínio lógica da Matemática. Uma verdade factual. Ou será que não? Por que não, igual a 22? Afinal, não vivemos numa sociedade de liberdade de opinião? Então a Matemática e seus professores são espertalhões autoritários querendo impor seus pontos de vista? Eles estão por trás de uma conspiração para tolher a liberdade cognitiva dos estudantes? Esse é o tema do divertido curta “Alternative Math” ("Matemática Alternativa", 2018), uma comédia com diversas camadas interpretativas, mas que também tem um tom assustador sobre o mundo potencialmente terrível que está à nossa espreita: o ressentimento que produz a onda anti-intelectualismo e irracionalismo da pós-verdade – nas mídias sociais, realidades paralelas e bizarras teorias conspiratórias ganham o mesmo status de verdades científicas sob o álibi da liberdade de opinião. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, março 16, 2019

Massacre de Suzano: guerra híbrida prepara seu exército de zumbis


“Não tinha percebido, agora é tarde demais. A campanha deles começou há 20 anos... Um lento conta-gotas de medo e ódio...”. Talvez essa linha de diálogo do filme “Brexit” (narrando os bastidores de uma campanha política que disseminou polarização com todas as armas de uma guerra híbrida) seja uma das pistas para um início de discussão em torno do massacre na escola pública de Suzano/SP. Mais uma tragédia numa sucessão tão sincrônica de eventos que demonstra o quanto a psico-esfera nacional foi envenenada. Da recorrência de simbolismos dos sonhos nos períodos que antecederam guerras, constatada por Carl Jung na Alemanha, às “coincidências significativas” que acompanham os recentes massacres, ataques e atentados no Brasil, tudo parece comprovar uma dominância no inconsciente coletivo de “pontos nodais” de energia psíquica que influenciam ações de indivíduos. Há uma conexão entre a hipótese sincromística e Guerra Híbrida? Se existir a conexão, essa guerra semiótica teria um propósito mais profundo: a formação de um verdadeiro exército de zumbis para atuar em dois fronts: tecnologia da informação e disseminação do medo na sociedade.

quarta-feira, março 06, 2019

Curta da Semana: "Animals" - Smartphone e solidão nos tornam selvagens


Um dia como outro qualquer de pessoas comuns viajando em um trem. Cada um perdido em seus próprios pensamentos e preocupações. Até que surge o inesperado: a porta do vagão não abre, e o trem permanece em movimento para as próximas estações.  Aquelas nove pessoas começarão a fazer uma rápida descida para o caos, a irracionalidade e, por fim, a selvageria – tudo registrado por um smartphone de um passageiro que apenas se preocupa em postar o vídeo em redes sociais, ao invés de tomar uma atitude de ajuda. Esse é o curta-metragem “Animals”(2019), trabalho de conclusão do “Animation Workshop” do animador dinamarquês Tue Sanggaard. Seis minutos que resumem as principais teses clássicas da psicologia social sobre o comportamento do homem na multidão. Porém, no século XXI, turbinadas pelas novas tecnologias.

segunda-feira, janeiro 28, 2019

Curta da Semana: "Fake News Fairytale" - quando notícias falsas viram contos de fadas

“Políticos são como mágicos, acenando com as mãos, fingindo que o truque está acontecendo em outro lugar. Enquanto isso, eles nos distraem, escondendo aquilo que está acontecendo diante de nossos olhos.” Essa é a conclusão de “Fake News Fairytale” (2018), um curta sobre como se articulam as noções de verdade, ficção, realidade e ilusão nas fake news, abordadas pela diretora Kate Stonehill como narrativas análogas a contos de fadas. Em um divertido documentário que simula ser um “mockumentary”, baseia-se num caso real: a repentina fama que a pequena cidade de Veles, no interior da Macedônica, ganhou como o centro da “corrida do ouro” das fake news: adolescentes que ganharam muito dinheiro com anúncios em website que publicavam notícias falsas repercutidas nas redes sociais a partir de perfis falsos. E ajudando a vitória de Trump nos EUA. Sem emprego ou futuro, jovens viram a chance de ganhar dinheiro rápido. Essa é a matéria-prima da atual ultradireita nacionalista. 

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